23/08/2019, Fundação
Perseu Abramo
(Brasil) https://fpabramo.org.br/2019/08/23/guerras-hibridas-militarizacao-da-teoria-do-caos/
William Nozaki
Neste livro, Guerras Híbridas:
das Revoluções Coloridas aos Golpes, o analista político russo Andrew
Korybko desvenda um novo conceito para explicar as atuais táticas dos
EUA para a desestabilização e a
derrubada de governos. A guerra híbrida é a combinação de revoluções coloridas
e guerras não convencionais como forma de alinhar Estados e sociedades aos
interesses da política de segurança e defesa norte-americanas. Partindo do
estudo de caso da Síria e da Ucrânia, o autor demonstra um modus operandi que
também pode ser facilmente identificado em outros conflitos travados, por
exemplo, no Oriente Médio e na América Latina. Nesse sentido, a guerra híbrida
é o novo modelo de intervenção político-militar do século XXI.
A guerra híbrida é o emprego do poder
através de um conjunto de intervenções de toda ordem
preparada sobre um Estado
nacional, para exercer um fim fundamentalmente político. Ou qualquer tipo de
agressão organizada que procura causar dano a um Estado nacional, buscando
desestruturá-lo, transformando-o em um Estado falido, com o fim de apropriar-se
de seu território, e/ou de seu imaginário coletivo, e/ou de seus recursos.
Pode-se considerar que a guerra
híbrida é um conflito no qual todos os agressores exploram todos os modos de
guerra, simultaneamente, empregando armas convencionais avançadas, táticas
irregulares, tecnologias agressivas, terrorismo e criminalidade, visando
desestabilizar a ordem vigente em um Estado nacional.
Para Korybko, a primeira ação da
guerra hibrida se processa por um movimento que denomina de revolução colorida.
Este movimento se caracteriza por manifestações que se utilizam de resistências
não violentas ao governo de um Estado Nacional, pelo menos no que dizem seus
militantes. Apresenta-se através de um discurso democratizante, liberalizante,
quase anárquico e é apoiada por ONGs, entes do mercado, agências de
inteligência externas e mídia.
Essas revoluções apareceram no final
do século passado no Leste Europeu, nos países que faziam parte do bloco
soviético, e a partir da virada do milênio, aconteceram também nesses espaços
já com democracias recentes, buscando a derrubada de governos pró-Rússia e a
ascensão de grupos ou partidos políticos pró-EUA. Tais revoluções foram
patrocinadas diretamente pelos Estados Unidos, ou contaram com a existência de
movimentos de oposição locais ou nacionais.
Acontece que muitas vezes a guerra
hibrida encontra o Estado nacional praticamente hibernado em um período de
comodidade ou acomodação. Cônscio ou irrefletidamente sabe-se o que precisa ser
feito e alterado, mas falta força de vontade ou capacidade de gestão. Então,
surge a figura do caos, da desestabilização e a desagregação da máquina do
Estado, e como o caos leva à imprevisibilidade, muitas vezes não conseguimos
perceber precisamente o que ele nos traz, fazendo com que a dúvida e a
insegurança dominem todas as ações e a capacidade de reagir, o que envolve
instrumentos de guerra econômico-empresarial e de guerra psicológico-midiática.
O que se busca numa guerra hibrida é a
criação do caos no território inimigo. Segundo a teoria do caos: fatores
insignificantes, distantes, podem, eventualmente, produzir resultados
catastróficos imprevisíveis e absolutamente desconhecidos no futuro. Tais
eventos levariam o adversário a se defrontar com desdobramentos imprevisíveis e
a perdas dos monopólios de gestão intrínsecos a um Estado nacional.
Da leitura do livro se depreende que a
guerra híbrida, para a conquista do poder, pode ser interpretada como a
militarização da teoria do caos.
Guerras Híbridas: das
Revoluções Coloridas aos Golpes
Andrew Korybko
São Paulo, Expressão Popular, 2018
Andrew Korybko
São Paulo, Expressão Popular, 2018
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