20 janeiro 2010/Vermelho http://www.vermelho.org.br/blogs/outroladodanoticia
Do Diario.info
Com a vitória do candidato da extrema-direita no Chile, perspectiva-se uma nova e diferente fase de luta pela unidade das forças de esquerda consequentes e do movimento operário e popular chilenos.
Por Mário Amorós*
O multimilionário empresário Sebastián Piñera, candidato da reaccionária Coligação pela Mudança, foi ontem [dia 17] eleito Presidente do Chile ao derrotar na 2ªvolta Eduardo Frei, candidato da Concertação de Partidos pela Democracia, por 51,61% dos votos contra 48,39%.
Em 11 de Março a presidente Michelle Bachelet, passará a faixa presidencial a Piñera, um empresário multimilionário, amigo íntimo de José Maria Aznar, que o visitou no Chile em Setembro passado e qualificou de «transcendentais» umas eleições que se realizaram quando a maior parte dos países da América do Sul têm governos progressistas ou revolucionários. Como se fosse pouco, Piñera também é admirador do presidente colombiano Álvaro Uribe, a quem prestou homenagem em Julho de 2008 e de cuja política genocida de «segurança democrática» se considera admirador. Acresce, que entre os que acompanharam a campanha nos últimos dias esteve o escritor Vargas Llosa.
A vitória de Piñera é um enorme retrocesso num país que ainda não acabou a sua transição. Com Piñera no Palácio de La Moneda, a Constituição de 1980 (imposta por Pinochet) continuará em vigor e não será reformada; o movimento operáriocontinuará sujeito a um Código de Trabalho pinochetista (imposto em 1980 pelo ministro do Trabalho José Piñera, irmão do presidente eleito), que dificulta o direito à greve e impede a negociação da contratação colectiva; os quase 800 repressores da ditadura actualmente processados terão garantias de impunidade; a empresa pública de cobre (CODELCO) provavelmente será privatizada, ao menos parcialmente; a lei eleitoral binominal não será revista; o povo mapuche continuará a ser massacrado na Araucania (região onde Piñera obteve ontem 57,51% dos votos); e, definitivamente, o grande capital continuará a acumular riqueza num dos países do mundo onde a brecha entre as classes sociais é mais acentuada.
Entre as incógnitas que abre o novo panorama político está o futuro da Concertação, uma coligação que aglutina democrata-cristãos, socialistas, liberais e radicais. Nas suas palavras de reconhecimento da derrota na noite das eleições, Frei e outros dirigentes deixaram entrever a coligação que governou o país desde 1990 permanecerá unida. No entanto, apesar desta coligação ter estado unida na última década, sobretudo pelo interesse de conservar o poder e as prebendas que este propicia, na primeira volta das eleições, em 13 de Dezembro, um deputado saído das fileiras do Partido Socialista, Marco Henriquez-Ominami, conseguiu 20% dos votos. O fastio provocado pela Concertação e as mesmas caras que ocuparam a cena política do país durante vinte anos foi mais forte que a memória de uma ditadura em que a direita deu o seu apoio a Pinochet, secundou o se projecto político e económico e ignorou as gravíssimas violações dos direitos humanos.
No novo panorama político, as forças de esquerda e o movimento popular chileno têm uma responsabilidade especial, tenham ou não votado Frei no dia 17 de Junho. Perante uma expectativa de quatro anos de governo de direita, com um provável papel de relevo do partido pinochetista, União Democrata Independente (UDI), a necessidade de uma confluência de todas aquelas forças políticas e sociais que defendem uma alternativa ao neoliberalismo, que voltará na sua maior expressão a partir de 11 de Março, é mais necessária que nunca.
* Jornalista e historiador
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