Laerte Braga *
30 abril 2008 / Adital - Agência Frei tito para a América Latina
"Correndo o risco de parecer ridículo deixe-me dizer-lhes que o verdadeiro revolucionário é movido por sentimentos de amor"
Não se trata de imaginar que as tropas vão sair às ruas prendendo pessoas e depondo um governo legítimo como aconteceu em 1964, quando a direita das Forças Armadas esmagou a esquerda, tomou o poder e implantou uma ditadura sanguinária, montada na tortura, no assassinato de adversários e na absoluta subserviência aos interesses do grande empresariado nacional e internacional.
Foi esse grande empresariado, que financiou instrumentos de repressão como a OPERAÇÃO BANDEIRANTES (OBAN) e a construção do famigerado DOI/CODI que juntou todos os setores e grupos dos chamados serviços sujos da ditadura e acabou desembocando na Operação Condor, uma espécie de holding do terror em toda a América do Sul.
Líderes nacionais que se opunham às ditaduras em seus países foram assassinados no curso da Operação, criada para esse fim. Foi um desses crimes, o que matou Orlando Letelier, ex-chanceler do governo Allende assassinado em New York por agentes da DINA (Polícia Secreta chilena) que começou a levantar o véu do terror implantado nesta parte do mundo pelos militares. Até hoje não se pode afirmar com convicção que lideranças brasileiras como Juscelino e Jango não tenham sido mortos em operações dentro desse quadro.
Esse tipo de prática retornou com toda a força no governo do terrorista norte-americano George Bush. Uma lei especial autoriza o governo dos Estados Unidos através dos chamados órgãos de segurança, a prender, manter incomunicável e a torturar em benefício da segurança do país, homens e mulheres em qualquer parte do mundo. Agentes da CIA (o serviço secreto dos EUA) respondem a processos por crimes de seqüestro em países europeus como a Alemanha e a Itália.
Campos de concentração foram espalhados pelo mundo e o exemplo de uma das prisões no Iraque, onde presos muçulmanos eram submetidos a toda a sorte de humilhações chocou o mundo não faz muito tempo.
Guantánamo é um exemplo. Uma parte ocupada do território de Cuba, onde os EUA guardam prisioneiros que consideram suspeitos de ações contrárias ao país ou países que ofereçam riscos, na ótica deles, aos seus interesses.
O fim da União Soviética não significou o fim do pesadelo militarista e armamentista. Os EUA continuam a desenvolver tecnologias de armas de destruição em massa, construíram um escudo de proteção antimísseis e ocupam através de bases ou invasões militares (Iraque, Afeganistão) todos os espaços possíveis e considerados necessários para a consolidação do império terrorista de Washington.
O maior campo de provas desse terror hoje é o Oriente Médio e o braço terrorista norte-americano ali é o Estado de Israel, um enclave do IV Reich. As humilhações, a violência, a barbárie semelhante à dos campos de concentração da II Grande Guerra que são impostas aos palestinos não encontram paralelo na história a não ser na horda de bárbaros que se desenrola ao longo do processo dito civilizatório, passar por Hitler e encontra seu ápice no terror do período Bush.
A América do Sul é um dos alvos primordiais do terrorismo norte-americano neste momento. As sucessivas derrotas eleitorais em quase todos os países dessa parte do mundo e as profundas mudanças propostas por governos como os de Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Corrêa (Equador) e agora a vitória do ex-bispo Fernando Lugo no Paraguai, até então uma grande fazenda norte-americana e brasileira por conta da corrupção dos governos do partido Colorado, acenderam a luz vermelha em Washington.
A rigor os norte-americanos dispõem de duas bases (colônias) na América do Sul. O governo do narcotraficante Álvaro Uribe e o de Alan Garcia, no Peru.
Países como o Brasil e a Argentina, os dois maiores da região, têm governos independentes e o Chile alinha-se no geral com posturas de integração sul-americana, ao contrário da proposta norte-americana (ALCA) de integração de todas as Américas na visão de Washington. Os ESTADOS UNIDOS e um monte de protetorados.
À semelhança com o que acontece hoje ao México, um depósito de lixo dos norte-americanos. Na América Central a presença de Daniel Ortega na Nicarágua e a transição cubana para Raul Castro mantêm a perspectiva de luta popular nos outros países. O Haiti hoje é um país ocupado militarmente pelos EUA que contam com apoio da polícia brasileira que alguns insistentes teimam chamar de forças armadas.
O recente ato de rebeldia e insubordinação do general Augusto Heleno, transformado em comandante militar dos EUA na Amazônia mostra que a estratégia dos EUA passa por acentuar o processo de cooptação de militares dos países alvos, sempre ligando a seta para um lado (nacionalismo, soberania nacional, integridade do território nacional e depois entrega absoluta).
Foi assim no Iraque, foi assim quando atacaram o acampamento do chanceler Raúl Reyes (das FARCS-EP) no Equador. A guarda republicana de Saddam e os principais generais do exército terminaram cooptados e hoje ocupam postos chaves no governo daquele país, como o exército equatoriano omitiu-se no ataque terrorista contra o país a partir da Colômbia.
No caso específico do Brasil, a preocupação dos EUA se volta para as eleições de 2010, pelo menos até o momento existe a necessidade de manter o modelo de farsa democrática ("o direito do oprimido escolher o opressor") e a tranqüilidade só não é total pelo risco de um terceiro mandato para Lula desejado hoje pela maioria dos brasileiros (sem juízo de mérito).
Qualquer um dos pré-candidatos até agora citados, exceto a ministra Dilma Roussef, que venha a ser eleito é parte do esquema norte-americano, sobretudo o paulista José Serra.
As ações golpistas contra o governo Chávez são visíveis e o golpe de 2002 terminou fracassado por conta da reação popular. No Equador, logo após o ataque traiçoeiro da Colômbia, o presidente Corrêa começou a mudar o perfil das forças armadas, o que implica em riscos de golpe, lógico.
Na Bolívia as elites insistem em promover um referendo inconstitucional e condenado pela ONU e pela OEA, para constituírem um país à parte, onde possam abrigar os interesses e os "negócios" das classes dominantes.
Classes dominantes. Palavra chave nessa história. Militares são apenas adereços com bordunas das mais variadas espécies e que se escoimam na palavra ordem como pressuposto de liberdade, democracia, todo o dicionário de farsas montadas pelos EUA ao longo da história das Américas.
O mundo globalitarizado por conta do imenso poder do império, mesmo quando vive momentos difíceis como os riscos de uma grande recessão hoje, se curva ao poder destruidor das bombas e escudos militares de Washington, em bases espalhadas por todos os cantos.
A quarta frota norte-americana, extinta quando os militares controlavam os países da América do Sul (bastava gritar sentido que se enquadravam) está sendo reconstruída como instrumento de ação militar em projetos que não excluem a criação de um novo Oriente Médio, aqui a partir do estado narcotraficante da Colômbia em ações contra países e governos que teimam em se manter fora da órbita dos senhores do mundo.
No golpe de 1964 a quarta frota estava em águas territoriais brasileiras para o caso de algum contratempo, o fato foi revelado publicamente pelo jornalista brasileiro Marcos Sá Corrêa, no JORNAL DO BRASIL, quando liberados os documentos da época nos EUA.
O general Heleno e seu suposto nacionalismo é mero agente norte-americano na Amazônia apesar de sinalizar e falar noutra direção. É a tática deles, o jeito deles ludibriarem e enganarem e hoje têm um poder fantástico, o da mídia, totalmente sob controle do império. O governo FHC no Brasil (Meném na Argentina, Fujimori no Peru, Carlo André Perez na Venezuela) desmontaram as efetivas soberanias e integridades nacionais. A exceção do Peru sob um governo policialesco e corrupto, o Brasil e a Venezuela (sobretudo esse país), reagem ao processo de recolonização ampliado a partir das vitórias de Morales, Corrêa, Lugo, Tabaré Vasquez e os governos independentes de Cristina Kirchner e Bachelet na Argentina e Chile, respectivamente.
O caso do Brasil é fácil de perceber. Estamos prestes a nos transformar em um dos cinco maiores produtores de petróleo do mundo, sem sermos mais os donos desse petróleo. O fim do monopólio no governo FHC abriu as portas para a privatização disfarçada da PETROBRAS através da venda da maioria das ações preferenciais. Somos donos nominalmente.
A garantia das terras amazônicas para o latifúndio é o ponto de partida da fala do norte-americano Augusto Heleno. A VALE, que desmembrou parte do território nacional não é problema, faz parte da tal soberania nacional deles. Em Washington.
O processo de avanço dos EUA sobre a América do Sul acentua-se num momento em que aquele país começa a viver um pesadelo e se impõe militarmente ao mundo como forma de manter preservado o império construído na exploração de povos da Ásia, da África e das Américas. A primeira comissão que cuidou disso e montou o golpe de 1964 aqui e os golpes em outros países da região, chamou-se AAA - Tríplice A, Tri-lateral, ou seja exatamente Ásia, América e África.
A África é um território devastado pela fome deliberadamente pelas políticas colonizadoras dos EUA e a ação de governos corruptos e submissos a Washington. A Ásia é um o que sempre foi, é só lembrar a derrota no Vietnã, um problema de dimensões maiores, tendo em vista a China e a Índia e o resto da América começa a ser atacado, com o controle da Colômbia e agora uma nova base no Peru.
Transformar essa parte do mundo num Oriente Médio não vai criar dramas de consciência para os norte-americanos. A história do país se fez com saques (Califórnia, Texas, Havaí, Porto Rico), intervenções constantes na América Central e regimes ditatoriais ou não, dóceis a eles e seus interesses.
Os contratempos resolvem com discurso e práticas como a do general Augusto Heleno, como lembrado por alguns "Heleno de Tróia". O que vai falar de soberania nacional para militares sobreviventes do terror de 1964 e empresários da FIESP/DASLU, enclave internacional em São Paulo.
Um relatório divulgado hoje mostra que o cultivo de soja transgênica avançou 20% na Amazônia e é isso que o general defende, não é o Brasil e os interesses nacionais não.
1964 II, a volta, é o mesmo terror só que com roupagem, atores, diretor diferentes, um remaker em condições de tempo, espaço diversos mas os mesmos propósitos e objetivos.
O general até agora é o astro desse filme de terror. E fraqueza do governo Lula, já deveria tê-lo exonerado para garantir exatamente a soberania e a integridade do território nacional.
* Jornalista
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=32806
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