quarta-feira, 12 de março de 2014

UCRÂNIA: RELATÓRIO DA SITUAÇÃO

10 março 2014, Pravda http://port.pravda.ru (Rússia)

Um deputado do Parlamento (Rada) ucraniano, que falou de Moscou pela TV russa, disse que seus contatos na Crimeia informaram-no de que o lado ucraniano deslocou número ignorado de sistemas Grad BM-21M de lançamento múltiplo de mísseis [orig. multiple-launch rocket systems (MRLS)] há apenas dois dias, dos primeiros postos de fronteira na Crimeia (são sistemas relativamente antigos, construídos nos anos 1960s, com alcance de 30 km).

·         Grande manifestação em Carcóvia, onde a multidão exige um referendo sobre a futura autonomia da região, eleição local de um governador, manutenção na região dos impostos locais. Dois soldados das forças antitumulto (Berkut) foram declarados cidadãos honorários da cidade.

·         Grande manifestação em Donestk, onde a multidão exige um referendo sobre o futuro da região de Donbass e a libertação do "governador popular" eleito localmente, que está preso.

A Crimeia prepara-se para o referendo na próxima semana. Todos os locais de votação e urnas têm câmeras, e foram convidados observadores internacionais. Os não incluídos nas listas eleitorais poderão votar, mediante apresentação de documento de identidade local. Para o resultado ser válido, é preciso que votem pelo menos 50% dos residentes.

Agora, cuidemos de desmontar pelo menos uma parte da propaganda distribuída pela imprensa-empresa ocidental:
Sobre mercenários da Blackwater e outros: supondo que algum deles realmente tenha conseguido entrar na Ucrânia, a missão deles será proteger alguns indivíduos e bens, mas não a de atacar falantes de russo na Ucrânia, nem, muito menos, atacar militares russos na Crimeia.

Por quê? Porque há MUITOS instrutores muito competentes entre os insurgentes na Ucrânia para esse serviço, e trabalham por uma mínima fração dos preços de contratar Blackwater & Co. Portanto, o escândalo político de um mercenário norte-americano ser apanhado trabalhando contra os russos pode ser MUITO grande, para nem falar da dor de cabeça que seria tentar arrancá-lo de lá. Mas a principal razão é que há MUITA expertise que se pode comprar lá mesmo. Assim sendo, a única vantagem real de usar lá mercenários norte-americanos é que não são ucranianos, mas é só uma vantagem, num conjunto muito limitado de consequências.

Sanções de EUA/União Europeia contra a Rússia: Hoje cedo assisti a um interessante debate pela TV russa, no qual os vários economistas e políticos convidados a discutir possíveis efeitos das sanções de EUA/EU contra a Rússia davam risadas delas e listaram as VANTAGENS que a Rússia extrairia de quaisquer sanções ocidentais. Eis o que disseram:

1) Algum capital especulativo sairia da Rússia; mas muitas empresas dos EUA e da EU têm capitais grandes demais investidos na Rússia, para poderem sair de lá.

2) O mais provável é que as sanções atinjam mais diretamente empresas ocidentais, que empresas russas.

3) O Kremlin pode ordenar muitas outras sanções de retaliação e, até, congelar fortunas e bens.

4) Paradoxalmente, as sanções podem suavizar algumas das consequências mais negativas da entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio.

5) Como aconteceu com o Irã e a África do Sul, as sanções podem servir como estímulo ao crescimento de segmentos da economia negligenciados até agora.

6) Qualquer redução na compra de gás/petróleo russo pela EU, com substituição por gás/óleo de xisto norte-americano obtido por fracking, fará subir os preços desse gás/óleo, o que beneficiará a Rússia. Além do mais, a Rússia precisa usar parte do próprio gás para usá-lo nas suas próprias regiões subdesenvolvidas.

7) Se o ocidente congelar as contas bancárias de políticos russos, estará contribuindo grandemente a favor da campanha do Kremlin contra a corrupção e para repatriar dinheiro russo depositado no exterior.

8) Suspender algum regime de dispensa de vistos e entrada livre de russos é piada. As conversações entre Rússia e UE sobre tal regime está engripada e suspensa há tantos anos, que não fará diferença alguma.

9) Sanções econômicas também ajudam a alcançar um objetivo estratégico de longo prazo do Kremlin: desenredar a Rússia das economias ocidentais e voltar a "face ecônomica" do país, na direção da Ásia.

10) Seja como for, a maior parte do dinheiro russo está, mesmo, é em paraísos fiscais. Assim sendo, ou esse dinheiro está a salvo (nesse caso, não será afetado por sanções) ou não está (e será ameaçado pelas sanções, caso em que as sanções ajudam a campanha do Kremlin, para 'des-paraizar' aquele dinheiro).

Por tudo isso, curiosamente, todos aqueles economistas e políticos viam com entusiasmada expectativa as sanções ocidentais, embora a maioria deles entenda que é altamente improvável que o ocidente imponha verdadeiras sanções, sobretudo agora, quando as economias ocidentais estão gravemente endividadas e, de fato, já quebradas, obrigadas a imprimir dinheiro 'frio', enquanto a Rússia está cheia de moeda.

A posição da China: apesar de toda a especulação na imprensa-empresa ocidental, a China sempre apoiará a Rússia contra a Ucrânia, porque a Rússia pode suprir tudo de que a China mais precisa: a) energia; b) uma fronteira estável; c) parceria confiável contra os EUA.

A Rússia também oferece mercado imenso; armas fantásticas a preços relativamente baixos; e colaboração contra os golpes e insurgências controlados pelos EUA (islamistas, uighures, etc.). Finalmente, os chineses sabem que é Maidan hoje, Tiananmen amanhã (outra vez!). Assim sendo, não deem atenção às especulações da imprensa-empresa ocidental -- só 'notícias' desejantes. 

A China dará apoio discreto, mas muito confiável, à Rússia.

The Saker
 8/3/2014, 16h29 EST, The Saker, The Vineyard of the Saker (desmascarando um pouco)
http://vineyardsaker.blogspot.com.br/2014/03/ukraine-sitrep-march-8-1629-est-and.html

 

Timothy Bancroft-Hinchey



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