9 setembro 2016,
Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)
Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito
da Diocese de Blumenau, fez um sermão, no dia 7 de setembro, em defesa dos
trabalhadores e repleto de críticas ao sistema capitalista, que classificou
como “explorador e sem vergonha, responsável pela miséria de milhões no mundo”.
Durante missa no Santuário Nacional de Aparecida, em São Paulo, ele chamou a
atenção para a desigualdade de renda no país e o quadro que se delineia de
ataque aos direitos trabalhistas e previdenciários no país.
Confira no vídeo
abaixo
Na sua fala, destacou que a crise econômica não golpeia apenas o Brasil.
Trata-se de uma crise “dos grandes países do mundo", causada pelo
"sistema capitalista liberal que nos domina”, afirmou. E condenou “os
exploradores do povo”, “que ficam comendo caviar, enquanto o povo
nem pelanca
de galinha tem”. “Agora, os bancários estão em greve e nós estamos do lado deles. Porque banqueiros acumulam fortunas e, quando se trata de aumentar os salários, é aquela disputa que faz com os bancários entrem em greve. Parabéns! Vamos lutar ao lado de vocês, porque Jesus está ao lado dos pobres e dos explorados”, disse.
Depois de mencionar recente sermão do papa Francisco, que se referiu ao “momento triste” que o Brasil enfrenta, Dom Angélico fez referência à miséria que persiste no país e a políticos e industriais corruptos.
“Jesus quer que a gente tenha vida, vida de gente, em plenitude. (...) Isso significa casa, comida, trabalho e salário digno. É uma vergonha que os executivos ganhem 30, 40 mil por mês e, além disso tenham mordomias, e o salário mínimo nem chegue a 900 por mês. Dá para dormir diante da injustiça?”, questionou.
Sem citar nomes, ele disse ainda que os que agora ocupam cargos de poder sinalizam mudanças prejudiciais aos trabalhadores. “[Querem] até que leis trabalhistas, conquistadas com suor e sangue através dos anos, sejam deixadas de lado para favorecer aqueles que detêm o poder econômico. E tem mais: cuidado com aquilo que vão fazer com a Previdência. Que peguem os privilegiados, e não os que já sofrem no dia a dia!”, defendeu, diante de centenas de fiéis.
Do Portal Vermelho
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Brasil/ O RIO QUE DESCEU A PAULISTA
JÁ MUDOU O PAÍS
7 setembro
2016, Pátria Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
por: Saul Leblon, Carta
Maior
O noticiário borbulha de recuos e dúvidas ‘da base’ em relação à agenda
de arrocho, vendida até domingo como ‘salvação da lavoura’.
O que era verdade no Brasil até sábado, deixou de sê-lo a partir de
domingo.
Um banho de rua a renovou a agenda da nação.
O
levante de 100 mil pessoas contra o golpe desautorizou a soberba conservadora e
sacudiu a letargia de setores progressistas.
Gigantesca
no tamanho, ampla na pluralidade e democrática nas bandeiras, a mobilização que
tomou conta de São Paulo depois de o governo ter tentado proibi-la, reafirmou a
experiência social: nas encruzilhadas da história, os fatos caminham à frente
das ideias.
Hoje,
a ‘naturalização’ do golpe na mídia cedeu lugar à discussão de uma viabilidade
difícil, vinculada ao êxito improvável de um leque de medidas antissociais
postas em xeque pela rua.
O
protesto mudou o país pautado pela mídia, reordenou fatos, naufragou versões,
lavou a poeira da prostração, desmentiu a correlação de forças pró-golpe,
inoculada pelo colunismo isento.
Da
avenida icônica do capitalismo brasileiro, a correnteza percorreu cinco
quilômetros até o estuário popular do Largo da Batata, na zona oeste da
capital, onde o terror uniformizado do PSDB de São Paulo tentou substituir a
política por porrada.
Perdeu
duplamente, como polícia e como política.
A
estética de uma tropa de ocupação esmagando o anseio democrático pacífico
informa melhor sobre a natureza de quem governa do que o incansável jogral do
poder e da mídia.
O
chanceler Serra terá dificuldades crescentes na escalada que se prenuncia para
convencer de que não é o punho de renda de uma usurpação violenta do poder.
A
desmenti-lo emerge a força de novas narrativas que saíram da rua para
redesenhar a percepção interna e internacional do país.
Quais?
Em
primeiro lugar, a que desmentiu o divisor de águas mais geral, que dava o jogo
como decidido.
Não
está.
O
golpe de mão de 61 senadores que se avocaram mudar o pacto da sociedade sem
consulta-la não resolveu, antes agravou os conflitos da delicada transição de
desenvolvimento vivida pelo Brasil.
Parte
expressiva da sociedade recusa a tutela não solicitada.
Em
segundo lugar, o caudal de domingo esfarelou a tese conservadora de que
‘apenas’ simpatizantes do PT e de Dilma não aceitariam ‘a solução
constitucional’ cometida no dia 31 de agosto;
Definitivamente,
é maior que isso.
A
indignação que verteu para ruas e avenidas no domingo, drenou geografias
sociais e políticas bem mais amplas: mais para máxi do que para o ‘míni’, do
chanceler; mais para os cem mil, do que para os ‘40 vândalos’, do presidente
usurpador.
O
erro conservador não se limita ao cálculo das proporções.
A
terceira revelação trazida pelas águas da história toca um ponto crucial.
A
reportagem de Carta Maior tem chamado a atenção para ele, um fenômeno
silencioso mas progressivo nas manifestações contra o impeachment: o afluxo de
extratos de classe média mais estabelecidos e de meia idade para a rua.
Neste
domingo, o que era silencioso ganhou voz e peso de um protagonista tão marcante
quanto a presença da juventude e das forças populares que tomaram a Paulista.
E
isso não é pouco.
Na
verdade, é muito.
Significa
que a régua de corte da rejeição à ruptura constitucional de 31 de agosto subiu
as escadarias da pirâmide de renda e refletiu o teto de tolerância de um
segmento formador da opinião pública.
Gente
que ainda lê e assina jornais, por exemplo, vazou seu inconformismo para a rua,
entre outras razões, talvez, porque os jornais que lê, assina ou assiste já não
contemplam mais suas convicções democráticas.
Era
preciso leva-las diretamente ao asfalto.
E
eles deram o passo para além da hesitação do conforto e da cautela.
Há
desdobramentos dentro disso e eles remetem ao passo seguinte da luta contra o
golpe.
O
rio da história que desaguou no Largo da Batata, sugestivamente, não defendia
esse ou aquele partido, essa ou aquela liderança política.
Nos
cinco quilômetros de percurso do planalto à várzea do Pinheiros, gentilmente
assombrados pela cavalaria motorizada de Alckmin em arranques valquirianos, não
se ouviu outra palavra de ordem, exceto uma causa.
A
mais devastadora de todas à sobrevivência de um golpe de Estado: o clamor por
eleições diretas.
Quarta
novidade derivada dessa: a largueza desse jorro encorpa e dá pertinência
histórica à proposta do ex-presidente Lula, apresentada dois dias
antes da manifestação, na reunião do Diretório Nacional do PT.
Qual
seja, opor ao golpe uma Frente Ampla à moda uruguaia, que comporta partidos,
centrais, movimentos, personalidades, intelectuais, juristas e artistas de
todos os matizes e colorações progressistas e democráticas da sociedade.
Entenda-se
por isso que a maior liderança política do país e principal esteio do PT não
reivindica a direção da resistência ao golpe. Propõe-se a participar dela em
regime colegiado com outras forças credenciadas pela rua e pelo mandato da
trajetória e da biografia.
Finalmente,
mas não por último: a consolidação e a expansão desse escudo dificultará,
sobremaneira, a promessa do golpe ao mercado de curar os desequilíbrios fiscais
–a ‘gastança petista– agravando desequilíbrios sociais e humanos que
compõem a secular desigualdade brasileira.
O
noticiário das últimas horas está cravejado de recuos, dúvidas e sinais de
defecção ‘da base’ em relação à agenda de arrocho, vendida até domingo como a
salvação da lavoura nacional.
A
dissipação coloca Temer num corner entre a sobrevivência política da sua ‘base’
e a ganância imediatista do mercado.
Esse
garrote tem um calendário apertado de ajuste das tarraxas.
A
escória parlamentar que ‘legitimou’ o assalto ao poder em aliança com a mídia,
o dinheiro e o judiciário é o flanco mais imediatamente exposto dos quatro.
Primeiro,
nas eleições municipais de outubro próximo; e, em 2018, em um sortido cardápio
de escrutínios para presidente, governadores, senadores e deputados.
Aceitará
ir para a linha de frente do matadouro, decepar direitos e escalpelar
conquistas, como exigem o PSDB e a mídia –que condicionam o apoio à entrega do
serviço, e o mercado financeiro, que ameaça revogar o único lastro do governo,
a ‘melhora’ das expectativas?
O
rio que desceu a Paulista corroeu e continuará a erodir os barrancos dessas
margens frágeis.
O
conflito entre a rua e a agenda da qual o golpe é refém é inconciliável.
O
governo-abutre não reserva qualquer espaço à principal tarefa do
desenvolvimento, que é justamente civilizar o mercado pela universalização de
direitos, como aspira a cidadania brasileira.
O
que se preconiza é de uma violência inexcedível em regime democrático e muito
provavelmente incompatível com ele.
Uma
esmagadora engrenagem foi acionada para tomar de volta tudo aquilo que
transgrediu os limites da democracia formal, e que o ciclo iniciado em 2003,
com as limitações sabidas, exacerbou em um resgate social inconcluso, mas
transgressivo para a tolerância secular da plutocracia.
Um
paradigma de eficiência feito de desigualdade ascendente, incompatível com a
Constituição Cidadã de 1988, é a panaceia vendida agora como fatalidade à
nação.
O
que se ameaça é regredir aquém do ciclo da redemocratização, que contestou a
eficiência econômica construída à base de ditadura, tortura e censura.
Talvez
tenha sido aí que se rompeu o limite do tolerável para a classe média não
petista, crítica –e até muito crítica– dos erros recentes do PT.
Mas
que deixaria a condição de indiferença quando ficou claro que o legado da
geração que –direta ou indiretamente– devotou a juventude à luta contra a
ditadura, atravessou a idade adulta na campanha das Diretas-já e não aceita viver
em um país aquém das estacas fincadas ali, estava sendo triturado em nome de
uma restauração tardia, anacrônica e globalmente contestada da agenda
neoliberal dos anos 90.
Esse
sentimento ecumênico dá à bandeira da Frente Ampla o requisito de um protagonista
social que a conduza.
A
semente que está na rua já venceu a prostração, a indiferença e o conforto das
delegações e desabafos digitais.
Cada
vez mais, cobrará coerência organizativa em todas as instâncias democráticas, a
partir de agora.
A
das eleições municipais, inclusive.
A
inércia ainda suscita cenas como a do recente debate entre candidatos a
prefeito de São Paulo, quando Erundina e Haddad realçaram mais as divergências
– justas, respeitáveis– do que a premente e delicada convergência que estão
desafiados a ajudar a construir.
A
inércia é compreensível.
Mas
a ficha precisa cair.
A
determinação central da vida brasileira mudou.
Passa
da hora de o campo progressista superar sectarismos e prioridades corporativas
para enxergar a floresta além da clareira particular de cada projeto
secundário.
Forças
incontroláveis buscam atrelar destino da nação a uma disjuntiva em que, para
vencerem, a sociedade terá que ceder a cidadania, renegar o passado, renunciar
ao futuro, divorciar-se da esperança.
Acontecerá
se o escudo progressista piscar e se dividir.
O
interregno neoliberal implantado pelo PSDB nos anos 90 foi um ensaio disso. Só
possível dissimulado na catártica operação de guerra de um país unido contra a
hiperinflação.
Nunca
mais as urnas endossaram o lacto-purga da panaceia mercadista.
Derrotada
em 2002, 2006, 2010 e 2014, a nova oportunidade só se apresentou agora – ainda
assim para um golpe, a salvo das urnas.
Embala-a
nada menos que a nitroglicerina acumulada pela sobreposição de um ciclo de
desenvolvimento que se esgotou, associado a uma crise mundial capitalista, que
se arrasta há oito anos.
O
prazo de capacitação para uma alternativa democrática é exíguo.
Mas
ganhou seu protagonista encorajador nas manifestações do último fim de semana.
A
Frente Ampla é o ponto de fusão disso. Seu desafio agora é dar ao ‘rio de
domingo’ a vazão transformadora que magnetize a repactuação do país e negocie a
retomada do desenvolvimento justo, ansiado pela maioria da sociedade.
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