17 agosto 2010/ODiário.info http://www.odiario.info
Fernando Krakowiak*
As crises do capital são resolvidas com guerras e maior concentração e centralização do capital (são as janelas de oportunidade) e abatem-se sobre classe trabalhadora e os pequenos e médios empresários. Neste texto de Fernando Krakowiak vemos como em plena crise a América Latina se está “convertendo na tábua de salvação das principais empresas espanholas”. São as janelas de oportunidade do sub-imperialismo espanhol.
A América Latina está se convertendo na tábua de salvação das principais empresas espanholas. A crise europeia pôs em xeque seus negócios na península e agora dependem cada vez mais dos países aos quais, até pouco tempo atrás, insultavam pela suposta falta de segurança jurídica.
O Banco Santander, primeiro grupo financeiro da Espanha, reportou nesta quinta-feira um lucro líquido de 4.445 mil milhões de euros, mas a análise desagregada por região mostra que, na Europa, seus ganhos caíram 6% e, na América Latina, cresceram 20 pontos, especialmente no Brasil.
O BBVA experimentou uma situação semelhante. Reduziu seus ganhos em 9,7% em nível global, mas aumentou-as em 7,6% na América do Sul.
Os bons resultados da gigante petroleira Repsol também se explicam em grande parte pelo que ocorreu deste lado do Atlântico. A companhia reportou 1,740 mil milhões de dólares de utilidades no primeiro semestre, e 44,8% desse total foi aportado pela filial argentina YPF, que ganhou o triplo do ano passado.
O mapa se completa com a Telefónica, que declarou lucros de 3,775 mil milhões de euros, 9,4% a mais do que no mesmo semestre de 2009, sendo o Brasil e a Argentina duas de suas principais fontes de rendimentos.
Há uma década, os bancos espanhóis olhavam com desconfiança para a América Latina. Na Argentina o «corralito» bancário havia pulverizado o sistema financeiro, e os temores de que o Brasil seguisse o mesmo caminho motivaram uma ordem expressa de baixar a exposição ao mínimo. Inclusive, nesse período, aumentaram os rumores sobre uma fuga para melhores horizontes, seguindo os passos do canadense Scotiabank, do francês Crédit Agricole, do Bank Boston e do West LB. No entanto, conseguiram superar a tormenta financeira com a ajuda incondicional dos governos nacionais e, agora, paradoxalmente, blindam-se frente às consequências do tremor europeu, acumulando lucros na região.
O diretor da Divisão América do Santander, Francisco Luzón, disse no dia 13 de julho, em uma entrevista ao jornal El País, de Madrid, que neste ano 45% do benefício do grupo virão da América Latina. «Deveríamos enviar pequenas, médias e grandes empresas espanholas para ali porque é mais fácil fazer negócios do que a China, no Leste Asiático ou na Rússia», sustentou.
De fato, a expectativa é incrementar fortemente a participação nos próximos anos. «A razão crédito e PIB, que se conhece como bancarização, está na América Latina na casa dos 29% frente aos 59% da Ásia. Deveríamos elevar a taxa até 54% em dez anos. Se colocarmos a meta em um prazo mais curto, teremos que elevar a bancarização em 12 pontos nos próximos cinco anos. Isso supõe dobrar a poupança e os créditos», concluiu.
Com relação à Argentina, Luzón defendeu que controlam 11% do mercado, mas prevêem subir para 15% no curto prazo. A evolução dos ganhos do sistema financeiro local justifica essa aposta. Segundo dados do Banco Central, em 2005 os bancos ganharam 1,78 mil milhões de pesos; no ano seguinte, 4,306 mil milhões; em 2007 caíram para 3,905; em 2008 subiram para 4,773 mil milhões e, no ano passado, superaram suas próprias expectativas ao embolsar 8,048 mil milhões de dólares.
O BBVA também aposta na América Latina. Há dez anos, quando BBV e Argentaria se fundiram, o banco tinha 16% da cota do mercado na Espanha, mas ultimamente reduziu sua participação para 11%, ao mesmo tempo em que começou na região, fundamentalmente no México.
A Telefónica também aposta em seguir se expandindo na América Latina. Seus rendimentos na região cresceram 10,2% no primeiro semestre, até chegar a 12,063 mil milhões de euros. No Brasil, seu principal mercado, gerou 40,4% das utilidades, seguido da Argentina (11,9%), Venezuela (9,8%), Chile (8,5%), Peru (7,9%) e México (7,7%).
Com relação ao Brasil, a operadora destacou a «fortaleza» do mercado, impulsionada pelo momento econômico positivo. Além disso, na terça-feira jogou fortemente ao desembolsar 7,5 mil milhões de euros para adquirir 50% da Brasilcel, a sociedade que controla 60% da Vivo, a empresa líder da telefonia móvel. Ali a empresa competirá por um mercado de 200 milhões de clientes com a Oi, o consórcio da Claro e a Embratel e a filial da Telecom Itália.
Na Argentina, a Telefónica também vem crescendo fortemente. Há pouco menos de dez anos, ela denunciou o Estado argentino no Ciadi pela «pesificação» das tarifas posteriores à desvalorização e amargou com a destruição das pontes. No entanto, em fevereiro de 2006, renegociou seu contrato e suspendeu a demanda, que foi definitivamente retirada em outubro do ano passado. O motivo de sua mudança de posição foi produto dos notáveis lucros que veio acumulando nos últimos anos, sobretudo das mãos da telefonia celular, que se encontra desregulada. Sua matriz informou nesta quinta-feira que seus rendimentos no país durante o primeiro semestre chegaram a 1,442 mil milhões de euros, 14,6% a mais do que no mesmo período de 2009.
Os lucros que a YPF representa para a espanhola Repsol são mais conhecidos, mas nem por isso menos impactantes. No ano passado, o lucro líquido foi de 3,486 mil milhões de pesos, e, no dia 30 de abril, ela repartiu dividendos por 2,163 mil milhões. Agora, a companhia informou que o lucro foi de 3,093 mil milhões só no primeiro semestre, 195,4% a mais do que no mesmo período de 2009. Em um comunicado enviado à Bolsa de Comércio, a companhia indicou que, no primeiro semestre, suas vendas totalizaram 18,953 mil milhões de pesos (4,786 mil milhões de dólares), o que representa uma melhora de 31,4% com relação ao mesmo período de 2009.
Na Espanha, a Repsol informou que a elevação global de seus números se explica “principalmente pela alta dos preços do petróleo cru e do gás com relação ao mesmo período do ano passado, por causa do reinício da atividade química e dos melhores resultados da YPF”.
* Colaborador do jornal argentino Página 12
Este texto foi publicado no jornal argentino Página/12 de 30 de Julho de 2010.
Tradução de Moisés Sbardelotto.
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