6 dezembro 2015, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao(Angola)
Filomeno Manaças
A Cimeira de Joanesburgo entre a China e a África já entrou na História. O
alcance e a dimensão da parceria estratégica estabelecida entre a China e
África pode não ser avaliada devidamente já agora, mas, como tudo, o tempo vai
encarregar-se de revelar que o encontro de Joanesburgo, que ontem terminou, foi
tão somente o primeiro de um grande passo no sentido de vários países africanos
relançarem as suas economias e darem um salto em termos de modernização das
suas infra-estruturas.
Com efeito, num ambiente de crise económica e financeira mundial, que obrigou muitos países a encolherem os seus orçamentos, mesmo ao nível de economias mais desenvolvidas e, portanto, mais desafogadas e com maior margem de manobra, o anúncio feito pelo Presidente Xi Jinping de que a China põe à disposição de África 60 mil milhões de dólares para projectos de desenvolvimento, foi o sopro de que se estava à espera e que, em boa verdade, revelou ser uma grande surpresa porque, tendo em conta os montantes, superou as expectativas.
Se recuarmos no tempo e tentarmos encontrar um termo de comparação, podemos pegar no Plano Marshall que os Estados Unidos elaboraram para reerguer dos escombros a Europa Ocidental, depois da II Guerra Mundial, e que
Mas as boas novas não se ficaram pelos 60 mil milhões de dólares. O perdão parcial da dívida e a abertura para a formação de pelo menos 30 mil quadros africanos fizeram parte do pacote de novidades que Xi Jinping levou à Cimeira de Joanesburgo, num encontro que reuniu o Presidente chinês e mais de quatro dezenas de Chefes de Estado e de Governo africanos na capital económica sul-africana.
O pragmatismo e a visão estratégica com que a China encara a cooperação com África são elementos que podem garantir à economia chinesa um forte mercado para a expansão das suas exportações, por um lado, e, por outro, vão permitir promover transformações estruturais positivas nos países africanos. Depois de 30 anos de reformas económicas que permitiram à economia chinesa ser hoje a segunda maior do mundo, Pequim tem necessidade de fomentar o consumo interno, mas também de expansão dos mercados.
Salvo raras excepções, África é ainda um continente virgem em matéria de industrialização e de processos de produção tecnologicamente avançados. Carece, em muitos casos, de, nesse campo, dar o primeiro passo, não sendo mesmo possível, por isso, saltar etapas.
É o que o Presidente Robert Mugabe, do Zimbabwe, fez questão também de sublinhar, quando enalteceu a disposição da China em abraçar, juntamente com África, um desafio hercúleo: o de ajudar o continente berço a recuperar de um atraso imposto.
Robert Mugabe disse uma verdade que pode ser incómoda para muitos países, mas que é a realidade nua e crua e descreve bem o nível em que ainda se encontram as relações entre ex-colónias e as antigas potências colonizadoras.
“A China é uma potência mundial que nunca teve colónias em África, mas faz o que não fazem outras potências, incluindo aquelas com histórico de colonização e exploração do continente berço”, disse o sempre incisivo Robert Mugabe.
Aos países africanos, resta agora tirar o maior proveito possível das oportunidades que a China oferece, não hesitando diante das campanhas contra essa cooperação, que certamente vão surgir, às quais, se quiserem ter sucesso, só deverão contrapor firmeza e afirmação soberana das decisões que forem tomadas.
É curioso que muitas dessas campanhas têm origem em países que consomem muitos dos produtos que têm o rótulo “made in China”. A China é hoje um dos principais fornecedores mundiais de produtos e serviços para os Estados Unidos e para a União Europeia. Muitas das empresas norte-americanas e da União Europeia possuem fábricas em território chinês. A deslocalização de fábricas nos EUA e na Europa permitiu à economia chinesa ter o desenvolvimento que hoje a eleva como a segunda maior do mundo.
África tem hoje, na cooperação com a China, uma oportunidade histórica para dar um salto de gigante e deixar para trás a situação de atraso e de subdesenvolvimento económico em que vive.
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