18 julho 2014, Redecastorphoto
http://redecastorphoto.blogspot.com.br (Brasil)
*Paul Craig Roberts − Institute for Political Economy
Traduzido pelo pessoal
da Vila Vudu
As sanções unilaterais impostas pelos EUA e anunciadas
por Obama dia 16/7/2014 (ver acima, em inglês), bloqueando o acesso a
financiamentos bancários de empresas russas de armas e energia, comprovam a
impotência de Washington. O resto do mundo, incluindo duas das maiores
associações comerciais dos EUA, já deram as costas a Obama.
A Câmara de Comércio dos EUA e a Associação Nacional
de Fabricantes [orig. National Association of Manufacturers] fez
publicar anúncios nas páginas do New York Times, Wall Street Journal e World Report protestando contra as sanções inventadas pelos EUA. A
Associação Nacional de Fabricantes disse que (...) estamos desapontados com os EUA, por
ampliarem sanções unilaterais de modo que muito prejudica a posição comercial
dos EUA no mundo.
Bloomberg
noticia que (...) reunidos em Bruxelas, líderes da União
Europeia recusaram-se a acompanhar as medidas impostas por EUA.
Na tentativa de isolar a Rússia, o Doido da Casa
Branca isolou Washington.
As sanções não
terão efeito sobre empresas
russas. As empresas russas podem obter mais financiamentos do que carecem, de
bancos chineses, franceses e alemães.
Os três traços que definem Washington – arrogância,
húbris e corrupção – também emburrecem a capital e a fazem incapaz de aprender.
Gente arrogante, tomada de húbris, nunca aprende. Quando encontram resistência,
respondem com propinas, ameaças e coerção. A diplomacia exige capacidade
razoável para aprender com os erros, seus e dos outros; mas já há anos
Washington esquece a diplomacia. Os EUA só conhecem a força bruta.
Consequentemente, Washington, com as sanções, só faz
solapar o próprio poder e a própria influência. As sanções só têm estimulado os
países a se afastarem do sistema de pagamentos em dólares, que é o fundamento
do poder dos EUA.
Christian Noyer, presidente do Banco da França e
membro do Conselho de Administração do Banco Central Europeu, disse que as
sanções de Washington estão afastando as empresas e os países do sistema de
pagamentos em dólares. A soma gigantesca de dinheiro que os EUA assaltaram, sob
a forma de “multa” aplicada ao banco francês BNP Paribas, por negociar com
países que os EUA “desaprovam”, mostra bem claramente os graves riscos que
ameaçam todos os que ainda insistam em negociar em dólares, quando os EUA ditam
as regras que bem entendam.
O ataque dos EUA contra o banco francês serviu para
que muitos recordassem as numerosas sanções passadas e se pusessem em alerta
contra sanções futuras, como as que ameaçam o banco Commerzbank da Alemanha. Já
é inevitável um movimento para diversificar as moedas usadas no comércio
internacional. Como Noyer destacou, o comércio entre a Europa e a China não
precisa do dólar e pode ser integralmente pago em euros ou renminbi.
O fenômeno de os EUA imporem regras só deles a todas
as transações denominadas em dólares norte-americanos em todo o mundo está acelerando
o movimento de países que se afastam do sistema de pagamento em dólares. Alguns
países já criaram acordos bilaterais com seus parceiros comerciais, para que os
pagamentos se façam nas respectivas próprias moedas.
Os países BRICS já estão estabelecendo novos métodos
de pagamento, independentes do dólar, e estão criando seu próprio fundo
monetário internacional, para financiar seus
próprios negócios.
O valor do dólar dos EUA como moeda de troca depende
de seu papel no sistema internacional de pagamentos. Se esse papel vai
desaparecendo, também começa a sumir a demanda por dólar e o valor de troca do
dólar. A inflação entrará na economia dos EUA via preços de importações, e os
norte-americanos, já tão pressionados, verão cair ainda mais os seus padrões de
vida.
Perda
de valor do US dólar ao longo do tempo
No século XXI, a cada dia mais gente menos confia nos
EUA. As mentiras de Washington, como “armas de destruição em massa” no Iraque
(que nunca existiram); “armas químicas usadas por Assad” (que jamais as usou);
e “armas atômicas do Irã” (que absolutamente não existem) já são tratadas como
absolutas mentiras por outros governos. São mentiras e mais mentiras, que os
EUA usam para destruir países e ameaçar outros países com destruição, para
manter o mundo em eterno sobressalto.
Os EUA nada tem a oferecer ao mundo, que consiga
acalmar o sobressalto e a aflição que Washington distribui pelo planeta. Ser
nação amiga dos EUA implica aceitar todas as chantagens de Washington. E muitos
já começam a concluir que a amizade de Washington não compensa o preço
altíssimo que custa aos países.
O escândalo da espionagem universal pela Agência de
Segurança Nacional dos EUA contra o mundo, e a recusa dos EUA a desculpar-se e
desistir da prática reiterada daqueles crimes, aprofundaram ainda mais a
desconfiança, que já se vê hoje até entre os próprios aliados dos EUA.
Pesquisas, em todo o planeta, mostram que outros países veem os EUA como a
maior ameaça à paz, no planeta.
Nem o próprio povo norte-americano confia no governo
dos EUA. Pesquisas mostram que ampla maioria de norte-americanos entendem que
os políticos, a imprensa-empresa prostituta [orig. presstitute media]
e grupos de interesses privados, como Wall Street e o complexo
militar/de segurança, violentam todo o sistema para servir seus próprios
interesses, à custa do povo dos EUA.
O império dos EUA está começando a rachar,
circunstância que provoca ação desesperada em Washington. Hoje, (17/7/2014,
5ª-feira), ouvi notícias na National Public Radiosobre um avião de
passageiros malaio que caiu em território da Ucrânia. A notícia talvez fosse
verdadeira. Mas foi apresentada em tom de fazer crer que teria havido alguma
espécie de complô urdido por Rússia e “separatistas” ucranianos. Na BBC, mais e
mais opiniões enviesadas, cada vez mais enviesadas. Até que matéria sobre as
“mídias sociais” “noticiava” que o avião teria sido derrubado por um sistema
russo de armas antiaéreas.
Nenhum daqueles “especialistas” sequer se preocupava
com o que os “separatistas” teriam a ganhar com derrubar um avião de
passageiros. Nada disso. Os “especialistas” já haviam decidido que a Rússia “é
culpada”, o que “evidentemente” “obriga”(ria) a União Europeia a apoiar sanções
ainda mais duras contra a Rússia! A BBC acompanhava o script dos
EUA e “noticiava” a “notícia” que Washington queria ver nas manchetes!
A operação tem, de fato, isso sim, todos os indícios
de ser operação cerebrada em Washington. Todos os fazedores oficiais de guerras
rapidamente apareceram em todos os canais de televisão e em todas as manchetes.
O vice-presidente dos EUA Joe Biden “declarou” que “a aeronave foi explodida em
voo”. Que “não foi acidente”. Ora! Por que alguém teria tanta certeza, antes de
qualquer confirmação oficial? Visivelmente, Biden não obrava para culpar Kiev.
Claro que quem abateu a “aeronave” em “pleno voo” foi... a Rússia! É o modo como
Washington opera: grita “culpado!” tantas e tantas vezes, até que já ninguém se
lembre de exigir provas.
O senador John McCain pôs-se imediatamente a
“declarar” que havia cidadãos norte-americanos no avião, o que bastava para ele
“exigir” ações punitivas contra a Rússia (tudo isso antes de alguém conhecer a
lista de passageiros do avião e as causas da queda).
As “investigações” estão sendo feitas pelo regime de
Kiev, fantoche de Washington. Acho que já se poderia escrever a conclusão hoje,
sem investigar coisa alguma.
É alta a probabilidade de que apareçam provas
fabricadas, como as provas fabricadas que o secretário de Estado Colin Powell
dos EUA apresentou à ONU, para “provar” a existência das inexistentes “armas de
destruição em massa” iraquianas. Washington safa-se há tanto tempo, com tantas
mentiras, golpes, encenações e crimes, que já se convenceu de que se safará
sempre, até o dia do Juízo Final.
No momento em que escrevo, não há ainda informação
confiável sobre o avião, mas a velha pergunta dos romanos vale sempre: cui
bono? Quem se beneficia?
Os “separatistas” nada têm a ganhar com derrubar um
avião de passageiros, mas os EUA, sim, tinha “bom motivo”: culpar a Rússia. E
bem poderia ter também um segundo motivo. Dentre os muitos rumores, há um rumor
que diz que o avião presidencial do presidente Vladimir Putin voava rota
semelhante à do avião malaio, com diferença de 37 minutos entre um e outro
avião. Esse rumor disparou especulações de que Washington teria decidido
livrar-se de Putin, mas errou o alvo: tomou o avião malaio pelo jato
presidencial russo. RTnoticia que
os dois aviões teriam aparência
semelhante. (Fotos no original)
Antes de começarem a “explicar” que Washington seria
sofisticada demais para “errar” de avião, lembro que quando Washington derrubou
avião iraniano no espaço aéreo do Irã, a Marinha dos EUA “explicou” que
“pensara” que os 290 civis assassinados naquele atentado estivessem num jato
iraniano, um F-14 Tomcat, jato de combate fabricado pelos EUA, e
muito usado também pela Marinha dos EUA. Ora! Se a Marinha dos EUA não consegue
distinguir nem entre um jato de combate que usa todos os dias, e um avião de
passageiros iraniano... é claro que os EUA podem se atrapalhar e confundir dois
aviões de passageiros que, como diz RT são, sim, até que
“parecidos”.
Durante toda a matéria da BBC, publicada para inventar
a culpa da Rússia, nenhum “especialista” lembrou-se do avião iraniano de passageiros
que os EUA “abateram em pleno voo”. Ninguém “exigiu” sanções contra os EUA.
Seja qual for o desfecho do incidente com o avião
malaio, indica um perigo na política soft de Putin contra a
intervenção armada e violentíssima dos EUA na Ucrânia. A decisão de Putin, de
responder com diplomacia, não com recursos militares, às provocações de
Washington na Ucrânia, deu vantagem inicial a Putin – como se comprova na
reação da UE e de associações de empresários norte-americanos contra as sanções
de Obama. Contudo, ao não impor fim imediato, por meios militares, ao conflito
que Washington patrocina e comanda na Ucrânia, Putin deixou a porta aberta para
os crimes e complôs que Washington vive a maquinar e que são especialidade dos
EUA.
Se Putin tivesse aceitado o pedido dos antigos
territórios russos do leste e sul da Ucrânia, para se reincorporarem à Mãe
Rússia, o imbróglio ucraniano teria acabado já há meses; e a Rússia não estaria
exposta a tantos riscos.
Putin não colheu o total benefício de ter-se recusado
a enviar soldados para os antigos territórios russos, porque a posição
“oficial” de Washington [como se lê nos veículos da imprensa-empresa press-tituta]
é que há soldados russos operando na Ucrânia. Quando os fatos não ajudam a
“confirmar” o que mais interessa à agenda de Washington, Washington “dá um
jeitinho” nos fatos.
A imprensa-empresa norte-americana press-tituta
culpa Putin; já decidiram que Putin é autor de toda a violência na Ucrânia. É
coisa inventada na cabeça de Washington, mas “virou fato” nos jornais e
televisões: é o que basta como justificativa para qualquer sanção.
Dado que não há prática ou ato, por imundos que sejam,
que Washington não abrace, Putin e a Rússia estão expostos a alto risco de se
tornarem vítima de atentados graves ou dos golpes mais abjetos.
A Rússia parece hipnotizada pelo ocidente, sob forte
motivação para ser incluída como parte do ocidente. Esse anseio por ser aceita
trabalha a favor da agenda de Washington e dos golpes de Washington.
De fato, a Rússia não precisa do ocidente, mas a
Europa, sim, precisa da Rússia. Opção interessante para a Rússia é cuidar dos
interesses russo e esperar que a Europa a procure, interessada.
O governo russo não deve esquecer que a atitude dos
EUA em relação à Rússia é modelada pela “Doutrina Wolfowitz”, que diz:
Nosso primeiro objetivo
é impedir a re-emergência de um novo rival, seja no território da ex-União
Soviética ou em qualquer ponto, que represente ameaça da ordem da ameaça que
foi, antes, a União Soviética. Essa é a consideração dominante que subjaz à
nova estratégia regional de defesa, e exige que trabalhemos para impedir que
qualquer potência dominante se imponha numa região cujos recursos, sob controle
consolidado, bastarão para gerar poder global.
Paul Craig Roberts (nascido em 3/4/1939) é um economista norte-americano e colunista
doCreators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na
administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal,Business
Week eScripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de
política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado
em Counterpunch e no Information Clearing House,
escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde
Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que destruíram a proteção das
liberdades civis dos americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas
corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de
ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra
o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos.
Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da
Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia,
Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.
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