segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Portugal/OS PONTOS NOS IS*

1 agosto 2011, ODiário.info http://www.odiario.info

Aurélio Santos

Há duas semanas foi o imposto sobre o 13.º mês (50%), a semana passada foi o aumento de 15% do preço dos transportes públicos, esta semana o pacote laboral. Estas decisões fazem lembrar uma frase atribuída ao ditador Salazar, que continua bem vivo na memória colectiva do nosso povo. Perante uma medida que apenas penalizava os mais pobres alguém o questionou pelo facto de os ricos não serem afectados ao que ele terá respondido «os pobres são muitos e já estão habituados».

Paulatinamente, ao ritmo de uma medida por semana, vem o actual Governo implementando um conjunto de medidas com que se pretende restringir drasticamente direitos sociais e direitos laborais, juridicamente garantidos, conquistados ao longo de muitas décadas.
Há duas semanas foi o imposto sobre o 13.º mês (50%), a semana passada foi o aumento de 15% do preço dos transportes públicos, esta semana o pacote laboral.

Estas decisões apresentadas como inapeláveis, e onde começam a surgir tenuamente tiques ditatoriais (veja-se a posição assumida pela presidente da Assembleia da República sobre o direito de parecer das organizações dos trabalhadores na discussão do pacote laboral), são-nos apresentadas como consequência da situação económica doPaís que, dizem, não comporta os custos desses direitos.

Como inserir neste discurso o vencimento do agora nomeadopresidente da CGD que vai auferir mensalmente mais de 46 salários mínimos?!! O princípio de que o País não comporta determinados custos não se aplica aqui?

O desfasamento entre os salários dos trabalhadores portugueses e o custo de vida cresce exponencialmente tornando-se incomportável e insuportável para a maior parte da população. Inversamente, até ao momento, não foi apresentada uma única medida que penalize o capital.
Aliás, esta medida de um aumento brutal do preço dos transportes visa, essencialmente, sanar as empresas públicas de transportes das dívidas existentes para depois as privatizar. Ou seja: aqui vamos todos fazer mais um esforçozinho para dar uma ajuda ao capitalismo a braços com uma crise que ele próprio criou.

Esta crise não é nossa – é uma crise do capitalismo que, «democraticamente» nos impõem que paguemos.

Estas decisões fazem lembrar uma frase atribuída ao ditador Salazar, que continua bem vivo na memória colectiva do nosso povo – um dia perante uma decisão que apenas penalizava os mais pobres, alguém o questionou pelo facto de os ricos não serem afectados, ao que ele terá respondido «os pobres são muitos e já estão habituados».

Ao poder político aqui fica o recado – o povo português jamais aceitará ser de novo tratado da mesma forma.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 1965 de 28.07.2011

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