29 junho 2011/ADITAL http://www.adital.com.br
Egon Dionísio Heck, assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul
No final de novembro do ano passado se lançava ao chão uma semente sagrada. Assuncion acolhia algumas centenas de Guarani de Brasil, Argentina, Paraguai e Bolivia. Era o 3º. Encontro Continental Guarani no qual eles constituem um instrumento de protagonismo na caminhada de união e articulação do povo presente em maior extensão territorial da América do Sul. O Conselho Continental da Não Guarani nasce do jeito de ser e lutar desse povo – sem formalidade ou burocracia. Simplesmente é lançada ao chão a semente, regada com muita sabedoria e profunda mística e espiritualidade.
Passado meio ano, se realiza a primeira reunião, novamente em Assuncion. Nos mesmos dias estão nesta cidade os presidentes das repúblicas do Mercosul. Esse espaço de articulação dos "mercados” gostaria de ter os Guarani como enfeite cultural, pois seria uma bela embalagem para seus produtos ganharem o mundo. Porém esse povo resistente e altivo, já manifestou seu não a essa intenção ao afirmar em seu documento do último encontro "A Nação Guarani não formará parte da estrutura do MERCOSUL, e que se empenhará para o fortalecimento de suas organizações de base e o Conselho Continental”(Documento de Jaguaty, resolução quatro)
Calma Senhores Ministros
A imprensa noticiou que o tema do próximo Encontro dos Povos Guarani da América do Sul foi levado ao encontro dos Ministros da Cultura pelo ministro do Brasil. Afirma ainda que o 3º. Encontro será realizado na Argentina. Os dois anteriores foram realizados em Añetete (Brasil-fevereiro 2010) e Jaguaty (Paraguai-março 2011).
Os senhores ministros da Cultura do Mercosul apenas se esqueceram de olhar o documento final do encontro por eles patrocinado, onde os quase mil Guarani participantes decidiram ratificar o reconhecimento do Conselho Continental Guarani e "ratificar a decisão do Conselho de renomear o Encontro como da Nação Guarani. Assumem que de agora em diante todos os encontros serão convocados pelo Conselho Continental, denominando ao próximo de 3º. Encontro da Nação Guarani no país ou Estado que este aty guasu defina”(doc. Jaguaty)
Portanto não mais cabe aos ministérios de cultura, governos, ou seja, quem for, decidir a respeito das agendas e encontros continentais Guarani. Essa é uma atribuição exclusiva do Conselho por determinação das grandes Assembléias (Encontros, Aty Guasu).
Bicententário – nada a comemorar
Na analise da conjuntura do povo Guarani nos distintos países foi destacado a decisão tomada pelos Guarani no Paraguai de não participarem das comemorações do bicentenário, amplamente ostentando e visibilizado neste país, pois "para nossos povos somente foram 200 anos de despojamento, discriminação, humilhação, avassalamento, perseguição, saques e morte” (idem- resolução quinta). Infelizmente esse quadro continua até hoje. Por essa razão os povos Guarani do Paraguai buscaram, cada um a sua maneira, manifestar seu protesto e exigir seus direitos por ocasião do bicentenário da Independência.
Terra e território – a grande dívida histórica e atual
Ao analisarem a realidade dos mais de 300 mil Guarani nos cinco países, em aproximadamente mil comunidades, ficou evidenciado que o maior desrespeito e agressão a esse povo continua sendo a negação de seus tekohá, terras tradicionais. Essa será a exigência maior que o Conselho Continental Guarani procurará levar adiante em todas as instâncias, nacionais e tribunais internacionais. Como exemplo foi citado que a exigência de reconhecimento das terras Guarani na província de Missiones, Argentina, constante no documento final do 3º. Encontro Continental teve reflexos positivos, pois as terras do lote 8 da Biosfera de Yaboty, não foram vendidas, e sim reconhecidas como terra Guarani.
Organização e coordenação do Conselho
Foi avaliado a necessidade e melhor forma de ser organizado o Conselho. Com bastante tranqüilidade e consenso foram sendo definidas as responsabilidades de cada uma das pessoas indicadas para os cargos. Ficou assim definido: presidente – Celso Padilha (Bolívia), vice-presidente Mario Rivarola (Paraguai) Secretaria Geral – Oriel Benites (Brasil), Secretaria de recursos econômicos - Flora Cruz (Argentina). Alem disso foram definidos responsáveis de secretaria de relações e apoios técnicos.
Depois se definiu passos necessários para a legalização do Conselho – ata de fundação. Também se decidiu levar as denuncias e exigências aos governos.
No final foi feito a apresentação da proposta de elaboração e difusão do Mapa Continental: Guarani Retã Guasu. Agora que existe o Conselho não podemos seguir nesse trabalho sem a discussão e aprovação do Conselho. Foi aprovado uma moção de repudio por mais uma morte violenta de um jovem do acampamento de Apika’y, município de Dourados.
Povo Guarani Grande Povo
Assuncion, 29 de junho de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário