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de outubro de 2019, 16:13 h, Brasil 247 (Brasil) https://www.brasil247.com/blog/formula-da-guerra-hibrida-deu-certo-mas-novos-ventos-sopram-sobre-america-latina
Por Denise Assis*,
para o Jornalistas pela Democracia
Jornalista Denise Assis as desestabilizações políticas na
América Latina desde 2009 com a retirada o presidente de Honduras Manuel Zelaya
e a ação dos Estados Unidos nos diversos episódios. "Como a roda da
história gira, esse quadro começa a mudar. Nos próximos dias a Argentina se
livra de Macri. Evo Morales deve conseguir retornar ao poder, nas próximas
eleições", diz ela, mencionando também o Equador
O presidente do Equador, Lenín Moreno, que desde a semana
passada colocou o próprio país em convulsão, quando reduziu direitos
trabalhistas, retirou os subsídios do petróleo e aumentou o preço dos
combustíveis em estratosféricos 123%, acusou o ex-aliado e ex-presidente,
Rafael Correa, a quem traiu ao assumir o poder, de estar por trás das
manifestações que colocam em risco o seu cargo. Ao mesmo tempo, diz que Nicolás
Maduro
apoia as “manobras” de Corrêa, num “conluio” para retirá-lo da
presidência.
Antes de apontar o dedo, melhor teria sido Moreno dar uma
lida no livro de Andrew Koribko, “Guerras Híbridas”, tema do meu primeiro
artigo para o 247, em março deste ano. Ou olhar para trás e revisitar as quedas
de governo ocorridas desde 2009, na América Latina, quando Manoel Zelaya foi
guindado da presidência, num processo pra lá de polêmico. Seu crime: organizar
um referendo para saber se a população apoiaria uma mudança na Constituição,
que proibia a reeleição, para tentar uma vez mais ser presidente, por voto
direto.
Aqui, Fernando Henrique simplesmente mudou a Carta com pleno
apoio do Congresso – e fortes acusações sobre compras de votos para a aprovação
– e o processo foi encarado com normalidade, pelos mesmos colunistas que
atacaram Zelaya e a sociedade em geral.
Coincidentemente a queda do presidente de Honduras, Manoel
Zelaya, aconteceu enquanto estava por lá a embaixadora Liliana Ayalde. E daí?
Daí que a maneira como se deu a derrubada de Zelaya seguiu à risca a receita
asséptica, sem tanques e sem sangue, escolhida pelos EUA, para dominar o
governo de países do seu interesse, nos últimos tempos, seguindo a fórmula das
guerras híbridas. Os primeiros testes foram feitos no Oriente Médio, com a
Primavera Árabe. Em seguida foi a Ucrânia e, por fim, voltaram-se as baterias
para a AL.
Não tão coincidentemente assim, estava no Paraguai, na função
de embaixadora, a senhora Liliana Ayalde, quando o presidente Fernando Lugo
perdeu o poder, num processo de impeachment tão rápido como eficiente. E lá se
foi mais um governo de viés progressista, na região, sob o olhar discreto e
complacente de Liliana Ayalde. E aqui não se pode, de modo algum, acrescentar o
adjetivo: inocente.
Em seguida, cumprida a missão no Paraguai, eis que Liliana
surge no Brasil, cinco meses antes do início da Operação Lava-Jato, e em plena
descoberta das jazidas de petróleo do pré-sal, quando foi desmascarada, pelo
Wikleaks, a espionagem americana sofrida pela presidente Dilma Rousseff.
Liliana chegou em junho de 2013, quando a presidenta Dilma já enfrentava o
azedume orquestrado pela mídia, contra o seu governo.
A chegada da diplomata, em junho de 2013, era motivada por um
clima absolutamente negativo para Dilma Rousseff. Os interesses imperialistas
seriam, dentro desse cenário proposto, mudar a regra do Pré-Sal para colocar as
mãos na riqueza brasileira. Estranhamente, até a metade daquele ano a
popularidade de Dilma ia muito bem, obrigada. Daí por diante uma horda
conservadora invadiu as ruas e não saiu mais, até que ela fosse retirada da
cadeira. Na vizinhança a direita avançava nos vários postos de presidente à
disposição: Iván Duque, na Colômbia; Mauricio Macri na Argentina; Martín
Vizcarraa, no Peru, e Lenín Moreno, no Equador.
A inegável participação da influência dos Estados Unidos no
golpe de 2016, tem sido apontada pela grande maioria dos especialistas no
assunto. Só para destacar, Liliana trabalhou na Usaid durante 24 anos, agência
que é apontada como um dos principais braços da CIA. Não por acaso o presidente
boliviano Evo Morales chegou a expulsar agentes da Usaid da Bolívia.
Como a roda da história gira, esse quadro começa a mudar. Nos
próximos dias a Argentina se livra de Macri, elegendo, ao que tudo indica, a
chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchnner no próximo dia 27. Evo Morales
deve conseguir retornar ao poder, nas próximas eleições, e o Equador, se não
derrubar Lenín Moreno no fim da crise que enfrenta, com certeza terá um governo
mais próximo às aspirações da população, sem a intromissão americana. O momento
é de expectativa: queda ou diálogo? Por enquanto, os cerca de 600 presos, os
dois mortos e quase uma centena de feridos no Equador nos deixa ver que a
população não sairá das ruas tão cedo. Enquanto isto, no Brasil, aguardamos o
ritmo das instituições. Somos comportados e obedientes. Por isto o princípio da
guerra híbrida aqui deu tão certo. Mas novos ventos sopram sobre a América
Latina.
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