7 julho 2015, A Página
Vermelha http://apaginavermelha.blogspot.com.br (Brasil)
Por Cristiano Alves
A miliciana Svetlana com uma Metralhadora
Kalashnikov (PK)
Foi uma grande surpresa para A
Página Vermelha ter estabelecido contato com a notável miliciana russa que
hoje luta no Donbass, a entrevista revelou uma série de surpresas sobre uma
mulher verdadeira, uma luz que não é movida não pelo ódio, bizarrices
pós-modernas num mundo povoado por idolatras do hedonismo, mas antes de tudo
uma jovem com princípios movida por um sentimento de justiça e altruísmo. Ela
se inspira no exemplo de Zoya Kosmodemyanskaya, lendária partizanka soviética
que voluntariamente participou de vários atos de sabotagem contra o invasor
nazista, acabando torturada, enforcada e esquartejada por se manter leal aos
seus camaradas até os seus últimos momentos, nos anos 40.
Enquanto muitos "homens" se dizem de esquerda e se mantém indiferentes à guerra no Donbass, idolatrando aberrações fetichizadas e propagandeadas pelo imperialismo, Svetlana foi combater a maior instituição do imperialismo moderno, a OTAN. A miliciana, que gosta da natureza e quer ter muitos filhos após a guerra, nos fala um pouco de si e de seu povo.
Ao falar de minha experiência na
Rússia, sobre como fui bem acolhido em seu país e
tive uma enorme facilidade
para se relacionar com os russos, a miliciana Svetlana nos fala de seu pov, ela
diz que "os russos possuem uma alma bastante aberta". Essa, a
propósito, é uma característica marcante da língua russa que nenhuma tradução
pode captar com exatidão, o uso constante da palavra "dusha", isto é,
"alma", usada com muito mais frequência do que em outras línguas. Não
se fala do coração físico, mas do estado de espírito em si. "Os russos são
um povo muito amistoso, mas nós jamais permitimos que nos ofendam", ela
prossegue, "e sempre nos levantamos contra a injustiça. Lutamos por uma
causa justa e por isso Deus está conosco e somos invencíveis".
Svetlana foi ao Donbass, após
retornar da Rússia, onde mora o povo que desde seus primórdios divide a mesma
história com os ucranianos. Em realidade, não há diferenças físicas entre
russos (russkie) e ucranianos (antes chamados de pequenos-russos), sua única
diferença é na língua, já que a Ucrânia por muito tempo esteve sob domínio
polonês e na região de Lvov passou a conhecer diferenças significantes em
relação ao idioma falado em Moscou. Lembremos que até a Revolução de Outubro de
1917, a escrita cirílica ucraniana e russa eram praticamente idênticas. É um
fato que 1, em cada 3 russos, tem parentes na Ucrânia. Deste modo, é um erro
muito frequente de analistas políticos e apologistas do regime de Kiev comparar
Rússia e Ucrânia (que compartilharam um território comum, uma cultura e
economia comuns, e compartilham fronteira e um idioma comum) com Brasil e
Portugal ou Argentina e Espanha, que tiveram uma história diferente,
compreendiam uma etnos diferente (americana e europeia) até ter sua história
fundida pela invasão de um pelo outro.
Da Rússia, Svetlana trouxe ajuda
humanitária para as crianças do Donbass, no Leste da Ucrânia, onde milhões de
crianças estão vivendo em porões para se proteger dos ataques de artilharia do
regime de Kiev, da Junta, liderado por Poroshenko, um tirano que governa com o
aval da OTAN e o apoio moral de John McCain, candidato a presidência fracassado
dos Estados Unidos, que após ser derrotado nas urnas americanas agora dá
instruções até de que ministros devem ser escolhidos para o governo ucraniano.
A Página Vermelha: Aqui no Ocidente muitas
fontes de imprensa "livre" dizem que no Donbass lutam apenas
profissionais das Forças Armadas Russas. Você teve qualquer instrução antes de
sua chegada ao Donbass? Talvez no Exército? Na Polícia?
Miliciana Svetlana: Eu nunca tive qualquer experiência militar até vir ao Donbass. A primeira vez que eu vi um fuzil foi só aqui. Nas fileiras da milícia lutam pessoas de especialidades totalmente pacíficas, mineiros, professores, economistas, advogados, etc. Aqui não havia Forças Armadas Russas e nem há, apenas voluntários.
A Página Vermelha: Quem são essas pessoas que
servem com você? O Pyatnashka é um batalhão internacionalista, de onde são os
seus camaradas? Por que eles lutam?
Miliciana Svetlana: Em nossa brigada lutam
pessoas de diferentes países. Há habitantes locais, russos, abecásios,
armênios, uzbeques, eslovacos.
A Página Vermelha: Acerca da fé, todos sabem
que você é ortodoxa. Você tem uma foto em frente a um monumento soviético. Você
tem convicções políticas?
Miliciana Svetlana: Socialistas!
A Página Vermelha: Durante a Grande Guerra
Pátria (nome da IIGM na Rússia e ex-URSS) diferentes mulheres tornaram-se
famosas em combate, Mariya Oktyabrskaya, Zoya Kosmodemyanskaya, Lidiya
Litvyak... Alguma delas te inspira?
Miliciana Svetlana: Zoya
Kosmodemyanskaya é uma mulher que merece respeito. Ela foi um símbolo de
heroísmo do povo russo.
A Página Vermelha: O que é estar na guerra?
Quais foram os momentos mais difíceis? As cenas mais assustadoras? A mídia
ucraniana e alguns apoiadores da Ucrânia nos dizem que os milicianos são
terroristas. O que você responde a essas pessoas?
Miliciana Svetlana: A guerra é horrível, é a lágrima de pessoas inocentes, é uma morte sem justificativa. É horrível quando crianças, em vez de passear com os seus pais pelos parques e comer sorvete, são forçados a ficar em porões sujos para se esconder de bombardeios.
Acerca dos terroristas, como chamar a uma pessoa que se levanta para defender a sua casa, o seu povo e os interesses de seu povo, como podem ser chamados de terroristas?! Isso não me entra na cabeça.
A Ucrânia berra que está combatendo mercenários russos, para justificar os seus fracassos no campo de batalha, para eles é uma vergonha reconhecer o fato de que as suas forças armadas estão sendo derrotadas por simples mineiros.
A Página Vermelha: Você tem uma foto com uma
metralhadora. Diferentes fotos mostram você no front. Você tem armas favoritas?
Miliciana Svetlana: A minha arma favorita é o
AK, Fuzil Kalashnikov.
A Página Vermelha: Após a guerra, você pretende
continuar como militar?
Miliciana Svetlana: Após a guerra eu quero
voltar para casa e ter muitos filhos.
A Página Vermelha: Agora um pouco sobre o Brasil.
O que você sabe sobre o Brasil?
Miliciana Svetlana: No Brasil eu nunca estive,
por isso eu não sei nada.
A Página Vermelha: No Donbass lutam voluntários
do Brasil, alguns deles não tinham nenhuma experiência militar antes da guerra,
mas ironicamente jornais ucranianos como a TSN insistem em dizer que são
"mercenários", mercenários sem preparo militar?! Nós temos aqui
muitas pessoas, incluindo mulheres, que gostariam de lutar pelo povo do
Donbass. Que conselho para eles você tem?
Miliciana Svetlana: Se há o desejo de ajudar,
então é necessário ajudar por quaisquer meios.
A Página Vermelha: Que mensagem você gostaria
de dar a nós brasileiros e a nós de A Página Vermelha? Talvez você não saiba,
mas dentre nós há uma jovem que gostaria de lutar no Donbass, mas não pode,
nossa camarada Angela.
Miliciana Svetlana: É um prazer saber que
pessoas no distante Brasil não são indiferentes à guerra no Donbass. Muitos
dizem que "a guerra não é lugar para mulheres". Mas quando surge a
questão sobre defender o povo de um genocídio, a questão do sexo não tem
nenhuma importância.
Encerramos a entrevista com um
convite a Svetlana para visitar o Brasil. No curso da entrevista ela mostrou o
desejo de encontrar-se no Donbass com o autor de A Página Vermelha futuramente
e de manter contato. Muitos milicianos mantém contato através de suas redes
sociais, trazendo informações diretas sobre combates e a situação de milhões de
pessoas oprimidas e bombardeadas pelas forças ucranianas. São pessoas nobres,
que lutam por uma causa justa, e não mercenários obcecados por dinheiro ou
neonazistas sedentos de sangue das "raças inferiores" como há nas
forças ucranianas. Svetlana em russo significa "Iluminada", e seu
depoimento nos dá uma luz para que do Brasil possamos entender os acontecimentos
na Ucrânia Oriental, no Donbas.
Sobre a questão de quem é o
"verdadeiro terrorista na história", alguém poderia dizer que "o
lado ucraniano é suspeito para falar", que "o lado miliciano é
suspeito para falar", o que nos obriga a buscar uma terceira parte, no
caso a INTERPOL. Ao passo que se inserirmos no banco de dados da INTERPOL o
nome de Girkin (Strelkov), o primeiro miliciano, ou Pavlov (popularmente
conhecido como Motorolla), ou Hodakovskiy (comandante da Brigada Vostok), nós
não obtemos nenhum retorno. Todavia se inserirmos o nome de Yarosh, um dos
líderes do Setor de Direita, deputado e comandante do Batalhão Punitivo
ucraniano, formado por neonazistas, obtemos seu nome na lista de terroristas. A
verdade está com o Donbass!
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