21 janeiro 2010/Notícias
Moçambique participa na reunião internacional sobre as línguas africanas, um encontro que decorre na capital do Burkina Faso, Ouagadougou, e que conta com a participação de outros 25 países do Continente africano. Este encontro sucede o realizado em Windhoek, Namíbia, em 2005, onde especialistas e actores das línguas e da Educação reconheceram a importância do ensino em línguas maternas no Continente africano.
A ideia da presente reunião, que decorre desde ontem naquele país, no qual o Moçambique é representado por quadros do Ministério da Educação, é encontrar uma plataforma comum de introdução das línguas africanas nos sistemas de educação escolar formal, como forma de garantir que elas não desapareçam.
Com efeito, há uma vontade expressa por parte dos dirigentes africanos de colocar as línguas africanas no ensino escolar. Contudo, para além das declarações de intenção, espera-se que os dirigentes africanos aceitem pôr em prática as resoluções da Conferência de Ouagadougou sobre a Educação Multilingue.
O encontro preparatório iniciou segunda-feira com a presença de técnicos e especialistas das línguas africanas, tendo ontem sido inaugurado formalmente.
Nesta conferência, ponto de partida duma mobilização para a efectividade do ensino das línguas e culturas africanas na educação, os Ministérios africanos da Educação, profissionais e peritos das mesmas instituições comprometer-se-ão a partilhar lições aprendidas sobre as práticas concretas que permitem instaurar políticas de educação multilingues eficazes.
As experiências dos países como Moçambique, Burkina Faso, Malawi e a Etiópia, permitirão mostrar aos ministros as linhas mestras para alcançar a integração das línguas e culturas africanas na educação e desenvolver pólos de qualidade interestaduais sobre a utilização das mesmas para criar uma rede de mutualização comum.
Às vezes criticada nalguns países, por causa de ramificações políticas, a utilização da língua materna é, no entender dos peritos, um factor importante para a inclusão e a qualidade na educação.
Segundo um estudo de 2005 encomendado pela Associação para o Desenvolvimento da Educação em África (ADEA), o Instituto da UNESCO para a Aprendizagem Durante toda a Vida (UIL), e pela Cooperação Alemã (GTZ), a educação multilíngue deverá ser encorajada como uma escolha estratégica para melhorar não só a aprendizagem nos alunos em todos os níveis, mas igualmente como um sistema educativo eficaz.
Avaliações revelam que os estudantes das escolas bilingues no Mali, na Zâmbia, no Níger, no Burkina Faso, no Senegal e na Nigéria dominam melhor a matemática, as ciências e línguas, incluindo o francês e o inglês, do que estudantes de instituições unilíngues.
Vários estudos elaborados por especialistas africanos e outros estrangeiros indicam que, o insucesso escolar, nomeadamente as taxas elevadas de abandono e repetição entre os alunos a todos os níveis de instruções, está numa larga medida ligada ao facto de as crianças aprenderem a ler, adquirir conhecimentos e passar provas numa língua que, muitas vezes não dominam nem praticam em casa com os seus pares.
A repetição do ano escolar é não só um fracasso em termos de custos, mas pode ainda desanimar os alunos ao ponto de os conduzir à desistência definitiva e ao regresso ao analfabetismo, deixando de gozar do seu direito à educação de base.
Por outro lado, a utilização das línguas como meios de instrução é considerada como um dos factores chaves na busca para a melhoria da qualidade e do acesso à educação em África.
Para o secretário-executivo da ADEA, Ahlin Byll Cataria, não é preciso ver na língua unicamente um instrumento de trabalho, mas todos os fundamentos das sociedades.
“Quando falamos das línguas africanas na educação é preciso, certamente, insistir na qualidade da aprendizagem que isso permite, mas para além da qualidade há todas as referências sociais, culturais e filosóficas”, disse.
As línguas africanas têm referências para a governação da sociedade e da democracia, existe expressões e provérbios que traduzem melhores estes conceitos, prosseguiu, Byll Cataria, indicando que são desenvolvidos princípios de justiça, solidariedade, ética e respeito individual.
A reunião de Ouagadougou será decisiva nesta iniciativa que apenas vai engrandecer a escola e reconciliar África consigo mesma.
Pretende-se, igualmente, que as riquezas linguísticas africanas saiam dos marés de esquecimento para enriquecer programas de ensino permitindo preparar a vida dos cidadãos que já não estarão desconectados com o seu meio ambiente, mas enraizar-se-ão na sua cultura para fazer face ao desenvolvimento dos respectivos países africanos.
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