Natasha
Pitts
Jornalista
da Adital
Na
tarde de quinta-feira (18), o professor chileno Antonio Elizalde, reitor da
Universidade Bolivariana do Chile (1995 – 2006) e editor da revista Polis
visitou a sede da Adital. De passagem por Fortaleza, estado do Ceará (Nordeste
do Brasil) para participar da 6ª edição do Seminário da Rede Universitária de
Pesquisadores sobre a América Latina (Rupal), Antonio Elizalde aproveitou a
oportunidade para conhecer a Agência de Informação Frei Tito e conversar sobre
a conjuntura latino-americana.
Entre
os temas levantados, o professor falou sobre ‘Contradições e dilemas da
integração latino-americana no século XXI’, assunto discutido no Seminário da
Rupal. Ao esclarecer quais são estas contradições e dilemas, destacou a questão
indígena em países da América Latina, governados por presidentes "com inclinações
progressistas”.
"Apesar
da existência do direito constitucional em favor dos indígenas e em favor da
natureza, no governo de Evo Morales tentam construir uma estrada que atravessa
o Tipnis e em definitivo se vê claramente uma sorte de dilemas, de paradoxos,
de contradições, que traz uma sorte de confrontações no interior do próprio
povo indígena”, destaca.
Antonio
Elizalde destaca que outros governos da América Latina também tiveram problemas
semelhantes. "Algo parecido ocorreu com [Rafael] Correa e a comunidade
indígena no Equador. Algo parecido também ocorreu com Chávez na zona do
Orinoco. Ou seja, há uma violação permanente das populações mais desatendidas,
no caso a população indígena. As políticas, inclusive as progressistas são de
alguma maneira incertas e numa visão de mundo na qual se pensa que o
crescimento é imprescindível. (...) Os países tem que produzir sua
matéria-prima, industrializá-la, chegar ao mercado. Em definitivo o que ocorre
é grave. No fundo, a lógica do capital tem sua natureza própria, é inerente a
ela a condição do crescimento. O objetivo central do capitalismo é ter
ganâncias, ter benefícios”, lembra.
"Este
processo pode chegar mais longe do que se podia pensar”
Em
virtude de suas experiências e vivências na Colômbia, o professor também falou
com propriedade sobre o importante momento político em que este país vive. Após
passar cinco anos visitando a Colômbia de três a quatro vezes por ano, como
colaborador do movimento pacifista, Antonio Elizalde destacou que o país não
pode viver uma guerra permanente e que crê na paz.
"A
Colômbia não pode viver em uma guerra permanente. Não é possível, até
fisicamente, se aposentar como guerrilheiro. A única forma de romper com isso é
um incremento dos níveis de consciência humana. A Colômbia é um país marcado
por uma tremenda tragédia. (...) Minha impressão é que se pode chegar ainda
mais longe. Este processo pode chegar mais longe do que se podia pensar.
Estamos às portas de um processo de avanço para a pacificação”, acredita.
O
professor acrescenta ainda que para além do desarme material é necessário
um‘desarme espiritual’. "É muito complica alguém que viveu há 10 ou 20
anos sequestrando gente, depois que se firma um protocolo a pessoa deixe de
exercer o que era sua função. O processo de desarme ainda vai durar muito tempo
e ainda vai gerar muito sofrimento. Vai ser muito difícil aceitar que passe em
frente à sua casa o responsável pela morte de seu pai, seu primo, sua mulher”,
pontua.
"América
Latina está tendo seu pleno desenvolvimento no momento presente”
Relembrando
os golpes e as tentativas que se produziram no continente nos últimos anos
–Honduras, Equador, Paraguai – Elizalde relembrou a situação de desigualdade em
que vive e se desenvolve a população latino-americana.
"O
que nós temos é um sistema que se consolida sobre a base de estruturas do tipo
feudal, que se tem na Europa. (...) Na prática, estamos conseguindo agora,
através das lutas sociais, ir progressivamente acabando com esse caráter
tremendamente feudal. A América Latina está tendo seu pleno desenvolvimento no
momento presente. Por meio das lutas sociais”.
Rumos
da América Latina
Ao
ser questionado sobre os rumos da América Latina neste momento de crise
financeira e econômica na Europa e de ascensão de alguns países da América
Latina, o editor da ‘Revista Polis’ respondeu de imediato que é visível que o
continente está em seu melhor momento.
"Estamos
no melhor momento da América Latina. Nós não estamos vivendo a crise que vive a
Europa e estamos tentando avançar apesar de toda a influência do
neoliberalismo. Muitos países até já começam a falar de renda básica cidadã.
Temos taxas de crescimento positivas. Possivelmente poderemos ter avanços mais
significativos em términos de progresso social. Minha impressão é que o contraste
que a Europa está vivendo de alguma maneira acentua uma sorte de pressão
popular por conseguir consolidar. Há aqui uma situação há qual se conseguiu
manter-se imune da epidemia desta crise financeira”, encerrou.
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