11 julho 2015, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)
José Goulão
O Estado de Israel
interrompeu mais uma vez com um assalto pirata a rota de um navio com a
bandeira de um país da União Europeia que pretendia levar bens essenciais para
a população de Gaza que vive cercada, asfixiada, indefesa e sob a mira das
sofisticadas armas de guerra do mesmo Estado de Israel.
Entre os materiais
transportados a bordo do “Marianne”, um barco registado no porto de Gotemburgo,
estavam, por exemplo, painéis solares destinados a tentar suprir as carências
em energia provocadas no território pelos constantes assaltos militares
israelitas.
Três navios de guerra
israelitas interceptaram o barco da solidariedade a cerca de 100 milhas
náuticas ao largo da costa de Gaza, logo em águas internacionais, onde as quais
as embarcações israelitas não têm qualquer jurisdição nem poder.
O sequestro que se seguiu à intercepção e a apropriação arbitrária dos bens transportados na embarcação, incluindo os haveres de passageiros e tripulantes, depois detidos numa prisão no território de Israel, são factos que
Acresce que Israel não tem qualquer autoridade sobre Gaza, parte integrante de um Estado associado das Nações Unidas, um estatuto idêntico ao do Vaticano e que pode, muito em breve, ser ampliado para o de pleno direito. Não é necessário puxar pela memória para recordar os episódios ocorridos quando a propaganda internacional insuflou a crise dos chamados “piratas somalis”, que aliás teve a sua origem nos esforços dos pescadores somalis para evitar a rapina das riquezas marinhas do seu país pelas poderosas, bem equipadas e daninhas frotas internacionais.
A OTAN mobilizou então numerosos navios dos seus membros para submeter os piratas e assegurar a continuação do desastre humanitário e ambiental. E para que as tentações “piratas” sejam liquidadas à nascença, até nasceu no território somali uma coisa à margem da ordem internacional chamada Somalilândia, gerida por quem? Por israelitas ou marionetas de Israel.
Embora o acto de pirataria contra o “Marianne” – um navio sueco, nunca é demais lembrá-lo – tenha acontecido na manhã de 29 de Junho, o que é que aconteceu, ou melhor, o que é que não aconteceu desde então? O Conselho de Segurança das Nações Unidas não se reuniu de emergência, não emitiu qualquer parecer sobre o assunto, a propaganda internacional não fala de sanções contra os piratas nem de qualquer outro tipo de penalização. A OTAN não convocou navios dos seus Estados membros para irem reprimir o comportamento pirata. A Comissão Europeia, o Conselho Europeu, o presidente do Parlamento Europeu não tomaram qualquer posição sobre os acontecimentos, apesar de as vítimas serem cidadãos europeus e de o navio alvo do acto de pirataria ostentar a bandeira de um dos 28 Estados da União Europeia.
Apesar de a embarcação se situar muito longe das águas territoriais israelitas quando foi atacada, o Estado de Israel informa o mundo que exigiu três vezes aos tripulantes do Marianne que desviassem a rota de Gaza. Israel, repete-se, não tem qualquer jurisdição sobre Gaza nem poder para dar ordens em águas internacionais. Não eram os responsáveis da embarcação sueca quem navegava em violação do direito marítimo, pelo que não tinham de obedecer a ordens ilegítimas e muito menos ser penalizados por tal.
O que aconteceu foi um acto de pirataria cometido por Israel, e não foi o primeiro, como o mundo sabe.
Pelo que dos feitos apenas há uma conclusão a retirar: a pirataria tornou-se um comportamento aceite pelo direito internacional, ou, pelo menos, por aqueles que se dizem titulares do poder para o fazer cumprir.
Não é novidade, mas regista-se: o mundo é gerido por gente com mentalidade e interesses de piratas.
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