6 novembro 2014, Pátria Latina
http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
por Jaques Wagner*, Carta Capital online
Ao vencedor é negada a soberba. Ao perdedor, o rancor.
A democracia brasileira saiu fortalecida das urnas. Pela primeira
vez desde a retomada das eleições diretas em 1989 tivemos um segundo turno
superdisputado. É um alerta para quem ganha e uma esperança para quem perde. Ao
vitorioso é negada a soberba e são obrigatórias a humildade e a generosidade. A
quem perde, é negado o rancor e demandada a disposição do debate construtivo.
O Brasil não se dividiu. O País empolgou-se com dois projetos
políticos apresentados. As nossas diferenças existem e devem ser assumidas para
que possam ser superadas, mas na pluralidade a nossa unidade deve ser sempre
protegida.
A democracia é nosso bem maior. E a democracia é o território do
diálogo, do contraditório e do embate de ideias. Ela não resiste à intolerância
e a qualquer tipo de fundamentalismo. E nosso país é uma democracia complexa,
com múltiplas tonalidades. Tentar reduzi-la é
empobrecer e simplificar o
debate.
Os próximos quatro anos não podem ser vistos sem considerarmos o
presente e seu passado recente. Há novos e grandes desafios pela frente. Na
economia, enfrentamos a necessidade de retomar o crescimento e, ao mesmo tempo,
manter sob rigoroso controle a inflação, sem perder de vista a ampliação da
oferta de emprego e renda.
Agora é a hora de ampliar o diálogo com a sociedade, cada dia mais
exigente e a clamar pelo combate à corrupção e por mudanças pelas quais não se
pode mais esperar. É o momento de redefinir as relações com os movimentos
sociais e empresariais.
Nesses últimos 12 anos as mudanças sociais foram muitas e
consistentes: aumento da base da distribuição de renda e programas de ampliação
de direitos fundamentais para milhões. Como dizia o presidente Lula, “nunca
dantes nesse país” tivemos tanta criação de cursos técnicos, universidades,
moradia popular, crédito para agricultura familiar, redução da mortalidade
infantil, transferência de renda para os que mais necessitam.
A nova fase desses programas precisa avançar na sua qualidade, com
aceleração da redução das desigualdades de renda, criação de novas condições
para maior inclusão produtiva dos que saíram da linha de pobreza absoluta e a
consolidação dos mecanismos de participação social na formulação e controle das
políticas públicas.
A educação e, em particular, a educação profissionalizante com os
cursos técnicos e universidades novas são desafios na combinação de políticas
de inclusão de novos grupos sociais, com a absoluta necessidade de manter a
qualidade da formação, o que implica obrigação de tratar a questão de forma
sistêmica, com intervenções específicas no ensino profissional e no sistema
escolar no seu conjunto.
Temos de avançar mais na implantação das novas infraestruturas: os
portos, aeroportos, ferrovias, rodovias, pontes, projetos de mobilidade urbana,
banda larga, além dos centros de distribuição logística, os centros comerciais,
o fornecimento de energia e combustíveis e outros setores fundamentais para a
vida produtiva das cidades e do campo.
Nas relações com o empresariado, novas pontes precisam ser
construídas para recuperar o nível de investimento privado, tanto na indústria
como na agricultura, avançar no aumento da produtividade industrial, mobilizar
os recursos da intermediação comercial e logística e consolidar o crescimento
dos serviços.
Temos de buscar soluções de longo prazo para os desafios da
previdência dos servidores públicos e para as dificuldades das finanças dos
organismos infranacionais, como os estados e municípios. Ambos os problemas não
comportam apenas ações de curto prazo, exigindo soluções que demandarão
recursos por muitos anos.
Esses casos expressam a importância das habilidades políticas.
Tanto os aposentados quanto a questão federativa exigem pactos com a sociedade,
os governos estaduais e municipais e o Congresso para encontrar os melhores
caminhos. Esses pactos requerem, por seu turno, um novo ambiente que resultará
da reforma política.
Agora há a necessidade do máximo de habilidade e capacidade de
negociação no âmbito do Congresso, para definir os termos e abrangência das
reformas sobre o processo político do País. Financiamento público de campanha,
fim da reeleição e coincidência das eleições, entre outros temas não menos
importantes.
Com as mudanças, serão redesenhados os mapas de composição do poder
nacional, possibilitando articulações que permitam avançar na reforma
tributária, redefinindo o pacto federativo na redistribuição das receitas dos
vários níveis de governo.
A corrupção, outro ponto crucial, deve ser combatida, tanto no
âmbito da sua repressão e punibilidade dos efetivamente envolvidos, como na sua
prevenção, aumentando os mecanismos de transparência e controle, modificando as
suas causas geradoras, especialmente o financiamento das atividades políticas.
Mesmo com os novos desafios que se avizinham, estou plenamente
seguro que alcançaremos largas conquistas para o Brasil. Sou, na essência, um
otimista. Mais do que isso, confio na capacidade da presidenta Dilma Rousseff,
uma guerreira de coração valente que já fez muito por este país e fará ainda
mais.
*Governador da Bahia
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