Atualizado em 29 de outubro de 2019,
21:32, Brasil 247 (Brasil)
Ribamar Fonseca
Jornalista e escritor
"Não é difícil constatar o cerco se fechando em torno do capitão
que, conforme previsão de muitos observadores, pode não concluir o
mandato", escreve o jornalista Ribamar Fonseca. Para ele, também "a
vitória de Alberto Fernandez e Cristina Kirschner na Argentina certamente terá
grande influência no Brasil. Já é possível observar-se nuvens escuras pairando
no horizonte do governo Bolsonaro"
A cada dia fica mais claro que a Lava
Jato não foi criada para combater a corrupção, como até pouco tempo todos
imaginavam, mas para criminalizar a política, especialmente o PT, e impedir
Lula de voltar à Presidência da República. Na verdade, sabe-se hoje, a
Lava-Jato foi a peça principal de um plano urdido nos porões do Departamento de
Justiça norte-americano para dominar, politica e economicamente, o Brasil, o
maior país da América do Sul, de modo a abocanhar as suas riquezas naturais,
principalmente o petróleo, e facilitar o domínio sobre os demais países do
continente. Muito antes das revelações do site The Intercept, que vem
divulgando as tramas armadas nos bastidores daquela operação de Curitiba, já
havia fortes suspeitas sobre os seus verdadeiros objetivos. A enorme
publiçidade que a mídia tradicional deu às atividades daquela
força-tarefa, transformando os seus integrantes em paladinos da luta contra a
corrupção, tornou o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, seus
chefes, celebridades internacionais, enganando todos os que acreditaram na
seriedade da operação, que destruiu as maiores empresas de construção do país e
a indústria naval, desempregou milhares de trabalhadores e alterou os
resultados das eleições gerais
do ano passado. A farsa, porém, que
culminou com a prisão do ex-presidente Lula e a eleição de Jair Bolsonaro,
acabou, desmascarada pelo The Intercept.
Essa vergonhosa e covarde trama, no entanto, que fez a
cabeça da maioria do povo brasileiro e mudou o seu espírito fraterno, na
verdade não desaparece inteiramente com a desmoralização da operação de
Curitiba, porque outros componentes importantes da ação orquestrada do exterior
continuam em plena atividade, como, por exemplo, a indústria de fakenews e o
engajamento político da mídia tradicional e de setores do Judiciário, do
Ministério Público e da Policia Federal. Muita gente ainda tenta compreender o
que aconteceu com o nosso povo, tradicionalmente fraterno, que, de
repente, passou a aplaudir discursos de ódio e promessas de matanças de
bandidos, acreditando estar aí a solução dos nossos problemas. Ao mesmo tempo,
passou a ver corrupto em toda parte, especialmente na classe política,
convencendo-se, graças ás manchetes quase diárias da grande imprensa, de que o
Brasil é o país mais corrupto do mundo. A mesma mídia, secundada pelas
fakenews na internet, rotulou Lula e o PT como os maiores corruptos da nação,
embora até hoje, após mais de três anos de investigações, não tivessem
encontrado uma única prova contra o ex-presidente. Espalharam que os governos
petistas foram os mais corruptos e, no entanto, foram justamente os governos
que criaram os mecanismos de combate à corrupção em vigor e aparelharam e
fortaleceram o Ministério Público e a Polícia Federal. Além da mídia e das
fakenews na internet, essa imagem distorcida do Brasil também foi disseminada
pelos pastores evangélicos nos templos espalhados nos mais distantes lugares em
todo o país. Enquanto, portanto, essa engrenagem estiver em funcionamento,
será muito penoso abrir os olhos de toda a população para a verdade.
Não se pode negar, no entanto, que graças à imprensa alternativa a visão do
povo vem mudando gradativamente, como consequência da revelação de fatos que
vinham sendo ocultos pela mídia tradicional, como os conluios da Lava-Jato.
Também já se percebe mudanças no comportamento do Supremo Tribunal Federal que,
conforme afirmou o ex-Procurador Geral da República Rodrigo Janot, no seu livro
“Menos que tudo”, chancelava todos os atos da Lava-Jato. Na verdade, o Supremo
foi praticamente cúmplice da operação de Curitiba, manipulado pelos integrantes
daquela força-tarefa, à frente o juiz Sergio Moro. Segundo recente revelação do
The Intercept, em parceria com a Folha de São Paulo, até o ministro Teori
Zavascki foi envolvido por Moro e participou das suas manobras para forçar
delatores a dizer o que lhes interessava. A coisa funcionava assim, segundo os
diálogos vazados: o hoje ministro da Justiça prendia o potencial delator,
ameaçando mantê-lo no cárcere até dizer o que queria que dissesse, e o
ministro Teori segurava na gaveta os pedidos de habeas corpus até que o sujeito
falasse. Foi assim que a Lava-Jato conseguiu elementos para prender quem eles
queriam, destruindo com isso a reputação e a vida de muita gente e
enganando os tolos que acreditaram na seriedade da operação. Além de endossar
as decisões da Lava-Jato, o Supremo também passou a mão na cabeça de Moro, que
nunca foi punido por seus abusos e violações da Constituição. A Corte também
foi cúmplice no golpe que destituiu Dilma Roussef, entre outras coisas, deixando
para afastar o deputado Eduardo Cunha da presidência da Câmara Federal e cassar
o seu mandato só após ele ter comandando o impeachment da Presidenta, segurando
durante oito meses o pedido da PGR para afastá-lo. Ele só foi retirado de cena
porque, após a queda de Dilma, não tinha mais nenhuma utilidade para o projeto
de derrubar o governo petista e impedir Lula de ser candidato.
Sabe-se hoje que, entre outros fatores, Bolsonaro foi
eleito graças também a uma poderosa e gigantesca indústria de fakenews, que
continua em pleno funcionamento financiada por milhões de reais de empresários
que apoiam o capitão. A esta altura só a CPMI, já funcionando no Congresso,
poderá mergulhar fundo nesse mecanismo de mentiras, desmascarar seus
responsáveis, inclusive financiadores, e por um fim nessa indústria que fraudou
as últimas eleições. O deputado Alexandre Frota, ex-PSL, já convocado pela
comissão, será um dos primeiros a depor, o que poderá ser o princípio da
implosão do governo Bolsonaro, pois ele sabe muito sobre os bastidores da sua
campanha às eleições presidenciais. A deputada Joice Hassellman, que também
acompanhou o capitão em sua trajetória para o Palácio do Planalto, também
deverá revelar “o jogo sujo” de Bolsonaro, conforme prometeu recentemente.
Paralelamente, devem avançar as investigações sobre as ações da dupla
Flavio-Queiroz, suspensas pelo presidente do Supremo, ministro Dias Tóffoli, a
pedido de seus advogados e, provavelmente, do pai do senador. Não é difícil
constatar o cerco se fechando em torno do capitão que, conforme previsão de
muitos observadores, pode não concluir o mandato, até porque, conforme revelam
as pesquisas, cresce o número de eleitores decepcionados com o seu desempenho:
sua aprovação despenca. E tem mais: a vitória de Alberto Fernandez e Cristina
Kirschner na Argentina certamente terá grande influência no Brasil. Já é
possível observar-se nuvens escuras pairando no horizonte do governo Bolsonaro.
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