Lisboa, 22 maio 2008 - O ex-presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano considerou Quarta-feira que uma das formas de o governo sul-africano combater a onda de violência contra os imigrantes estrangeiros é "persistir na educação" e encontrar soluções para os problemas sociais que afectam o país.
"Tem de haver uma persistência na educação das pessoas e uma busca de solução para os problemas sociais que fazem com que as pessoas sejam delinquentes", advogou o antigo estadista.
"A criminalidade toma um outro carácter quando recai sobre estrangeiros", afirmou Joaquim Chissano, em declarações a partir da capital moçambicana.
O antigo presidente moçambicano ministra actualmente uma cátedra sobre "Gestão e Resolução de Conflitos" na Universidade Politécnica de Moçambique.
No seu entender, a criminalidade na África do Sul "começou entre os próprios sul-africanos". Exemplificou com os ataques a escolas e até a um embaixador sul-africano que foi emboscado e forçado a seguir até à sua residência para ser roubado.
"As ondas de ataques inundam de tempos a tempos. Há alturas em que é contra os estrangeiros, numa expressão de xenofobia mas, às vezes, há ataques e emboscadas contra os próprios sul-africanos", vincou.
Na opinião do antigo estadista, essa violência que já vitimou mais de duas dezenas de imigrantes zimbabweanos e moçambicanos nos últimos tempos, é perpetrada por "um determinado tipo de pessoas" ligadas à delinquência e serve para "amedrontar os estrangeiros" e levá-los a abandonarem o país.
"É talvez uma pressão social da vida", disse Joaquim Chissano acrescentando que um determinado grupo de sul-africanos encontrou como explicação para a sua desgração a existência de "muitos estrangeiros no seu país".
"Esquecem-se que os sul-africanos estão noutros países e não só estão lá só a viver como também a fazer negócios e a explorar a riqueza de outros países - e não há animosidade contra eles", argumentou.
"Agora, na África do Sul, é capaz de haver a impressão que a desgraça é por haver muitos estrangeiros", diz Joaquim Chissano.
"Tentam dessa maneira amedrontar os estrangeiros para saírem, a ver se têm mais espaços na sua economia, nos seus empregos, o que não corresponderá à verdade, pois, no passado, alguns sul-africanos já não se adaptavam a um certo tipo de emprego" e eram os estrangeiros, entre eles os moçambicanos, que ocupavam esses empregos.
"Os malawi e os moçambicanos foram sempre para a África do Sul trabalhar nas minas e nas plantações de tabaco e batatas mas as posições das pessoas com a independência mudaram. Estão a ver a sua pobreza de outra maneira", realçou o ex-presidente.
Questionado sobre o que pensa que o governo sul-africano deve fazer para resolver o problema da violência, designadamente contra os imigrantes, o antigo presidente afirmou: "Não sei o que se pode fazer, não sei o que o governo pode pensar em fazer neste momento".
Contudo, salientou que uma das soluções é apostar mais da educação da população em geral e encontrar soluções para os vários problemas sociais que atingem uma faixa da população sul-africana e para o desemprego.
"Eu não penso que é um assunto tomado mais ou menos de uma maneira global. Olhando para o surto de criminalidade, depois é que se vai ver se é realmente aplicável a um tipo de xenofobia - coisa que é mais fácil de atacar.
"Falta ver todos os sentimentos, os sentimentos de que os estrangeiros lhe estão a tirar o lugar de trabalho", acrescentou.
"É preciso mostrar [aos sul-africanos] que têm lugar para trabalhar e haver mais regras, porque não basta haver moçambicanos ou zimbabweanos lá para tirarem emprego aos sul-africanos, depende de como os sul-africanos se prestam a trabalhar ou a não trabalhar. Há normas de como recrutar mão-de-obra", vincou.
Confrontado com a forma como pode o governo moçambicano colaborar para ajudar a África do Sul a resolver este problema, o antigo presidente disse não ter ainda reflectido sobre o assunto mas lembrou que estes problemas "não são provocados por uma posição estatal".
Sobre a comunidade moçambicana emigrada na África do Sul, Joaquim Chissano considerou: "Trabalham diligentemente, com muita paciência e sem se meterem muito na prática de crimes".
O ex-chefe de Estado lembrou que "há mais de um século que os moçambicanos trabalham nas minas da África do Sul e eram preferidos pelas empresas mineiras, porque trabalhavam com muito rendimento", acontecendo o mesmo noutras actividades profissionais.
Desde a última semana, a cidade de Joanesburgo está a viver momentos de intensa violência, resultante de atitudes xenófobas protagonizadas por sul-africanos contra os imigrantes, a quem acusam de prática de crimes e de contribuírem para o elevado índice de desemprego e de custo de vida naquele país vizinho de Moçambique.
Estes ataques concertados, que culminaram até ao momento na morte de 24 imigrantes, segundo dados das autoridades sul-africanas, têm como principal alvo moçambicanos, zimbabweanos, etíopes, chineses e paquistaneses. (AngolaPress)
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