1 março 2010/Vermelho http://www.vermelho.org.br
No seu primeiro discurso depois de empossado, o novo presidente do Uruguai, José Mujica, reafirmou nesta segunda (01) seu compromisso com a integração regional ao dizer que os uruguaios são "Mercosul até que a morte os separe". O governante, um ex-guerrilheiro, fez um chamado à unidade e destacou que pretende ampliar gastos na área social e agir com prudência na economia. Depois do ato solene, foi aclamado por milhares de pessoas na praça central Independência de Montevidéu.
"Somos Mercosul até que a morte nos separe, e esperamos uma atitude recíproca", afirmou Mujica diante dos vários presidentes latino-americanos que foram vê-lo jurar o cargo em cerimônia solene no Parlamento de Montevidéu. O Mercosul é integrado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. A Venezuela está em processo de integração formal, ainda falta ser ratificada pelo Parlamento paraguaio.
Compareceram à cerimônia os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Lugo (Paraguai), Evo Morales (Bolívia), Álvaro Uribe (Colômbia), Rafael Correa (Equador), e Hugo Chávez (Venezuela), além do príncipe Felipe da Espanha, e a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que se reuniu previamente com Mujica para lhe oferecer cooperação nas áreas de educação, tecnologia, negócios, comércio e investimentos. A posse foi acompanhada também pelo senador brasileiro Inácio Arruda (PCdoB-CE) e pelo secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Abreu, o Alemão.
O novo presidente considerou a presença dos chefes de Estado como de "significado intenso e político". De acordo com ele, a participação dos líderes "expressa o respaldo aos processos domocráticos de renovação de poder". Para ele, "é bom sentir 'tête-à-tête' esse apoio".
Mujica afirmou que seu governo, o segundo de esquerda na história do Uruguai, vai fazer "o máximo possível" para destinar recursos à área social. "Atualmente, 2% dos uruguaios vivem abaixo da linha da pobreza, o que é uma vergonha nacional", disse o líder em sua mensagem de posse.
Segundo o governante recém-empossado, "um em cada cinco uruguaios é pobre. Isso não é justo, mas, além disso, é perigoso. Não queremos um país apenas com números positivos, mas um país bom para viver". De acordo com 'Pepe', educação, energia, meio ambiente e segurança serão temas prioritários durante sua gestão.
Mujica propõe-se a realizar um governo "austero" e confirmou a doação de 87% de seu salário de 12.500 dólares mensais para um fundo habitacional. Austeridade "significa uma luta desesperada por manter a liberdade" (...), e uma "forma de preservar a nossa liberdade individual e de sermos menos dependentes".
Ele pediu que se passasse "da tolerância à colaboração" com a oposição. E chamou os partidos a fim de estabelecer políticas de Estado e facilitar a governabilidade, deixando de lado os conflitos. "Seria uma aberração nos dedicarmos ao confronto e não ao ajuste. As batalhas pelo tudo ou nada são o melhor caminho para que nada mude e tudo se estanque", disse ele, amplamente aplaudido por políticos de todas as forças no Congresso e dignitários estrangeiros.
Mujica prometeu manter a mesma linha da política econômica do governo anterior da Frente Ampla. "Uma macroeconomia prolífica é um pré-requisito para todo o resto (...) Vamos ser ortodoxos na macroeconomia e vamos compensar isso sendo inovadores e atrevidos em outros aspectos", disse.
Depois do ato na Assembleia Geral, Mujica e seu vice, Danilo Astori, foram à praça Independência num pequeno carro chinês adaptado a motor elétrico, com mão de obra uruguaia - o "pepemóvel". Percorreram as últimas quadras a pé, pela avenida 18 de Julho, aclamados por milhares de pessoas. "Vamos Pepe, Pepe com a gente", diziam, junto com gritos de "Uruguai, Uruguai!".
Na praça, diante da estátua do prócer Artigas, o ex-presidente Tabaré Vázquez entregou-lhe a faixa presidencial. Foi a primeira transmissão de cargo realizada em praça pública no Uruguai. Tabaré deixa o poder com índices de aprovação de mais de 60%. Mujica, aliado de seu antecessor, é o 40º presidente constitucional do Uruguai. (Com agências)
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