Luanda, 8 fevereiro 2009 (Lusa) - O escritor angolano Ruy Duarte de Carvalho defendeu, em declarações à Agência Lusa, que Luanda "está a caminho de ser a capital do petróleo na África" e de se tornar a "capital da África".
Carvalho disse que a capital angolana, que inicialmente não teria "muitas condições para ser a capital de uma coisa que ainda não existia, o território de Angola, hoje está em evidência".
"Hoje, Luanda está a caminho de ser a capital do petróleo na África, está a caminho de ser a capital da África e está aí à vista, por cima das ruínas do passado colonial, está uma Luanda a construir-se", ressaltou.
O fato de Angola ser o maior produtor de petróleo da África subsaariana, segundo o autor angolano, proporciona a metamorfose que acontece na cidade de Luanda.
Em relação ao excesso populacional desta cidade, onde se estima que residam pelo menos cinco milhões de pessoas, o escritor disse acreditar que o problema será resolvido quando forem pagos "salários competentes" nas províncias do interior.
"Angola não pode ser um país onde um terço da população está na capital, mas isso é o resultado dos 30 anos que antecederam a nossa data", disse Ruy Duarte de Carvalho.
O autor angolano é o protagonista de uma semana cultural organizada pelo Centro Cultural Português em Angola, em parceria com a Associação angolana Chá de Caxinde, onde de 9 a 13 de fevereiro será mostrada a diversidade da sua obra.
Metas
Carvalho declarou que o seu trabalho teve como objetivo mostrar os modos de vida das populações angolanas. "Foi um trabalho exaustivo. Há pistas que eu levantei, que tratei. Coisas que ninguém tinha dado conta e os livros estão à disposição".
O autor vive entre a província do Namibe, no sul de Angola, e a vizinha República da Namíbia e tem como "desejo" ver o seu trabalho "aproveitado" pela nova geração.
Este trabalho estará "espelhado" na exposição "Essa Maneira de Convocar Tudo" Na mostra, serão exibidas fotografias e pinturas do trabalho de campo que Ruy Duarte Carvalho realizou no Namibe, na década de 1990, sobre o modo de vida das populações daquela região.
"Os pastores são populações com quem lido desde a infância e que quis saber como é que funcionavam. Levei isso como um assunto pessoal e acho que esclareci", disse Carvalho, que tem mais de duas mil páginas elaboradas sobre esse tema.
O escritor salientou que a exposição é importante para que se considere que os angolanos "não são só aqueles que estão ao nosso redor". "Devemos respeitar esses angolanos que não vivem segundo esta forma ocidentalizada, porque são tão angolanos como nós. Esse é o meu serviço, julgo que o fiz", explicou.
O autor informou que o nome dado à exposição está ligado à maneira como convocou vários meios (escrita, pintura e fotografia) para tratar de um tema que, numa única via de abordagem, "era insuficiente".
Obras
Ruy Duarte de Carvalho nasceu em Portugal e naturalizou-se angolano em 1975. Tem cerca de 20 livros de poesia, ficção, viagem e ensaio publicados. A sua primeira obra literária foi lançada em 1972.
De 1975 a 1981, dirigiu filmes para televisão e para o instituto de cinema angolano. Desde 1987, ensina antropologia nas universidades de Luanda, São Paulo e Coimbra.
Em seus trabalhos, tem tratado sobretudo das sociedades pastoris e agropastoris do sudoeste de Angola e do noroeste da Namíbia.
A sua última obra, um romance intitulado "A Terceira Metade", tem o lançamento previsto para março em Portugal.
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