6 junho 2011/Odiário.info http://odiario.info
Nota dos Editores
Realizaram-se, neste Domingo, as eleições para renovar a Assembleia da República Portuguesa, na sequência da demissão do governo do Partido Socialista.
Essa demissão foi apresentada como forçada pela falta de apoio parlamentar que suportasse a iniciativa governamental de solicitar intervenção externa por parte da chamada troika FMI - BCE - CE, visando uma prometida saída da crise da dívida externa soberana, que todavia em substancia significa o agravamento da crise social e económica em que os governos do PS e do PSD têm vindo a mergulhar o país, uma capitulação da soberania, e a entrega do pais à rapina pelo capital internacional. Só em aparente contradição, os dois partidos da “oposição” de direita – Partido Social Democrata e Partido Popular - concordaram subscrever também com a troika FMI - BCE - CE o mesmo compromisso que o governo PS entretanto subscreveu em nome do estado português.
Quer dizer, os partidos da direita parlamentar preconizam a mesma solução para a crise financeira que o Partido Socialista, e nela estão comprometidos com idênticas linhas de política económica e social para o povo português.
Foi nesta base que esses três partidos – PS, PSD, CDS/PP - se apresentaram ao eleitorado, a competir pelos mesmos assentos parlamentares e pela liderança de um futuro governo, propondo essencialmente a mesma política, assim procurando instilar o sentimento de sujeição e de inevitabilidade.
A encenação da campanha eleitoral foi amplificada pelos meios de comunicação social, quase todos sob o controlo do grande capital, e um coro de comentadores e analistas criteriosamente seleccionados e sempre os mesmos, que exageraram as só aparentes diferenças programáticas entre esses três partidos, para além da mera idiossincrasia de estilos e de truques.
A intervenção do presidente da Republica na véspera e no dia da votação, e a despropositada e inusitada intervenção do próprio presidente da Comissão Europeia (que só casualmente é português) procuraram fazer prevalecer o sentido de pesada e indiscutível inevitabilidade.
Só à luz deste enquadramento de manipulação e coerção anti-democrática, os resultados apurados adquirem a sua mais completa dimensão.
A taxa de abstenção, que vem aumentando lentamente nestes actos, atingiu agora 41%. Sintoma preocupante, mais atitude de desapontado protesto perante o progressivo esvaziamento da democracia formal, do que alienado distanciamento do conteúdo da vida social e política, os abstencionistas constituem hoje o maior “partido” em Portugal.
O PS, desgastado pela grande responsabilidade no desgoverno do país ao longo de seis anos de continuada governação, políticas anti-sociais e abusos no aparelho de estado, viu o seu eleitorado cair acentuadamente para 28%. Enquanto o maior partido da oposição, o PSD, que essencialmente tem alternado com o PS no governo do país ao longo de 35 anos, desde após a Revolução de Abril, viu agora a sua votação subir significativamente para 38% - mas ainda longe de atingir maioria absoluta na Assembleia da República. O CDS/PP melhorou a sua posição com quase 12%.
Dos partidos à esquerda, a Coligação Democrática Unitária que integra o PCP, registou uma ligeira subida de votação, 8%, e mais um deputado eleito. Enquanto o Bloco de Esquerda sofreu significativa quebra de votação para 5%.
Era certo que o futuro governo iria ser comandado por alguma combinação dos partidos de centro direita – PS, PSD, CDS/PP – mas estava em disputa se algum deles alcançaria maioria absoluta, e se optaria por compromisso ou aliança política (governamental ou parlamentar) caso tal não sucedesse. Os resultados fecharam a via a um eventual governo de centro-esquerda, cuja base política seria aliás de todo improvável, posto que o PS está amarrado ao programa da troika. Pelo contrário, abriram caminho a um governo de direita, entre o PSD e o CDS/PP, essencialmente com as metas e os conteúdos programáticos que a troika FMI - BCE - CE pretende impor. Falta ainda ver como esses dois partidos se vão entender para esse efeito.
O futuro é pois sombrio para o povo português neste transe. Tanto mais que a situação social é já muito grave, e a capacidade económica está muito debilitada. Enquanto a crise financeira, comandada pelo capital internacional, tem e terá ao leme do governo do país os seus mais servis executores.
O exemplo da Grécia que, após uma primeira intervenção externa, se encontra na contingência de sofrer uma segunda intervenção de montante comparável à anterior, passado que foi apenas um ano de privações e de agravamento da dívida externa – demonstra que a dita “ajuda” externa é de facto uma forma extrema de sujeição da soberania e da espoliação de um povo digno do nosso maior respeito.
Tal como na Grécia, e noutros países europeus - mas de que a comunicação social não tem dado notícia – o povo português continuará, tanto no plano institucional como na acção dos movimentos sindicais e outras organizações sociais de massas, a lutar contra a exploração, a extorsão e pelos seus direitos fundamentais.
Um desígnio nacional que o povo português presentemente partilha com vários outros povos da União Europeia. É também o futuro desta que está em questão, e o da zona euro, em particular.
5 de Junho de 2011.
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