Luanda, Angola, 20 abril 2009 – Indiferentes ao negativo cenário económico global, os negócios entre Angola e Brasil tiveram em 2008 o melhor ano de sempre e continuam a intensificar-se, com a abertura de novas “frentes” nos biocombustíveis e agroindústria.
Dos dados mais recentes das trocas comerciais entre os dois países, salta à vista sobretudo o crescimento do valor das exportações angolanas para o Brasil – 8.350 por cento, para mais de 76 milhões de dólares nos dois primeiros meses do ano.
Tratando-se sobretudo de produtos petrolíferos, o aumento deve-se ao acréscimo de quantidades, dado que os preços deste género de matérias-primas têm estado em quebra.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior do Brasil, em 2008 Angola conseguiu mesmo exportar mais para o Brasil (2,24 mil milhões de dólares, mais do dobro do valor de 2007) do que importar (1,97 mil milhões).
Portugal continua a ser o maior exportador para Angola (2,27 mil milhões de euros em 2008), mas o facto de as compras à antiga colónia se ficarem pelos 408 milhões fazem com que já hoje a balança comercial Angola-Brasil tenha maior peso (4,21 mil milhões de dólares), tendo sextuplicado o seu valor desde 2004.
Hoje, o peso desta balança transatlântica é apenas superado pelo da sino-angolana (23,5 mil milhões de dólares, dos quais 22,3 mil milhões de exportações angolanas).
Nos dois primeiros meses do ano, as exportações brasileiras para Angola cresceram 36,7 por cento, para 280,5 milhões de dólares, enquanto o total apurado pelo Ministério do Comércio Exterior caiu perto de 15 por cento.
Os empresários brasileiros já têm uma associação em Angola, a Aebran, cujo presidente Alberto Ésper afirmou recentemente à imprensa local que os financiamentos directos do Brasil para projectos angolanos foram da ordem de 2 mil milhões de dólares no ano passado.
O crescimento dos negócios tem beneficiado da existência de uma linha de crédito de 1,75 mil milhões de dólares, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) e também dos recursos do Programa de Financiamento às Exportações (Proex), administrados pelo Banco do Brasil.
"A construção é segmento onde existe uma participação brasileira mais marcante e mais visível, das empresas brasileiras em Angola. Mas temos que notar que hoje o brasileiro está nas mais diversas áreas da economia angolana, como a agricultura, o comércio geral, a saúde, educação, formação e tecnologia em geral", afirmou Ésper, citado pelo diário O País.
A Aebran estima que residam actualmente 25 mil cidadãos brasileiros em Angola, e que estejam constituídas pelo menos 200 empresas com participação de capitais brasileiros.
Se grandes grupos como a petrolífera Petrobras ou a Odebrecht abriram caminho em Angola, hoje já é possível comer em Luanda um “kibe” Mister Sheik ou aprender informática na também brasileira BIT Company.
Para Ricardo Camargo, director-executivo da Associação Brasileira de Franchising (ABF) "Angola parece ter caído no gosto dos investidores brasileiros, donos de franquias de diferentes sectores da economia".
A Petrobras destinou recentemente a Angola cinco por cento do investimento previsto para 2009/2013, ou seja perto de 800 milhões de dólares, sensivelmente o mesmo que a Odebrecht pretende aplicar no país nos próximos anos.
Emílio Odebrecht, presidente do grupo, reuniu-se recentemente com o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, para analisar os projectos futuros, tendo em conta as prioridades do governo angolano.
Em parceria com o grupo privado angolano Damer e a estatal petrolífera Sonangol, a Odebrecht participa na Companhia de Bioenergia de Angola (Biocom), que vai investir na plantação de cana-de-açúcar e construção de uma fábrica para produzir açúcar, etanol e bioelectricidade na província de Malanje.
Estão previstos investimentos de 258 milhões de dólares e a ocupação de 30 mil hectares de área agrícola, até 2012.
Toda a estrutura de pesquisa agropecuária de Angola, sector em que o país possui reconhecidamente elevado potencial, está actualmente a ser repensada com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O projecto, com duração até 2013, tem investimentos do Governo angolano de 7,3 milhões de dólares (5,5 milhões de euros), a serem aplicados na criação de 14 centros de pesquisa.
Tirando partido do crescente fluxo de empresários, trabalhadores, e também turistas, a companhia aérea de Angola Taag está a aumentar a frequência dos seus voos para as principais cidades brasileiras.
A partir de 2 de Maio passará a ter sete voos, dos quais cinco são para o Rio de Janeiro e dois para São Paulo, uma importante ajuda numa altura em que se mantém impedida de voar para a Europa. (macauhub)
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