31 agosto 2016,
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(Brasil)
Em entrevista coletiva no Palácio da Alvorada logo
após ter sido afastada definitivamente da presidência da República, Dilma
afirmou, em referência aos golpistas: "A história será implacável com
eles"; fez um discurso incisivo em defesa da continuação da luta e para
"construir um Brasil melhor"; "Nada poderá nos fazer recuar. Não
direi adeus a vocês, tenho certeza que poderei dizer ‘até daqui a pouco’",
declarou; "Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a
um Brasil onde o povo é soberano", disse; "Haverá contra eles a mais
determinada oposição que um governo golpista pode sofrer",
prometeu.
247 - Em entrevista coletiva concedida no
Palácio da Alvorada, ao lado do ex-presidente Lula, de vários ex-ministros e
líderes de movimentos sociais, logo após ter sido afastada definitivamente da
presidência da República, Dilma Rousseff fez um de seus discursos mais
incisivos contra o golpe e contra o governo do presidente interino, Michel
Temer.
A decisão do Senado, segundo ela, "entra para a
História das grandes injustiças". "Senadores decidiram rasgar a Constituição.
Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar", afirmou, sobre
políticos que "buscam o poder desesperadamente" sem seguir o caminho
do "voto direto, como fizemos Lula e eu".
"A história será implacável com eles",
declarou, em referência aos artífices do golpe. Ela foi enfática quanto à
continuação da luta contra a perda de direitos dos trabalhadores e para
"construir um Brasil melhor". "Haverá contra eles a mais
determinada oposição que um governo golpista pode sofrer", prometeu Dilma
Rousseff.
"Nada poderá nos fazer recuar", assegurou.
"Não direi adeus a vocês, tenho certeza que poderei dizer 'até daqui a
pouco'", acrescentou. "Nós voltaremos. Voltaremos para continuar
nossa jornada rumo a um Brasil onde o povo é soberano", prometeu Dilma
ainda. "Eu, a partir de agora, lutarei incansavelmente para construir um
Brasil melhor", concluiu.
Leia a íntegra:
PRONUNCIAMENTO DA PRESIDENTA DILMA APÓS APROVAÇÃO DO GOLPE PARLAMENTAR
Ao cumprimentar o ex-Presidente Luís Inácio Lula
da Silva, cumprimento todos os senadoras e senadores, deputadas e deputados,
presidentes de partido, as lideranças dos movimentos sociais. Mulheres e homens
de meu País.
Hoje, o Senado Federal tomou uma decisão que
entra para a história das grandes injustiças. Os senadores que votaram pelo
impeachment escolheram rasgar a Constituição Federal. Decidiram pela
interrupção do mandato de uma Presidenta que não cometeu crime de
responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar.
Com a aprovação do meu afastamento definitivo,
políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o
poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições. Não ascendem ao
governo pelo voto direto, como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014.
Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado.
É o segundo golpe de estado que enfrento na
vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da
repressão e da tortura, me atingiu quando era uma jovem militante. O segundo, o
golpe parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do
cargo para o qual fui eleita pelo povo.
É uma inequívoca eleição indireta, em que 61
senadores substituem a vontade expressa por 54,5 milhões de votos. É uma
fraude, contra a qual ainda vamos recorrer em todas as instâncias possíveis.
Causa espanto que a maior ação contra a
corrupção da nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis criadas
a partir de 2003 e aprofundadas em meu governo, leve justamente ao poder um
grupo de corruptos investigados.
O projeto nacional progressista, inclusivo e
democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força
conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão
capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical
liberalismo econômico e do retrocesso social.
Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta
do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este
impeachment.
Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e
contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir
indistintamente qualquer organização política progressista e democrática.
O golpe é contra os movimentos sociais e
sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito
ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria
justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura;
direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos
indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser
reprimido.
O golpe é contra o povo e contra a Nação. O
golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da
cultura da intolerância, do preconceito, da violência.
Peço às brasileiras e aos brasileiros que me
ouçam. Falo aos mais de 54 milhões que votaram em mim em 2014. Falo aos 110
milhões que avalizaram a eleição direta como forma de escolha dos presidentes.
Falo principalmente aos brasileiros que, durante
meu governo, superaram a miséria, realizaram o sonho da casa própria, começaram
a receber atendimento médico, entraram na universidade e deixaram de ser
invisíveis aos olhos da Nação, passando a ter direitos que sempre lhes foram
negados.
A descrença e a mágoa que nos atingem em
momentos como esse são péssimas conselheiras. Não desistam da luta.
Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas
estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme,
incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer.
Quando o Presidente Lula foi eleito pela
primeira vez, em 2003, chegamos ao governo cantando juntos que ninguém devia
ter medo de ser feliz. Por mais de 13 anos, realizamos com sucesso um projeto
que promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história de
nosso País.
Esta história não acaba assim. Estou certa que a
interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós
voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o
povo é soberano.
Espero que saibamos nos unir em defesa de causas
comuns a todos os progressistas, independentemente de filiação partidária ou
posição política. Proponho que lutemos, todos juntos, contra o retrocesso,
contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania
nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia.
Saio da Presidência como entrei: sem ter
incorrido em qualquer ato ilícito; sem ter traído qualquer de meus
compromissos; com dignidade e carregando no peito o mesmo amor e admiração
pelas brasileiras e brasileiros e a mesma vontade de continuar lutando pelo
Brasil.
Eu vivi a minha verdade. Dei o melhor de minha
capacidade. Não fugi de minhas responsabilidades. Me emocionei com o sofrimento
humano, me comovi na luta contra a miséria e a fome, combati a desigualdade.
Travei bons combates. Perdi alguns, venci muitos
e, neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar
no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles.
Às mulheres brasileiras, que me cobriram de
flores e de carinho, peço que acreditem que vocês podem. As futuras gerações de
brasileiras saberão que, na primeira vez que uma mulher assumiu a Presidência
do Brasil, a machismo e a misoginia mostraram suas feias faces. Abrimos um
caminho de mão única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar.
Neste momento, não direi adeus a vocês. Tenho
certeza de que posso dizer “até daqui a pouco”.
Encerro compartilhando com vocês um belíssimo
alento do poeta russo Maiakovski:
"Não estamos alegres, é certo,
Mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado
As ameaças e as guerras, haveremos de atravessá-las,
Rompê-las ao meio,
Cortando-as como uma quilha corta."
Mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado
As ameaças e as guerras, haveremos de atravessá-las,
Rompê-las ao meio,
Cortando-as como uma quilha corta."
Um carinhoso abraço a todo povo brasileiro, que
compartilha comigo a crença na democracia e o sonho da justiça.
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