Boa Vista (RR) - O bispo da Diocese de Roraima, dom Roque Paloschi, e o padre Vanthuy Neto rebatem críticas de que a Igreja Católica manipula os índios na Raposa Serra do Sol
Marco Antônio Soalheiro, enviado especial
14 de Maio de 2008/Agência Brasil http://www.agenciabrasil.gov.br
“Aqui é um massacre. Várias lideranças indígenas já foram assassinadas e tiveram malocas destruídas. E não há um fazendeiro que tenha sido atingido por flecha. Os indígenas não fabricaram bomba, não explodiram nada. O máximo que os índios fizeram foi trancar a estrada, o que os arrozeiros já cansaram de fazer”, afirmou dom Roque Paloschi, bispo da Diocese de Roraima, avisando não se tratar de conflito o impasse entre moradores na Raposa Serra do Sol.
Segundo dom Roque, a igreja é vítima de acusações sem fundamento vindas de parte da sociedade de Roraima : “O crime que cometemos aqui foi ajudar a promover a dignidade dos índios como sujeitos de sua própria história. Isso confessamos perante o Papa e as autoridades brasileiras. Não foi a Igreja que estabeleceu que os índios teriam direito à terra”.
A catedral de Boa Vista está pichada com mensagens ofensivas à igreja e ao governo federal. “Felizes os perseguidos por causa da justiça”, comenta o religioso. Sobre os autores da ação, o bispo desconversa: “Homens ilustres, de alto gabarito, não iriam fazer isso. Deve ser coisa de algum moleque”.
O padre Vanthuy Neto nega que o gado trabalhado pelas comunidades indígenas pertença à igreja. Segundo ele, a igreja ajudou, de fato, os índios a formar o rebanho bovino em movimentos da década de 70, mas com fins solidários: “Uma comunidade recebia 50 vacas e dois touros e depois de um tempo tinha que devolver o mesmo número a outra comunidade”. Outra contribuição da Igreja aos índios, destaca o padre, foi a construção de hospitais e, ainda hoje, a manutenção de postos médicos, em que índias aprendem técnicas de enfermagem.
O posicionamento crítico da Igreja Católica à situação de Raposa Serra do Sol, ressaltou dom Roque, já era expresso por missionários que estiveram na região há quase 100 anos: “Em 1911 eles enviaram carta a ministros denunciando uma relação de exploração e escravidão existente entre fazendeiros e índios”.
As afirmações - vindas de arrozeiros e políticos - de que missionários da Igreja Católica na Raposa Serra do Sol estariam a serviço dos interesses de organizações não-governamentais internacionais são respondidas pelo bispo com um desafio: “Se há um missionário procedendo inadequadamente, isso é crime, deve ser denunciado e não apenas falado em entrevistas. Todas as nossas atividades não se fazem na calada da noite. Tem que agir judicialmente”.
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/05/13/materia.2008-05-13.5391836772/view
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