sábado, 11 de julho de 2015

NOVORRÚSSIA: A Página Vermelha entrevista miliciana socialista

7 julho 2015, A Página Vermelha http://apaginavermelha.blogspot.com.br (Brasil)

Por Cristiano Alves

A miliciana Svetlana com uma Metralhadora Kalashnikov (PK)

Foi uma grande surpresa para A Página Vermelha ter estabelecido contato com a notável miliciana russa que hoje luta no Donbass, a entrevista revelou uma série de surpresas sobre uma mulher verdadeira, uma luz que não é movida não pelo ódio, bizarrices pós-modernas num mundo povoado por idolatras do hedonismo, mas antes de tudo uma jovem com princípios movida por um sentimento de justiça e altruísmo. Ela se inspira no exemplo de Zoya Kosmodemyanskaya, lendária partizanka soviética que voluntariamente participou de vários atos de sabotagem contra o invasor nazista, acabando torturada, enforcada e esquartejada por se manter leal aos seus camaradas até os seus últimos momentos, nos anos 40. 

Enquanto muitos "homens" se dizem de esquerda e se mantém indiferentes à guerra no Donbass, idolatrando aberrações fetichizadas e propagandeadas pelo imperialismo, Svetlana foi combater a maior instituição do imperialismo moderno, a OTAN. A miliciana, que gosta da natureza e quer ter muitos filhos após a guerra, nos fala um pouco de si e de seu povo. 

Ao falar de minha experiência na Rússia, sobre como fui bem acolhido em seu país e
tive uma enorme facilidade para se relacionar com os russos, a miliciana Svetlana nos fala de seu pov, ela diz que "os russos possuem uma alma bastante aberta". Essa, a propósito, é uma característica marcante da língua russa que nenhuma tradução pode captar com exatidão, o uso constante da palavra "dusha", isto é, "alma", usada com muito mais frequência do que em outras línguas. Não se fala do coração físico, mas do estado de espírito em si. "Os russos são um povo muito amistoso, mas nós jamais permitimos que nos ofendam", ela prossegue, "e sempre nos levantamos contra a injustiça. Lutamos por uma causa justa e por isso Deus está conosco e somos invencíveis".

Svetlana foi ao Donbass, após retornar da Rússia, onde mora o povo que desde seus primórdios divide a mesma história com os ucranianos. Em realidade, não há diferenças físicas entre russos (russkie) e ucranianos (antes chamados de pequenos-russos), sua única diferença é na língua, já que a Ucrânia por muito tempo esteve sob domínio polonês e na região de Lvov passou a conhecer diferenças significantes em relação ao idioma falado em Moscou. Lembremos que até a Revolução de Outubro de 1917, a escrita cirílica ucraniana e russa eram praticamente idênticas. É um fato que 1, em cada 3 russos, tem parentes na Ucrânia. Deste modo, é um erro muito frequente de analistas políticos e apologistas do regime de Kiev comparar Rússia e Ucrânia (que compartilharam um território comum, uma cultura e economia comuns, e compartilham fronteira e um idioma comum) com Brasil e Portugal ou Argentina e Espanha, que tiveram uma história diferente, compreendiam uma etnos diferente (americana e europeia) até ter sua história fundida pela invasão de um pelo outro.

Da Rússia, Svetlana trouxe ajuda humanitária para as crianças do Donbass, no Leste da Ucrânia, onde milhões de crianças estão vivendo em porões para se proteger dos ataques de artilharia do regime de Kiev, da Junta, liderado por Poroshenko, um tirano que governa com o aval da OTAN e o apoio moral de John McCain, candidato a presidência fracassado dos Estados Unidos, que após ser derrotado nas urnas americanas agora dá instruções até de que ministros devem ser escolhidos para o governo ucraniano.

A Página Vermelha: Aqui no Ocidente muitas fontes de imprensa "livre" dizem que no Donbass lutam apenas profissionais das Forças Armadas Russas. Você teve qualquer instrução antes de sua chegada ao Donbass? Talvez no Exército? Na Polícia?

Miliciana Svetlana: Eu nunca tive qualquer experiência militar até vir ao Donbass. A primeira vez que eu vi um fuzil foi só aqui. Nas fileiras da milícia lutam pessoas de especialidades totalmente pacíficas, mineiros, professores, economistas, advogados, etc. Aqui não havia Forças Armadas Russas e nem há, apenas voluntários.

A Página Vermelha: Quem são essas pessoas que servem com você? O Pyatnashka é um batalhão internacionalista, de onde são os seus camaradas? Por que eles lutam?

Miliciana Svetlana: Em nossa brigada lutam pessoas de diferentes países. Há habitantes locais, russos, abecásios, armênios, uzbeques, eslovacos.

A Página Vermelha: Acerca da fé, todos sabem que você é ortodoxa. Você tem uma foto em frente a um monumento soviético. Você tem convicções políticas?

Miliciana Svetlana: Socialistas!

A Página Vermelha: Durante a Grande Guerra Pátria (nome da IIGM na Rússia e ex-URSS) diferentes mulheres tornaram-se famosas em combate, Mariya Oktyabrskaya, Zoya Kosmodemyanskaya, Lidiya Litvyak... Alguma delas te inspira?
Miliciana Svetlana: Zoya Kosmodemyanskaya é uma mulher que merece respeito. Ela foi um símbolo de heroísmo do povo russo.

A Página Vermelha: O que é estar na guerra? Quais foram os momentos mais difíceis? As cenas mais assustadoras? A mídia ucraniana e alguns apoiadores da Ucrânia nos dizem que os milicianos são terroristas. O que você responde a essas pessoas?

Miliciana Svetlana: A guerra é horrível, é a lágrima de pessoas inocentes, é uma morte sem justificativa. É horrível quando crianças, em vez de passear com os seus pais pelos parques e comer sorvete, são forçados a ficar em porões sujos para se esconder de bombardeios. 

Acerca dos terroristas, como chamar a uma pessoa que se levanta para defender a sua casa, o seu povo e os interesses de seu povo, como podem ser chamados de terroristas?! Isso não me entra na cabeça.

A Ucrânia berra que está combatendo mercenários russos, para justificar os seus fracassos no campo de batalha, para eles é uma vergonha reconhecer o fato de que as suas forças armadas estão sendo derrotadas por simples mineiros.

A Página Vermelha: Você tem uma foto com uma metralhadora. Diferentes fotos mostram você no front. Você tem armas favoritas?

Miliciana Svetlana: A minha arma favorita é o AK, Fuzil Kalashnikov. 

A Página Vermelha: Após a guerra, você pretende continuar como militar?

Miliciana Svetlana: Após a guerra eu quero voltar para casa e ter muitos filhos.

A Página Vermelha: Agora um pouco sobre o Brasil. O que você sabe sobre o Brasil? 

Miliciana Svetlana: No Brasil eu nunca estive, por isso eu não sei nada.

A Página Vermelha: No Donbass lutam voluntários do Brasil, alguns deles não tinham nenhuma experiência militar antes da guerra, mas ironicamente jornais ucranianos como a TSN insistem em dizer que são "mercenários", mercenários sem preparo militar?! Nós temos aqui muitas pessoas, incluindo mulheres, que gostariam de lutar pelo povo do Donbass. Que conselho para eles você tem?

Miliciana Svetlana: Se há o desejo de ajudar, então é necessário ajudar por quaisquer meios.

A Página Vermelha: Que mensagem você gostaria de dar a nós brasileiros e a nós de A Página Vermelha? Talvez você não saiba, mas dentre nós há uma jovem que gostaria de lutar no Donbass, mas não pode, nossa camarada Angela.

Miliciana Svetlana: É um prazer saber que pessoas no distante Brasil não são indiferentes à guerra no Donbass. Muitos dizem que "a guerra não é lugar para mulheres". Mas quando surge a questão sobre defender o povo de um genocídio, a questão do sexo não tem nenhuma importância.

Encerramos a entrevista com um convite a Svetlana para visitar o Brasil. No curso da entrevista ela mostrou o desejo de encontrar-se no Donbass com o autor de A Página Vermelha futuramente e de manter contato. Muitos milicianos mantém contato através de suas redes sociais, trazendo informações diretas sobre combates e a situação de milhões de pessoas oprimidas e bombardeadas pelas forças ucranianas. São pessoas nobres, que lutam por uma causa justa, e não mercenários obcecados por dinheiro ou neonazistas sedentos de sangue das "raças inferiores" como há nas forças ucranianas. Svetlana em russo significa "Iluminada", e seu depoimento nos dá uma luz para que do Brasil possamos entender os acontecimentos na Ucrânia Oriental, no Donbas.

Sobre a questão de quem é o "verdadeiro terrorista na história", alguém poderia dizer que "o lado ucraniano é suspeito para falar", que "o lado miliciano é suspeito para falar", o que nos obriga a buscar uma terceira parte, no caso a INTERPOL. Ao passo que se inserirmos no banco de dados da INTERPOL o nome de Girkin (Strelkov), o primeiro miliciano, ou Pavlov (popularmente conhecido como Motorolla), ou Hodakovskiy (comandante da Brigada Vostok), nós não obtemos nenhum retorno. Todavia se inserirmos o nome de Yarosh, um dos líderes do Setor de Direita, deputado e comandante do Batalhão Punitivo ucraniano, formado por neonazistas, obtemos seu nome na lista de terroristas. A verdade está com o Donbass!


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