7 novembro
2014, ODiario.info http://www.odiario.info (Portugal)
No final da
década de 80, com os governos do bloco central e de Cavaco Silva, deu-se um
poderoso movimento de concentração da propriedade, levando a que meia dúzia de
grandes grupos económicos tomasse conta de praticamente tudo o que é mais
influente na imprensa, na rádio e na TV, e depois também na informação online.
Quase tudo mudou. A autonomia jornalística foi drasticamente posta em causa, os
critérios jornalísticos tornaram-se cada vez mais dependentes das «leis do
mercado» e da busca do máximo lucro. Lucro este que, no caso da comunicação
social, é financeiro mas também político e ideológico.
Comunicação social
e recuperação capitalista têm sido duas realidades intimamente ligadas nos
últimos 38 anos. A comunicação social dominante – isto é, a que é dominante na
influência sobre a opinião pública e, simultaneamente, está nas mãos da classe
dominante – tem constituído um apoio decisivo à política de recuperação
capitalista, ao mesmo tempo que a recuperação capitalista se tem acentuado
dentro da própria comunicação social, tanto em termos de natureza da
propriedade e de lógica empresarial como do sentido da informação produzida.
Foi no final da
década de 80, com os governos do bloco central e de Cavaco Silva, que se deu um
poderoso movimento de concentração da propriedade, levando
a que meia dúzia de
grandes grupos económicos tomasse conta de praticamente tudo o que é mais
influente na imprensa, na rádio e na TV, e depois também na informação online.
Tratava-se de
mais um passo na estratégia de destruição das conquistas revolucionárias,
concretizadas no período pós-25 de Abril, quer no plano formal, com o fim da
censura e a conquista da liberdade de imprensa, quer no plano concreto, através
do exercício dessa liberdade.
Para os
jornalistas que o viveram, acabados de sair de décadas de uma informação
amordaçada e uma criatividade reduzida a quase nada, foi um período
inesquecível, empolgante, ainda que cheio de curvas e contracurvas, em sintonia
com a própria dinâmica do processo revolucionário.
Depois quase
tudo mudou. A autonomia jornalística foi drasticamente posta em causa, os
critérios jornalísticos tornaram-se cada vez mais dependentes das «leis do
mercado» e da busca do máximo lucro. Lucro este que, no caso da comunicação
social, é financeiro mas também político e ideológico.
As condições de trabalho dos jornalistas degradaram-se, com o progressivo aumento da precariedade, dos despedimentos, do desrespeito pela legislação laboral, e também de políticas editoriais condicionadas aos interesses dos patrões e dos partidos que com eles se identificam sob o ponto de vista de classe.
As condições de trabalho dos jornalistas degradaram-se, com o progressivo aumento da precariedade, dos despedimentos, do desrespeito pela legislação laboral, e também de políticas editoriais condicionadas aos interesses dos patrões e dos partidos que com eles se identificam sob o ponto de vista de classe.
O pluralismo diminuiu drasticamente. Nos finais dos anos 80, no que se refere a diários e semanários, existiam O Dia, O País, Tempo, Independente, Correio da Manhã, A Capital, Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Diário Popular, Expresso, O Jornal, Diário de Lisboa, República e o diário.
Compare-se este panorama com o que temos hoje e facilmente concluiremos até que ponto a diversidade da informação e da opinião foi afectada, com efeitos devastadores à esquerda do espectro político-ideológico. O tom mais «sério» de uns e o mais «popular» de outros não disfarçam, nas questões de fundo, uma frustrante mas significativa uniformidade.
Denúncia e
combate
Esta situação,
aqui sumariamente enunciada, implica hoje, mais do que nunca, denunciar e
combater:
– Uma informação contaminada por discriminações, desvirtuamentos, caricaturas e silenciamentos, dos quais as vítimas são, nomeadamente, as forças que lutam por políticas verdadeiramente patrióticas e de esquerda, desde logo o PCP; o movimento sindical que intransigentemente se identifica com os interesses dos trabalhadores, sem oportunismos nem compromissos espúrios, desde logo a CGTP; o movimento cooperativo, associativo e popular, empenhado na promoção da cultura e do desporto, da solidariedade social e da educação, que em todo o País mobiliza muitas centenas de milhares de cidadãos e que é praticamente ignorado pelos principais media.
– Programações
ditas de entretenimento, por vezes de nível verdadeiramente degradante, com
efeitos claramente alienatórios, ao mesmo tempo que, por exemplo, a divulgação
e a valorização da cultura e dos seus agentes estão praticamente ausentes.
– Uma
informação dirigida não para o aumento do conhecimento da realidade mas para a
distracção do que é essencial, dando relevo ao espectacular e ao superficial,
ao trágico e ao insólito, em detrimento das causas e dos contextos, preferindo
a espuma do efémero às correntes das águas profundas.
– Uma
informação sobre o que se passa no mundo dominada pelas grandes agências
internacionais de texto e de imagem, empenhada em promover as versões e
interpretações que servem os interesses das estratégias do capital e do
imperialismo; uma informação que, em tom compungido, relata e mostra as
tragédias da guerra, do terrorismo fundamentalista ou outro, mas passa por cima
de coisas tão óbvias como: donde vêm as armas? Quem as fabrica? Quem as
fornece?
Objecto
essencial desta denúncia e deste combate devem ser também as medidas tomadas
pelo Governo no sentido de reduzir ao mínimo o serviço público neste sector,
derrotada que foi a intenção inicial de pura e simplesmente privatizar a RTP. O
contexto é conhecido: transferir para o domínio privado – ou seja, para o
grande capital – o máximo de funções do Estado. A verdade é que se entendemos
como intolerável, e entendemos bem, pôr em causa conquistas como o Serviço
Nacional de Saúde, a Escola Pública ou a Segurança Social, o mesmo se pode e
deve dizer do Serviço Público de Rádio e Televisão e da agência Lusa.
Uma coisa é
certa: as concepções e os interesses de classe impregnam esta comunicação social,
utilizada como instrumento fundamental da produção, reprodução, massificação e
naturalização da ideologia dominante, assim demonstrando até que ponto continua
a ser indispensável uma análise do fenómeno comunicacional e informativo
assente, precisamente, numa perspectiva de classe.
*Este artigo
foi publicado no “Avante!” nº 2136, 6.11.2014
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