Luanda, Angola, 11 janeiro 2010 – Luanda é considerada a cidade mais cara do mundo para quadros estrangeiros, mas pode inverter a situação com mais concorrência comercial e melhores infra-estruturas básicas que permitam às empresas reduzir custos operacionais, segundo investigadores e gestores angolanos.
Na mais recente (Dezembro) actualização da tabela do custo de vida em todo o mundo para quadros estrangeiros, a consultora ECA International coloca Luanda como a mais cara pelo segundo ano consecutivo, à frente de Tóquio, Oslo e Copenhaga, uma situação que acaba por penalizar também a população local.
Em reportagem recente dedicada ao assunto, o Novo Jornal revela que, além dos bens alimentares e da habitação para trabalhadores, muitas empresas têm de investir algumas centenas ou mesmo milhares de dólares num tanque e numa moto-bomba, para poder ter água corrente, e outro tanto num gerador, para que o fornecimento de electricidade seja constante todo o dia, sobretudo quando se trata de bairros periféricos da capital angolana.
Algumas fábricas, adianta, abastecem-se de água durante a noite, através de camiões cisterna, para que possam operar na manhã seguinte, enquanto restaurantes, hotéis e supermercados encarecem as suas operações com o combustível para geradores.
Para Carlos Pinto, gestor português da empresa de telecomunicações Movicel, em Luanda, “tudo é mais caro, regra geral, com a habitação no topo da lista”, e faz a comparação com a capital económica brasileira.
“São Paulo é uma cidade muito cara, também. A diferença maior é que existe muito mais oferta: a habitação, por exemplo, é caríssima mas pode-se encontrar uma óptima casa num bairro de bom nível e com condições adequadas”, sublinhou ao Novo Jornal.
O brasileiro Maurício Santana, da empresa de comunicação Engenho Novo, confirma que “os custos operacionais [escritórios, água, energia] em Angola são altos” e que por isso “as facturas são mais pesadas”.
Sublinha ainda o facto de actualmente se “importar quase tudo em Angola”, o que sobrecarrega o custo final dos produtos com taxas alfandegárias.
Apesar de tudo, afirma, a tendência é de alívio dos preços, devido ao crescimento recente da oferta, o que é visível na habitação, nomeadamente em Luanda-Sul, o que é corroborado pelo gestor português.
“Há zonas [de Luanda] onde os preços [de arrendamento] caíram para metade” recentemente, conta Pinto, director-executivo da Movicel.
A classificação de Luanda pela ECA International teve como base os preços do último ano de um cabaz de 128 bens de consumo e serviços habitualmente adquiridos por quadros estrangeiros em 300 locais do mundo.
Entre os alimentos contam-se lacticínios, carne e peixe, fruta fresca e vegetais e a lista inclui também bebidas e tabacos, serviços, roupa, electrodomésticos, carros e despesas em restaurantes.
Actualmente, a cesta alimentar básica mensal definida pela Concertação Social está avaliada em 252,46 dólares para um agregado de seis pessoas, mais do dobro do salário mínimo nacional em Angola (110 dólares).
Manuel Viage, secretário-geral da UNTA – Confederação Sindical sublinha a reduzida oferta de produtos e serviços e ainda os problemas ao nível do abastecimento de electricidade ou água pelas empresas, que acabam por “aumentar o preço junto do consumidor”.
As autoridades angolanas têm nos últimos anos tentado trazer a taxa de inflação para a casa de um dígito, sem sucesso.
Este ano, de acordo com as últimas previsões do Banco Mundial, a variação do índice de preços ao consumidor deverá rondar 14 por cento, apesar de os preços do petróleo terem estado deprimidos na primeira metade do ano e de a economia registar um crescimento modesto, ao contrário dos anos anteriores.
Para o economista angolano Alves da Rocha, o fenómeno dos preços está também relacionado com os elevados salários auferidos por quadros estrangeiros e por alguns angolanos.
“Os salários elevados pressionam os preços de bens de luxo, mas também de bens vulgares (…) a vinda de cidadãos estrangeiros está a criar uma classe burguesa de pessoas que não abdicam do nível de vida elevado que têm nos seus países, excepção feita, talvez, aos chineses”, afirmou ao Novo Jornal.
A solução, afirma, passa por criar uma lei da concorrência e uma Autoridade da Concorrência, que assegurem o dinamismo e transparência no estabelecimento do preço dos produtos e serviços. (macauhub)
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