7 junho 2011/Vermelho EDITORIAL http://www.vermelho.org.br
Benvindo ao clube, Peru! Esta é a saudação adequada ao país que, com a eleição de Olanta Humala neste domingo, se qualifica para estreitar sua aproximação com os países sul-americanos que nos últimos anos têm sido protagonistas da mais forte integração continental já ocorrida em sua história, ao mesmo tempo em que, dentro de suas fronteiras, têm promovido também, ainda que de forma tímida, uma receita de crescimento econômico com distribuição de renda, combatendo a pobreza e a exclusão social.
Desde o final dos anos 1990 a América Latina vive um processo de mudança promissor e o Peru passa a ser agora mais um dos países da região com credenciais para se somar a este esforço de integração.
O resultado do pleito confirma o desgaste e assinala mais uma derrota política do neoliberalismo que, no caso do Peru, prevaleceu durante os últimos 20 anos até o mandato do presidente Alan Garcia, que se encerra no dia 28 de julho com a posse de Humala na presidência. Todavia, os passos na direção de um novo modelo de desenvolvimento terão de enfrentar poderosos interesses e obstáculos. Mesmo tendo descartado as bandeiras da Constituinte e das nacionalizações, moderando o discurso e o programa, o presidente eleito enfrentou uma campanha caluniosa e terrorista da direita, encastelada na mídia hegemônica. O anúncio de sua vitória foi acompanhado de uma queda de 8,7 pontos na Bolsa de Valores em Lima, a maior em dois anos.
O “mercado”, que ecoa os interesses da oligarquia financeira e do imperialismo norte-americano, envia um recado intimidador em defesa da manutenção da velha política e dos privilégios usufruídos pela classe dominante. Apesar do forte crescimento econômico verificado ao longo dos últimos anos (em torno de 8% a.a), mais de um terço da população peruana vegeta na pobreza extrema e 70% dos trabalhadores têm empregos precários, sem direitos sociais e com remuneração extremamente baixa.
Humala, um líder indígena, é uma grande esperança para as massas populares. Ele sempre demonstrou sensibilidade frente às carências, necessidades e anseios dos humildes, dos índios, camponeses e trabalhadores. O nome da coalizão que lidera é “Gaña Peru” (Ganha Peru). Com sua vitória, ganham os peruanos e ganha também a América Latina. Como nos demais países sul-americanos, particularmente naquelas nações de grande maioria indígena e mestiça (e o Peru, é bom lembrar, é aquela onde o império Inca teve sua sede na véspera do desembarque espanhol no século 16), o desafio é incorporar a classe trabalhadora e os povos originários ao cenário político, começando pelo reconhecimento de seus direitos políticos, econômicos, sociais e culturais – como ocorreu na Bolívia, Equador, Venezuela, por exemplo. A eleição de Humala também aponta para esse rumo, simbolizado pela coloração do arco-íris ao lado da bandeira nacional durante a campanha presidencial e na comemoração de sua vitória.
A perspectiva de fortalecimento da integração sul-americana talvez seja o aspecto mais relevante da vitória da oposição. É neste plano que o resultado da eleição significa claramente uma derrota para os EUA. Washington, que já assinou um Tratado de Livre Comércio com o Chile, pretendia consolidar um eixo neoliberal na América Latina com base no México, Colômbia e Chile. A eleição de Humala é um golpe neste projeto e contribui para um maior isolamento do império.
O desenvolvimento objetivo das relações econômicas também não favorece as pretensões dos EUA, que teve de engolir a derrota da Alca. Após a crise iniciada no final de 2007, a China se transformou na principal parceira comercial do Peru, deslocando os norte-americanos, ao mesmo tempo em que também se aprofundam os laços comerciais e financeiros do país andino com o Brasil. Assim, a base de apoio dos EUA no continente fica ainda mais fragilizada.
Finalmente, ganha também a democracia no Peru. Mesmo os setores mais conservadores – simbolizados pelo escritor Mario Vargas Llosa, que mais de uma vez foi candidato neoliberal à presidência do país – temiam a vitória do fujimorismo e o retorno da ditadura. A eleição de Humala foi “uma derrota do fascismo”, declarou o conservador Vargas Llosa, que apoiou Humala no segundo turno.
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