Rui Neumann e Tiago Farinha/Jornal Digital/4 março 2008
Díli – O duplo atentado, 11 de Fevereiro, contra o chefe de Estado timorense, Ramos-Horta, e o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, reforçou a tensão inter partidária. Em entrevista à PNN, Mari Alkatiri insistiu que as duvidas sobre o duplo atentado estão a pôr em risco a democracia, para saída da crise apenas aceita que a Fretilin participe no Governo se «for para liderar o Governo.»
Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin, considerou que se as interrogações do duplo atentado não ficarem esclarecidas podem por em causa o processo democrático em Timor e teme que o impasse da actual situação se torne numa «bomba retardatária».
O secretário-geral da Fretilin afirma que o relato relativo ao ataque contra Xanana Gusmão, «é uma ficção barata» e lembra que Mário Carrascalão, numa entrevista à Lusa, já considerara o mesmo ataque como uma «montagem».
Em entrevista à PNN, Mari Alkatiri realçou mistérios que envolvem o ataque ao primeiro-ministro, segundo fontes do secretário-geral da Fretilin, o veículo de Xanana Gusmão inicialmente apresentava impactos de duas balas, pouco depois foi apresentado com a marca de 16 tiros. «Enviámos imediatamente uma pessoa ao local que tirou fotografias», contou Alkatiri, «dizia-se que o carro tinha ido pela ribanceira abaixo, e depois estava parado na estrada. Só mais tarde é que foi pela ribanceira.»
O secretário-geral da Fretilin continua a afirmar que ainda existem fortes suspeitas relativamente ao atentado. «Como é que o Alfredo Reinado vai atacar a pessoa (Ramos-Horta) que estava a procurar uma solução airosa para si mesmo? Quem foi atacado primeiro, foi o Reinado ou o Presidente da Republica? Se foi o Reinado, segundo os primeiros dados, este terá sido morto uma hora antes. Se foi morto antes, porque que os homens do Reinado e os do Presidente da República ficaram a olhar uns para os outros até ao Presidente chegar?» questionou Alkatiri.
O mesmo responsável político defendeu a necessidade de uma comissão de inquérito independente. «Países que têm aqui presença, nas áreas da justiça ou assessores na área da segurança, não podem ter os seus elementos a fazer parte desta comissão», e sublinha que se os atentados ocorreram «com toda esta presença, e se a investigação incriminar a presença internacional, ou a ONU, a tendência é naturalmente encobrir» e lembrou que existem países que não estão presentes em Timor capazes de efectuar um inquérito independente. Em relação à presença do FBI em Timor, com o objectivo de proceder às investigações sobre os atentados, Alkatiri é céptico: «Ao fim e ao cabo, são instrumentalizados. Mesmo que queiram ser sérios, não podem.» Receia, também, que as conclusões do FBI fiquem apenas nas mãos do Procurador-Geral da Republica e não sejam apresentadas ao público.
Os motivos que levaram ao duplo atentado são ainda um enigma, o secretário-geral da Fretilin sugere que existem indícios que assentam na intenção de Ramos Horta convocar eleições antecipadas. «Presidente da Republica tinha dito claramente que haveria eleições antecipadas em 2009. É claro que quem governa não gosta disso. Estas dúvidas precisam de ser esclarecidas para o bem das pessoas que estão envolvidas. Eu no lugar do Xanana, seria o primeiro a dizer que queria esta investigação fosse feita de forma independente. Eu fui também vítima de tudo isto em 2006» e afirma: «Não vale a pena escudar-se na imunidade e tentarmos encontrar caminhos que não convencem.»
Para Mari Alkatiri a actual crise é a sequência da crise de 2006. «2006 aconteceu porque Xanana queria o poder e não tinha o poder. E agora, depois de estar como primeiro-ministro sentia que não tinha o poder» afirmou o mesmo responsável político. Questionado pela PNN se considera que Xanana Gusmão está a caminho de uma ditadura Alkatiri responde: «Xanana Gusmão gosta do poder. Democracia para Xanana é ter todos juntos mas sob o seu comando. Todos falam, mas ele é que manda.»
«Xanana é um patriota e rejeito que digam que vendeu a pátria aos australianos. Mas Xanana não consegue pensar como Estado, pensa como guerrilheiro. Para ele, a guerrilha é assim. Já quando era líder no tempo da resistência, foi ele que abriu as portas para os partidos todos mas o comando era dele. Ele pensa que tudo tem de continuar assim. Pensa que é o único que consegue ainda congregar todos» considerou Mari Alkatiri.
Para a saída da crise Mari Alkatiri defendeu como primeira medida o fim do Estado de Sitio: «Os cidadãos quando se sentem livres, perdem o medo e podem dizer as verdades.»
O mesmo responsável político considerou que o Estado de Sitio, e Emergência, «está a ser usado para intimidar as pessoas. A população vai-se cansar com todas essas medidas, particularmente nos bairros de Díli. Já estamos a regressar ao tempo da indonésia, as pessoas já não dormem em casa. Bairros de Tunanara, Pité, são jovens que têm medo que a polícia os vá buscar à noite”, e qualifica o risco da população se revoltar como “uma bomba retardatária.»
«O poder deve acreditar que a melhor forma de controlar esta população é meter-lhes medo, para não haver manifestações, qualquer outra acção violenta. Não há direito a manifestação, não há direito a reuniões públicas. Costumo reunir em minha casa com muita gente e há alguns dias passaram aqui os polícias a perguntar aos meus seguranças o que é que nós estávamos a fazer» testemunhou Alkatiri.
O secretário-geral da Fretilin, defende «mais do que nunca» eleições antecipadas, e exige a saída do actual Governo o qual «não tem capacidade para sozinho enfrentar as dificuldades» e considerou a AMP (Aliança Maioria Parlamentar, liderada por Xanana Gusmão) como uma «manta de retalhos». Evocando a necessidade de da criação de uma Junta de Salvação Nacional só aceita a participação do seu partido no Governo se «for para liderar o Governo.»
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