Moçambique comemora na
quinta-feira o 20.º aniversário do Acordo Geral de Paz, que pôs termo a 16 anos
de guerra movida pela Renamo contra o Governo da Frelimo, com um resultado
trágico de cerca de um milhão de mortos.
O pacto foi assinado na
capital italiana, Roma, pelo antigo Presidente moçambicano, Joaquim Chissano, e
pelo líder da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), agora principal
partido da oposição, Afonso Dhlakama.
O acto resultou de
intensas negociações iniciadas pelo primeiro chefe de Estado moçambicano,
Samora Machel, que morreu num acidente aéreo, em 1986, mas foi Joaquim Chissano
quem conduziu "a parte mais intensa da busca da paz".
"Não há dúvida
nenhuma que a parte mais intensa da busca da paz, depois de todo o historial
iniciado por (Samora) Machel, foi feita por mim. As novas estratégias aplicadas
também foram pensadas por mim e a própria negociação foi orientada por mim. O
camarada Armando Guebuza (actual Presidente moçambicano) era o mediador principal,
o chefe da mediação, mas teve orientação e retaguarda feitas por mim",
disse Joaquim Chissano numa recente entrevista à Rádio Moçambique.
A guerra civil
iniciou-se em fevereiro de 1976, oito meses depois da proclamação da
independência de Moçambique, a 25 de junho de 1975.
A longa busca pela paz
remonta à década de 1980, quando o país ainda era dirigido por Samora Machel,
mas foi em 1988 que foram reportados os primeiros contactos secretos entre
líderes religiosos e representantes da Renamo sobre a possibilidade de
encontros directos com a Frelimo visando acabar com a guerra civil.
Nas vésperas da
aprovação da primeira Constituição multipartidária (finais de 1989, documento
que vigorou a partir do ano seguinte), líderes religiosos encontraram-se com
Afonso Dhlakama, na principal base da Renamo, no centro de Moçambique, com quem
discutiram sobre o imperativo do fim da contenda.
O Acordo Geral de Paz
foi rubricado sob auspícios da Comunidade de Sant`Egídio e do Governo italiano,
que se envolveram como mediadores do processo de paz, assegurando o primeiro
encontro entre Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama em agosto de 1992 em Roma.
Inicialmente marcado
para ser assinado a 01 de outubro de 1992, o Acordo Geral de Paz teve um
impasse de dois dias devido aos desacordos de alguns pontos do memorando,
levando Afonso Dhlakama a ameaçar prosseguir com a guerra civil.
"É uma proposta
que veio da Renamo à última da hora e eu próprio elaborei três protocolos e um
deles era sobre a administração. Todos foram aceites pelos mediadores e estes
não chegaram a informar a contraparte da Renamo de que os protocolos eram da
nossa autoria (Governo). Se o tivessem dito, a Renamo teria rejeitado",
lembrou Joaquim Chissano.
A 04 de outubro de 1992
Moçambique alcançou a paz com a assinatura do acordo. (RM/Lusa)
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