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Adital - VI Encontro Mineiro dos Padres na Política - 13 e 14/05/2008
"Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados."
Nos dias 13 e 14 de maio de 2008, na Igreja do Carmo, em Belo Horizonte, aconteceu o VI ENCONTRO MINEIRO DOS PADRES NA POLÍTICA PARTIDÁRIA, com a participação de 20 padres e alguns leigos/as.
Nas últimas eleições, mais de cem padres participaram das disputas. Em Minas Gerais, nove deles foram eleitos prefeitos. E alguns foram eleitos vereadores e deputado. Outros se candidataram à (re)eleição e perderam. Uns fizeram campanha mesmo sem se candidatar a nenhum cargo eletivo.
Os bispos do Brasil, obedecendo ao Vaticano, estão tendo dificuldade em compreender a participação de padres na política partidária. Alguns deles já disseram que o padre que se candidatar será suspenso do ministério sacerdotal durante a campanha e, se eleito, durante o exercício do mandato. Isso revela um fechamento da Igreja Instituição. Suspender o ministério sacerdotal de padres que disputam eleições, mas tolerar políticos profissionais que usam as comunidades eclesiais para seduzir o povo é contraditório.
Sob a inspiração do Vaticano II, das Comunidades Eclesiais de Base, da Opção pelos Pobres e da Teologia da Libertação, muitos padres abraçaram a evangelização com inserção no mundo da Política. A história mostra a participação de inúmeros padres na vida política do Brasil: Pe. Cícero, Pe. Ibiapina, Frei Caneca, Pe. Lage (em Belo Horizonte), Hugo Paiva (no RJ) etc. Muitos sacerdotes foram perseguidos por denunciar tantas injustiças contra as pessoas e muitos foram martirizados. Só para citar alguns: Pe. Ezequiel Ramin, Pe. Gabriel, Pe. Josimo, Dom Oscar Romero Os anais da história política dos pequenos municípios mostram padres que participaram ativamente na política partidária com mandatos no executivo e legislativo e que contribuíram muito para a melhoria de vida do povo. Até um bispo salesiano, Dom Aquino Correia, chegou a ser governador do Estado do Mato Grosso.
Uma espiritualidade bíblica libertadora mostra-nos a íntima relação existente entre fé e política. Não dá para ficar de braços cruzados diante da injustiça estrutural que está triturando a vida de grande parte da população. O Papa Paulo VI recordou-nos que fazer política é a forma mais nobre de amar o próximo. O Documento de Aparecida também insiste muito na participação política dos cristãos, entre os quais estão os padres.
O povo, cansado de políticos clientelistas e assistencialistas, quando percebe que um padre está fazendo um bom trabalho à frente de uma igreja, animando as comunidades, estimulando a participação popular, consolando os aflitos, mas também denunciando injustiças, começa a pedir ao padre que assuma o governo da cidade. Assim, em um mutirão de cidadania, o povo desafia o poder econômico e, com consciência política, elege padres que já se revelaram bons pastores de comunidades cristãs. Após serem eleitos, alguns desses padres sofrem perseguições de líderes da própria Igreja Instituição, na pessoa do bispo, ou superiores e dos próprios colegas de sacerdócio que não conseguem entender que é possível trabalhar a dimensão político-partidária como instrumento de construção de vida e liberdade para todos e tudo.
Há padres que são advogados, diretores de escola, professores, operários, .... Por que um padre não pode assumir um cargo político? "Divide a comunidade", dizem muitos. Engano! Muitas vezes a unidade preconizada é só espiritual e aparente, não é uma unidade real e concreta, pois continuam comungando na mesa da eucaristia pessoas que são solidárias aos oprimidos, ao lado de pessoas que, no dia-a-dia, estão em estruturas de opressão. Se o padre ou o pastor se posiciona politicamente, corre o risco de perder alguns fiéis, mas a comunidade ganhará em qualidade. Explicita as divisões internas na comunidade e faz vir à tona as opções que negam a postura evangélica. O ministério sacerdotal não se restringe ao âmbito interno da Igreja, mas, em regime de exceção, pode incluir a administração pública, no exercício de cargos administrativos.
É questionável o princípio ético que diz: "Para não dividir a comunidade, padre não deve se candidatar, não deve indicar candidatos, não deve se posicionar politicamente".
Considerando que a Mídia está nas mãos de oligarquias econômicas e que mais manipula do que informa, o compromisso dos padres políticos contribui para ajudar o povo a discernir qual projeto apoiar e em quem votar. A grande parte dos melhores candidatos é, geralmente, os que têm menor poder aquisitivo para investir em campanha eleitoral. Como cidadãos temos responsabilidades, direitos e deveres. Política é osso duro de roer, se não roermos esse osso, seremos roídos pelos corruptos da política profissional.
Religião e Política não se separam. O nosso mestre Jesus de Nazaré foi condenado à pena de morte por um complô dos poderes político-econômico e religioso. Não participar da Política, omitir-se, é a pior forma de fazer Política. A sabedoria popular diz: "A pior política é a política dos braços cruzados". Política é uma das melhores formas de amar o próximo, pois encaminha a resolução dos problemas a partir da raiz.
Se os padres que são realmente comprometidos com os processos de transformação social demonstrarem sua identidade política, sugerindo nomes para as eleições, ou se candidatando, contribuem mais com o projeto de Deus, via qualidade de vida das pessoas. Grande parte dos eleitos na democracia capitalista compra o direito de ser representante do povo - não são seus legítimos representantes.
A unidade verdadeira é a construída com base em uma grande diversidade, é fruto da superação de conflitos e não do escamoteamento de tensões. Respeitar o outro como semelhante e parceiro é sinal de grandeza. O uniformismo empobrece. Se como regra não dá para defender que a maioria dos padres deva se candidatar, como exceção, acreditamos ser fundamental respeitar o direito de uma minoria de padres que se sentem vocacionados, assumindo ou não mandatos políticos, para participar ativamente da política partidária. .
Não é verdade também dizer que "padre que assume mandato político está desistindo do sacerdócio". Muitos padres, após assumirem mandatos políticos, continuam amando o ministério sacerdotal e dando um bonito testemunho de compromisso ético no meio da podridão da política partidária. Sentem que, com uma missão política, o desempenho do sacerdócio é qualificado. Muitas vezes a desistência ocorre por falta de apoio.
Reconhecemos o testemunho profético de Dom Fernando Lugo que abriu mão do ministério episcopal e aceitou ser eleito presidente do Paraguai. Com Dom Demétrio Valentini dizemos: "O significado desta eleição não se limita ao fato raro e singular de um bispo concorrer à presidência de república e ser eleito por expressiva maioria. Estamos diante de um dos verdadeiros "sinais dos tempos", que precisa ser bem interpretado, pois aponta para muitas direções. A eleição de Fernando Lugo significa a afirmação da identidade de um povo, desejoso de assumir sua história, e ansioso por ver respeitada sua dignidade e sua capacidade de participar, em pé de igualdade, na construção da solidariedade latino-americana. A eleição de um bispo católico como presidente da república traz consigo uma clara proposta patriótica, ética e política. No seu novo presidente, o povo paraguaio quer expressar sua capacidade de construir uma nação baseada em valores morais que servem de fundamento, tanto para a convivência interna como para a externa. Posso imaginar o que se passa agora na cabeça de Fernando Lugo, recordando os encontros que fazíamos como bispos do CELAM, sonhando com a integração fraterna dos povos latino-americanos. Ele carregava uma inquietação política, que o levou a renunciar à própria diocese, para colaborar na caminhada do seu povo como cidadão comum. De repente, o povo paraguaio lhe confiou a enorme tarefa de resgatar a dignidade do seu país, sacudindo equívocos internos e postulando justiça e respeito internacional. Lugo, vá em frente! Estamos torcendo por você. Seu nome expressa urgência. Lugo e "logo" carregam a mesma insistência. Pode contar com nosso apoio. Que Deus o ajude a cumprir esta nova missão que a Providência lhe confiou!"
Repudiamos, com indignação, a postura de quem pretende ser dono das pessoas e do poder e faz o que quer sem pelo menos escutar o outro. O problema não é padres participarem da Política. Problema é muitos padres abandonarem o mundo da Fé-Política.
O nosso MANIFESTO é em defesa de todos que assumiram de verdade o Evangelho de Jesus Cristo em sua vida, todos os que são capazes de se indignar contra qualquer tipo de injustiça. Provavelmente, o engajamento de padres na Política e na política partidária, questão controvertida para muitos setores eclesiásticos, expresse o que os evangelhos fizeram questão de registrar sobre o testemunho de Jesus ameaçado de morte (e de ressurreição): "Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas a divisão". (Mat 10,34; Lc 12,51). O Galileu enfrentou os conflitos, tomou partido do lado dos oprimidos e, por isso, foi condenado à pena de morte. Não se contentou com uma paz de cemitério, nem com uma unidade aparente.
*Assinam pelo Grupo Mineiro de Padres na Política:
Padre Henrique de Moura, de Belo Horizonte/MG, e-mail: hmourafaria@uai.com.br
Frei Gilvander Luís Moreira, de Belo Horizonte, e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br
Padre José Geraldo de Melo, de Itabira/MG, e-mail: panosa@terra.com.br
Padre Dimas de Paulo Ferio, Mogi das Cruzes/SP, e-mail: padredimas@terra.com.br
Padre Roberto Moreira, de St. Antônio da Vargem Alegre/MG, e-mail: silvavkl@oi.com.br
Padre Alírio Bervian, Altamira/PA, tel.: (93) 3515-1761
Padre João Carlos Siqueira, dep. estadual/PT de MG, e-mail: dep.padre.joao@almg.gov.br
Padre José Geraldo Magela Vidal, de Guaraciaba/MG, tel.: (31) 3893-5128
Dílson Alves Paiva, e-mail: dilsonpaiva@gmail.com.br
Padre Adelar Pedro de David, (São João do Meriti - RJ), e-mail: padreadelar@ig.com.br
Padre Ernesto de Freitas Barcelos, de Riacho dos Machados/MG, 038 3823 1203
Padre Geraldo João Lima, de Nova Iguaçu/RJ, e-mail: geraldojoaolima@ig.com.br
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