Lisboa, 25 novembro 2008 (Lusa) - O Banco Português de Negócios (BPN) ocultou 129,5 milhões de euros (R$ 392,2 milhões no câmbio atual) da venda da empresa brasileira Ergi, em 2006, por meio de uma sociedade off-shore controlada pelo grupo Sociedade Lusa de Negócios (SLN), apurou a Agência Lusa com base nos registros oficiais.
Segundo os registros da Junta Comercial de São Paulo, a Ergi Empreendimentos era detida em 20% pelo BPN e em 80% pela Swiss Finance, uma off-shore que o Banco de Portugal (banco central luso), em uma carta remetida em junho à administração do BPN, a que a Lusa teve acesso, identifica como pertencente à SLN (proprietária do banco).
Um ex-dirigente da SLN, que pediu para não ser identificado, confirmou à Lusa que a Swiss Finance é realmente uma das várias sociedades off-shore controladas pelo grupo.
A Ergi foi vendida em dezembro de 2006 ao grupo brasileiro WTorre, por 135 milhões de euros (R$ 408,8 milhões). Mas, no relatório de contas desse ano, a administração do BPN cita um ganho de apenas 5,5 milhões de euros (R$ 16,6 milhões) com a operação, o que significa que os restantes 129,5 milhões de euros não foram incluídos nas contas do banco.
Além deste valor, entre 2003 e 2006 o BPN injetou um total de 242,2 milhões de euros (R$ 733,5 milhões) na Ergi Empreendimentos, na forma de empréstimos concedidos pelo Banco Insular de Cabo Verde, uma instituição off-shore que a SLN controlou de forma clandestina durante vários anos.
Os empréstimos concedidos à Ergi não chegaram a ser liquidados, pelo que deverão fazer parte dos cerca de 407 milhões de euros (R$ 1,2 milhões) em crédito de risco que, segundo o Banco de Portugal, consta do balanço do Insular.
Segundo a Junta Comercial de São Paulo, o administrador da Ergi na época da venda à WTorre era Jorge Vieira Lobo de Sousa, um cidadão português com residência em São Paulo. A Lusa tentou obter esclarecimentos com o responsável, mas não foi possível.
Contatado pela Agência Lusa, um representante oficial do BPN não quis fazer comentários sobre o caso.
O Ministério Público e o Banco de Portugal estão investigando supostas irregularidades praticadas pela administração anterior do BPN, liderada por José de Oliveira e Costa, que se encontra detido, aguardando julgamento por suspeitas de estelionato, lavagem de dinheiro e evasão fiscal, entre outros crimes.
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