16 agosto 2011/Resistir.info http://www.resistir.info
por FARC-EP
Compatriotas convocantes, organizadores, acompanhantes e participantes neste encontro de iniciativas e experiências camponesas, afro-descendentes e indígenas pela paz na Colômbia. Mulheres e homens de Barrancabermeja e do Magdalena Medio. Acompanhantes internacionais, colombianas e colombianos.
Expressamos nossa saudação a esta iniciativa e reconhecemos nela uma possibilidade real de avançar pelos caminhos da reconciliação e da reconstrução da nação, posicionando a rota do diálogo e a solução política no cenários das urgências que abalam o país.
As FARC-EP reiteram, perante este encontro, o seu indeclinável compromisso de empregar todas as nossas energias e esforços para receber ideias e acompanhar a busca de fórmulas que abram a rota do diálogo, para retirar a pátria da escura noite de terror a que tem estado submetida nestes 63 anos, por causa da voracidade e da opulência do poder de sectores oligárquicos minoritários da nação e do estrangeiro, que aumentam seus privilégios mantendo a violência como a opção exclusiva, por parte do Estado, para impor as políticas de exclusão que caracterizaram todos os governos.
Historicamente, desde a génese da resistência fariana que já atingiu os 47 anos, temos clamado, com toda a força que representa esta palavra. Clamado por saídas diferentes à guerra. A guerra pela guerra, por privilégios ou enriquecimento pessoal, ou por sentimentos de vingança, não constitui a razão da nossa existência. A razão da nossa luta é por uma ordem social de justiça plena, profundamente humanista e soberana que garanta o exercício da paz como um direito da humanidade. Mas estes clamor foi, também, historicamente desconhecido pelos diferentes governos que aprofundaram e degradaram o conflito interno, publicitando fracassadas promessas de aniquilamento ou exigências de rendição à insurgência, como se se tratasse de um problema isolado do conjunto de desequilíbrios políticos, económicos e sociais com que todos os governantes fracturaram a Colômbia.
A guerra, com todo o peso da sua barbárie, não pode continuar a ser o rumo da nação só para garantir o crescimento dos interesses dos capital financeiro, de latifundiários e narco-latifundiários, das máfias em todos os âmbitos nacionais e de transnacionais que agravam a cada segundo a crise social e o meio ambiente que afecta profundamente milhões de colombianos em cada estação invernal e que pôs em perigo a existência do planeta. O sistemático terror do Estado, a violência institucionalizada e para-institucional responsáveis pelos assassinatos, desaparecimentos forçados e deslocações maciças tem que ser detida com acções independentes e comprometidas com a paz como as que representa este encontro.
A promoção de falácias tão infames e sensacionalistas como o "fim do fim" ou o "pós conflito" concebidas para ocultar os abusos, o enriquecimento familiar, a perseguição a opositores, a corrupção e o autoritarismo dos últimos governos, não pode continuar justificando o crescente gasto militar que se divorcia do investimento social a que está comprometido o Estado. A maioria dos participantes neste encontro, e que vivem em territórios onde se desenvolve o conflito, sabem que a confrontação se mantém, que há terrorismo de Estado ou "falsos positivos" como eufemisticamente os chama o governo, e sabem que é uma política macabra que se implantou a partir do mais alto nível do Estado para intimidar a população civil e criar falsas expectativas sobre os avanços militares da força pública oficial. E os senhores sabem que a insurgência se move, umas vezes de forma pública e outras de forma clandestina, mas que estamos aí. E sabem porque o sentem diariamente e lhes coube esquivar e enfrentar as consequências do conflito, que à resistência armada não se derrota com mentiras, com ameaças, fanfarronadas, nem com manchetes da imprensa. A resistência armada existe e mantém-se, assim como se mantém e cresce a pobreza, o desemprego, a falta de habitação, educação, assistência médica e preventiva de saúde, de terras para a produção camponesa, como se mantém o deslocamento e cresce a violação dos direitos humanos.
A desigualdade cresceu e para equilibrar os gravames sociais que atiçam a confrontação não são suficientes os milhares de milhões de dólares que se lançam no fogo insaciável da guerra, requer que se avancem mais além, requer compromisso, esforço e iniciativas nacionais que obriguem o governo a abrir caminhos em direcção à paz. Assim o percebem as FARC-EP nos encontros diários no nosso movimento pela geografia pátria e na convocatória deste evento vemos passos seguros nesse caminho.
Participámos em vários cenários de diálogo com diferentes governos, sempre acompanhados de um profundo compromisso de paz e com esperança de encontrar na contra parte a mesma disposição e a vontade indeclinável para a geração das mudanças estruturais que reclama o assegurar da justiça social, como base fundamental para a paz. Mas os sectores do poder representados nesses governos determinaram que o único objectivo certo é o de ganhar tempo para recompor a estratégia dos planos de guerra prolongando a existência do conflito social e armado com todas as suas calamidades. Só a mobilização de todas as forças sociais da nação abrirá o caminho para a reconstrução e a reconciliação nacional, iniciando de forma imediata a exploração de acordos humanitários que resolvam o drama dos prisioneiros de ambas as partes, que inegavelmente e acima de qualquer alvoroço mediático para ocultar esta realidade, continuará a apresentar-se enquanto se mantiver a confrontação armada. Assim como as dramáticas condições em que vivem, nos cárceres dos Estados Unidos, os comandantes guerrilheiros Simón Trinidad , Sonia e Iván Vargas que deverão ser repatriados num processo efectivo de reconciliação. De igual forma, a liberdade para as vítimas das capturas maciças devido ao modelo de criminalização e judiciarização do protesto social que o Estado implantou contra integrantes de todas as forças políticas e sociais de oposição.
Recolhendo os apelos para buscar uma saída diferente da guerra, para resolver o conflito social e armado que vive a nossa nação e perante a disposição expressada pelo senhor Presidente para explorar esse caminho, manifestamos perante os senhores a nossa vontade política para, no mais imediato, dar os passos destinados a criar um cenário propício para iniciar o diálogo frente ao país, sob o único condicionamento de que a firme disposição de encontrar os caminhos que nos permitam criar o entorno para as profundas reformas económicas, sociais e políticas que garantam a Paz com Justiça Social, com todos os sectores representativos do povo colombiano e da comunidade internacional disposta a acompanhar-nos.
Reiteramos nosso desejo de que este encontro ajude a abrir os caminhos esperançosos da paz.
Com fraterno respeito,
Secretariado Nacional do Estado-Maior Central.
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC-EP
12 de Agosto de 2011
Ver também:
Colômbia: Pilhagem, esperança e paz
Manifiesto por la Tierra y la Paz – El diálogo es la rutaO original encontra-se em http://anncol.info/...
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