9 novembro 2012/Conselho Indigenista
Missionário http://www.cimi.org.br (Brasil)
Final de tarde em
Brasília. Nos corredores e espaços nobres do Congresso ecoa a
voz de duas centenas de indígenas, de 16 povos vindos de todo o estado do
Maranhão, do Vale do Javari, no Amazonas, do Mato Grosso do Sul e do Rio Grande
do Sul. Na medida em que foram adentrando aqueles espaços desconhecidos para a
grande maioria, aumentava o entusiasmo e os sons dos maracás se tornavam mais
altos e incisivos.
Era o espírito da Constituinte
baixando no Congresso, 24 anos depois. Os repórteres que estavam tocaiados na
casa à espera de notícias, surpresos, viraram imediatamente suas câmeras e
filmadoras para os indígenas em
ritual. Depois do Salão Verde do Senado Federal, foram para o
Salão Negro, da entrada, seguindo para os corredores do Anexo 2. Curiosos foram
surgindo de todos os lugares, e com seus olhares atentos, celulares ou câmeras,
procuraram registrar semelhante fato.
Os indígenas diziam, com
satisfação, que estavam afastando os maus espíritos, aqueles que tentavam lhes
fazer mal, ou melhor, procuravam desconstituir seus direitos constitucionais.
Foi o momento forte do dia.
Aliás, eles têm sido incansáveis nessa luta pela manutenção de seus direitos na
Constituição e na exigência do respeito às suas vidas e ao que lhes garante não
apenas a Constituição mas também a legislação internacional da qual o Brasil é
signatário. Faça sol ou faça chuva, as duas centenas de indígenas têm buscado
compreensão, manifestando sua indignação e revolta, exigido cumprimento das
leis. Estiveram em inúmeros gabinetes de parlamentares, de ministros do Supremo
Tribunal Federal, de órgãos do governo.
Na Comissão de Direitos Humanos (CDH)
Plenário 1 do anexo 2 lotado.
A Comissão de Direitos Humanos garantiu espaço para ouvir os representantes
indígenas que vieram a Brasília dar seguimento às manifestações que dezenas de
povos de todo o Brasil tem feito no decorrer desse ano, denunciando todos os
atos, portarias, projetos de lei e propostas de emenda à Constituição que visam
caçar direitos dos povos indígenas. Além de dar visibilidade às violências e
violações dos direitos humanos a que estão submetidos, denunciaram a omissão do
Estado brasileiro, a presteza da justiça em decisões contrárias aos direitos
indígenas e as inúmeras iniciativas no Congresso que visam tirar direitos
duramente conquistados na Constituição de 1988.
Dentre todas as iniciativas
antiindígenas a que se sobressai é a Portaria 303 da Advocacia Geral da União
(AGU). Foram unânimes em suas falas - rasguem, queimem, revoguem essa
"porcaria". Nisso fizeram coro a presidência da CDH através das manifestações
de seu presidente, deputado Domingos Dutra, através de mensagem por vídeo. Os
deputados Érica Kokay e Pe. Ton se comprometeram em dar encaminhamentos,
procurando colocar em pauta projetos de interesse dos povos indígenas, como o
Estatuto dos Povos Indígenas e a criação do Conselho Nacional de Política
Indigenista e procurar impedir que sejam votados os famigerados projetos
oriundos principalmente da bancada ruralista, que pretendem inviabilizar a
demarcação das terras indígenas (PEC 215 e 038) e escancarar o saque dos
recursos naturais em terras indígenas, como o PL 1610 que permite da mineração
em terras indígenas sem nenhuma salvaguarda. Pe. Ton, que preside a Comissão
Especial a esse respeito, anunciou que esse ano esse projeto não será votado.
No Palácio do Planalto
Nas inúmeras manifestações das
lideranças em Brasília não faltou a cobrança à presidente Dilma. A omissão do
governo, as obras do PAC invadindo terras indígenas, a falta de decisão
política em demarcar as terras indígenas, a falta de diálogo com o movimento
indígena foram duramente cobrados. “Dilma: nos existimos”, dizia faixa voltada
para o Planalto.
Uma comissão de representantes
indígenas teve, na tarde de ontem, audiência com os ministros Luis Adams, da
AGU, e Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República. Para
os indígenas o diálogo foi positivo, mas não acreditam nas justificativas que o
ministro Adams tenta dar para a manutenção da Portaria 303. Porém, garantiram
que após a votação da matéria das condicionantes pelo Supremo Tribunal Federal
a portaria não entrará em vigor automaticamente. Irão dialogar com o movimento
indígena.
Hoje, dia 09, somos todos
convidados a gestos de solidariedade com o povo Kaiowá Guarani.
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