segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Síria: AS ARMAS QUÍMICAS FORAM FORNECIDAS PELOS SAUDITAS



2 setembro 2013, Resistir.info http://www.resistir.info (Portugal)

– "Rebeldes" e residentes locais em Ghouta acusam o príncipe saudita Bandar bin Sultan de fornecer armas químicas a um grupo ligado à al-Qaida

por Dale Gavlak e Yahya Ababneh*

Ghouta, Síria – Quando a maquinaria para uma intervenção militar dos EUA na Síria ganha ritmo após o ataque de armas químicas da semana passada, os EUA e seus aliados podem estar a visar o culpado errado.

Entrevistas com pessoas em Damasco e Ghouta, um subúrbio da capital síria, onde a agência humanitária Médicos Sem Fronteiras disseram que pelo menos 355 pessoas morreram na semana passada devido ao que acreditaram ser um agente neurotóxico, parecem indicar isso.

Os EUA, Grã-Bretanha e França bem como a Liga Árabe acusaram o regime sírio do presidente Bashar al-Assad de executar o ataque com armas químicas, o qual atingiu principalmente civis. Navios de guerra dos EUA estão estacionados no Mediterrâneo para lançar ataques militares contra a Síria como punição por executar um ataque maciço com armas químicas. Os EUA e outros não estão interessados em examinar qualquer prova em contrário, com o secretário de Estado John Kerry a dizer que a culpa de Assad era "um julgamento ... já claro para o mundo".

Contudo, das numerosas entrevistas com médicos, residentes em Ghouta, combatentes rebeldes e suas famílias, emerge um quadro diferente.
Muitos acreditam que certos rebeldes receberam armas químicas através do chefe da inteligência saudita, príncipe Bandar bin Sultan, e foram responsáveis pela execução do ataque com gás.

"Meu filho procurou-se há duas semanas perguntando o que eu pensava que eram as armas que lhe fora pedido para carregar", disse Abu Abdel-Moneim, o pai de um combatente rebelde que vive em Ghouta.

Abdel-Moneim disse que o seu filho e 12 outros rebeldes foram mortos dentro de um túnel utilizado para armazenar armas fornecidas por um militante saudita, conhecido como Abu Ayesha, que estava a liderar um batalhão de combate. O pai descreveu as armas como tendo uma "estrutura como um tubo" ao passo que outras eram como uma "enorme garrafa de gás".

Os habitantes de Ghouta disseram que os rebeldes estavam a usar mesquitas e casas privadas para dormir enquanto armazenavam suas armas em túneis.

Abdel-Moneim disse que o seu filho e outros morreram durante o ataque de armas químicas. Naquele mesmo dia, o grupo militante Jabhat al-Nusra, o qual está ligado à al-Qaida, anunciou que atacaria da mesma forma civis no território [apoiante] do regime de Assad de Latáquia, na costa ocidental da Síria, em retaliação.

"Eles não nos disseram o que eram estas armas ou como utilizá-las", queixou-se uma combatente mulher chamada "K". "Nos não sabíamos que eram armas químicas. Nunca imaginámos que fossem armas químicas".

"Quando o príncipe saudita Bandar dá tais armas a pessoas, ele deve dá-las àqueles que sabem como manejá-las e utilizá-las", advertiu ela. Ela, tal como outros sírios, não querem usar seus nomes completos por medo de retaliação.

Um bem conhecido líder rebelde em Ghouta chamado "J" concordou. "Os militantes do Jabhat al-Nusra não cooperam com outros rebeldes, excepto com combate no terreno. Eles não partilham informação secreta. Simplesmente utilizaram alguns rebeldes comuns para carregar e operar este material", disse ele.

"Nós estávamos muito curiosos acerca destas armas. E infelizmente alguns dos combatentes manusearam as armas inadequadamente e começaram as explosões", disse "J".

Médicos que tratavam as vítimas do ataque de armas químicas aconselharam os entrevistadores a serem cautelosos acerca de perguntas respeitantes a quem, exactamente, era o responsável pelo assalto mortal.

O grupo humanitário Médicos Sem Fronteiras acrescentou que trabalhadores da saúde cuidando de 3.600 pacientes também relataram experimentar sintomas semelhantes, incluindo espuma na boca, sofrimento respiratório, convulsões e visão turvada. O grupo não foi capaz de verificar a informação de modo independente.

Mais de uma dúzia de rebeldes entrevistados informaram que os seus salários vêem do governo saudita.

Envolvimento saudita

Num recente artigo no Business Insider, o repórter Geoffrey Ingersoll destacou o papel do príncipe Bandar nos dois anos e meio da guerra civil síria. Muitos observadores acreditam que Bandar, com seus laços estreitos a Washington, tem estado no próprio cerne do impulso para a guerra dos EUA contra Assad.

Ingersoll referiu-se a um artigo no Daily Telegraph britânico acerca de conversações secretas russo-sauditas alegando que Bandar propôs ao presidente Vladimir Putin petróleo barato em troca do abandono de Assad.

"O príncipe Bandar comprometeu-se a salvaguardar a base naval russa na Síria se o regime Assad fosse derrubado, mas ele também aludiu a ataques terroristas chechenos aos Jogos Olímpicos de Sochi, na Rússia, se não houvesse acordo", escreveu Ingersoll.

"Posso dar-lhe uma garantia de proteger os Jogos Olímpicos no próximo ano. Os grupos chechenos que ameaçam a segurança dos jogos são controlados por nós", disse alegadamente Bandar aos russos.

"Juntamente com responsáveis sauditas, os EUA alegadamente deram ao chefe da inteligência saudita o sinal de aprovação para efectuar estas conversações com a Rússia, a qual não foi surpresa", escreveu Ingersoll.

"Bandar tem uma educação americana, tanto militar como em faculdade [civil], actuou como um embaixador saudita altamente influente nos EUA e a CIA ama completamente este rapaz", acrescentou.

Segundo o jornal britânico Independent, foi a agência de inteligência do príncipe Bandar que pela primeira vez trouxe alegações da utilização de gás sarin pelo regime à atenção de aliados ocidentais, em Fevereiro último.

O Wall Street Journal informou recentemente que a CIA percebeu que a Arábia Saudita era "séria" acerca do derrube de Assad quando o rei saudita nomeou o príncipe Bandar para liderar esse esforço.

"Eles acreditam que o príncipe Bandar, um veterano das intrigas diplomáticas de Washington e do mundo árabe, podia entregar aquilo que a CIA não podia: cargas por avião de dinheiro e armas e, como disse um diplomata americano, intermediação (wasta), a palavra árabe para influência debaixo da mesa".

Bandar tem avançado o objectivo de política externa da Arábia Saudita, informou o WSJ, de derrotar Assad e seus aliados iraniano e Hezbollah.

Para esse objectivo, Bandar actuou em Washington para respaldar um programa de armar e treinar rebeldes a partir de uma planeada base militar na Jordânia.

O jornal informa que ele deparou-se com "jordanianos constrangidos acerca de uma tal base".

Sua reunião em Amman com o rei Abdullah da Jordânia por vezes demoravam oito horas numa única sessão. "O rei brincaria: Oh, o Bandar vem outra vez? Vamos reservar dois dias para a reunião", disse uma pessoa habituada às reuniões.

A dependência financeira da Jordânia em relação à Arábia Saudita pode ter dado forte influência aos sauditas. Um centro de operações na Jordânia começou a funcionar no Verão de 2012, incluindo uma pista de aviação e armazéns para armas. Os AK-47s e munições encomendados pelos sauditas chegaram, informou o WSF, citando responsáveis árabes.

Embora a Arábia Saudita tenha oficialmente sustentado que apoiava rebeldes mais moderados, o jornal informou que "fundos e armas estavam a ser canalizados para radicais ao lado, simplesmente para conter a influência de islamistas rivais apoiados pelo Qatar".

Mas rebeldes entrevistados disseram que o príncipe Bandar é tratado como "al-Habib" ou "o amado" pelos militantes al-Qaida que combatem na Síria.

Peter Oborne, no Daily Telegraph de quinta-feira, acautelou que a corrida de Washington para punir o regime Assad com os chamados ataques "limitados" não significava derrubar o líder sírio mas sim reduzir a sua capacidade de utilizar armas químicas:

Considere-se isto: os únicos beneficiários da atrocidade foram os rebeldes, anteriormente a perderem a guerra e que agora têm a Grã-Bretanha e a América prontas a intervirem ao seu lado. Se bem que pareça haver pouca dúvida de que foram utilizadas armas químicas, há dúvida acerca de quem as disponibilizou.

É importante recordar que Assad foi acusado antes de utilizar gás venenoso contra civis. Mas naquela ocasião, Carla del Ponte, comissária da ONU para a Síria, concluiu que os rebeldes, e não Assad, foram provavelmente os responsáveis.

Alguma informação neste artigo não pôde ser verificada de modo independente. Mint Press News continuará a proporcionar nova informação e actualizações.
29/Agosto/2013
Ver também:
  Chemical Hallucinations and Dodgy Intelligence
(Alucinações químicas e inteligência trapalhona), William Bowles
  "We Informed US of Chemical Weapons Transfer to Syria 9 Months Ago"
("Informámos os EUA da transferência de armas químicas para a Síria nove meses atrás"), Javad Zarif
  Did the White House Help Plan the Syrian Chemical Attack?
(Será que a Casa Branca ajudou a planear o ataque químico sírio?), Yossef Bodansky

[*] Dale Gavlak: correspondente da Mint Press News no Médio Oriente com base em Amman, Jordânia, dgavlak@mintpressnews.com ; Yahya Ababneh: jornalista jordano.

O original encontra-se em www.mintpressnews.com/... e em www.silviacattori.net/article4776.html


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EXCLUSIVE: Syrians In Ghouta Claim Saudi-Supplied Rebels Behind Chemical Attack
Mint Press News http://www.mintpressnews.com (USA)
http://www.mintpressnews.com/witnesses-of-gas-attack-say-saudis-supplied-rebels-with-chemical-weapons/168135/

Rebels and local residents in Ghouta accuse Saudi Prince Bandar bin Sultan of providing chemical weapons to an al-Qaida linked rebel group.


This image provided by by Shaam News Network on Thursday, Aug. 22, 2013, purports to show several bodies being buried in a suburb of Damascus, Syria during a funeral on Wednesday, Aug. 21, 2013, following allegations of a chemical weapons attack that reportedly killed 355 people. (AP Photo/Shaam News Network)
Clarification: Dale Gavlak assisted in the research and writing process of this article, but was not on the ground in Syria. Reporter Yahya Ababneh, with whom the report was written in collaboration, was the correspondent on the ground in Ghouta who spoke directly with the rebels, their family members, victims of the chemical weapons attacks and local residents.

Gavlak is a MintPress News Middle East correspondent who has been freelancing for the AP as a Amman, Jordan correspondent for nearly a decade. This report is not an Associated Press article; rather it is exclusive to MintPress News. 

Ghouta, Syria — As the machinery for a U.S.-led military intervention in Syria gathers pace following last week’s chemical weapons attack, the U.S. and its allies may be targeting the wrong culprit.

Interviews with people in Damascus and Ghouta, a suburb of the Syrian capital, where the humanitarian agency Doctors Without Borders said at least 355 people had died last week from what it believed to be a neurotoxic agent, appear to indicate as much.

The U.S., Britain, and France as well as the Arab League have accused the regime of Syrian President Bashar al-Assad for carrying out the chemical weapons attack, which mainly targeted civilians. U.S. warships are stationed in the Mediterranean Sea to launch military strikes against Syria in punishment for carrying out a massive chemical weapons attack. The U.S. and others are not interested in examining any contrary evidence, with U.S Secretary of State John Kerry saying Monday that Assad’s guilt was “a judgment … already clear to the world.”

However, from numerous interviews with doctors, Ghouta residents, rebel fighters and their families, a different picture emerges. Many believe that certain rebels received chemical weapons via the Saudi intelligence chief, Prince Bandar bin Sultan, and were responsible for carrying out the dealing gas attack.

“My son came to me two weeks ago asking what I thought the weapons were that he had been asked to carry,” said Abu Abdel-Moneim, the father of a rebel fighting to unseat Assad, who lives in Ghouta.

Abdel-Moneim said his son and 12 other rebels were killed inside of a tunnel used to store weapons provided by a Saudi militant, known as Abu Ayesha, who was leading a fighting battalion. The father described the weapons as having a “tube-like structure” while others were like a “huge gas bottle.”

Ghouta townspeople said the rebels were using mosques and private houses to sleep while storing their weapons in tunnels.

Abdel-Moneim said his son and the others died during the chemical weapons attack. That same day, the militant group Jabhat al-Nusra, which is linked to al-Qaida, announced that it would similarly attack civilians in the Assad regime’s heartland of Latakia on Syria’s western coast, in purported retaliation.

“They didn’t tell us what these arms were or how to use them,” complained a female fighter named ‘K.’ “We didn’t know they were chemical weapons. We never imagined they were chemical weapons.”

“When Saudi Prince Bandar gives such weapons to people, he must give them to those who know how to handle and use them,” she warned. She, like other Syrians, do not want to use their full names for fear of retribution.

A well-known rebel leader in Ghouta named ‘J’ agreed. “Jabhat al-Nusra militants do not cooperate with other rebels, except with fighting on the ground. They do not share secret information. They merely used some ordinary rebels to carry and operate this material,” he said.

“We were very curious about these arms. And unfortunately, some of the fighters handled the weapons improperly and set off the explosions,” ‘J’ said.

Doctors who treated the chemical weapons attack victims cautioned interviewers to be careful about asking questions regarding who, exactly, was responsible for the deadly assault.

The humanitarian group Doctors Without Borders added that health workers aiding 3,600 patients also reported experiencing similar symptoms, including frothing at the mouth, respiratory distress, convulsions and blurry vision. The group has not been able to independently verify the information.

More than a dozen rebels interviewed reported that their salaries came from the Saudi government.

Saudi involvement

In a recent article for Business Insider, reporter Geoffrey Ingersoll highlighted Saudi Prince Bandar’s role in the two-and-a-half year Syrian civil war. Many observers believe Bandar, with his close ties to Washington, has been at the very heart of the push for war by the U.S. against Assad.

Ingersoll referred to an article in the U.K.’s Daily Telegraph about secret Russian-Saudi talks alleging that Bandar offered Russian President Vladimir Putin cheap oil in exchange for dumping Assad.

“Prince Bandar pledged to safeguard Russia’s naval base in Syria if the Assad regime is toppled, but he also hinted at Chechen terrorist attacks on Russia’s Winter Olympics in Sochi if there is no accord,” Ingersoll wrote.

“I can give you a guarantee to protect the Winter Olympics next year. The Chechen groups that threaten the security of the games are controlled by us,” Bandar allegedly told the Russians.

“Along with Saudi officials, the U.S. allegedly gave the Saudi intelligence chief the thumbs up to conduct these talks with Russia, which comes as no surprise,” Ingersoll wrote.
“Bandar is American-educated, both military and collegiate, served as a highly influential Saudi Ambassador to the U.S., and the CIA totally loves this guy,” he added.

According to U.K.’s Independent newspaper, it was Prince Bandar’s intelligence agency that first brought allegations of the use of sarin gas by the regime to the attention of Western allies in February.

The Wall Street Journal recently reported that the CIA realized Saudi Arabia was “serious” about toppling Assad when the Saudi king named Prince Bandar to lead the effort.

“They believed that Prince Bandar, a veteran of the diplomatic intrigues of Washington and the Arab world, could deliver what the CIA couldn’t: planeloads of money and arms, and, as one U.S. diplomat put it, wasta, Arabic for under-the-table clout,” it said.

Bandar has been advancing Saudi Arabia’s top foreign policy goal, WSJ reported, of defeating Assad and his Iranian and Hezbollah allies.

To that aim, Bandar worked Washington to back a program to arm and train rebels out of a planned military base in Jordan.

The newspaper reports that he met with the “uneasy Jordanians about such a base”:

His meetings in Amman with Jordan’s King Abdullah sometimes ran to eight hours in a single sitting. “The king would joke: ‘Oh, Bandar’s coming again? Let’s clear two days for the meeting,’ ” said a person familiar with the meetings.

Jordan’s financial dependence on Saudi Arabia may have given the Saudis strong leverage. An operations center in Jordan started going online in the summer of 2012, including an airstrip and warehouses for arms. Saudi-procured AK-47s and ammunition arrived, WSJ reported, citing Arab officials.

Although Saudi Arabia has officially maintained that it supported more moderate rebels, the newspaper reported that “funds and arms were being funneled to radicals on the side, simply to counter the influence of rival Islamists backed by Qatar.”

But rebels interviewed said Prince Bandar is referred to as “al-Habib” or ‘the lover’ by al-Qaida militants fighting in Syria.

Peter Oborne, writing in the Daily Telegraph on Thursday, has issued a word of caution about Washington’s rush to punish the Assad regime with so-called ‘limited’ strikes not meant to overthrow the Syrian leader but diminish his capacity to use chemical weapons:

Consider this: the only beneficiaries from the atrocity were the rebels, previously losing the war, who now have Britain and America ready to intervene on their side. While there seems to be little doubt that chemical weapons were used, there is doubt about who deployed them.

It is important to remember that Assad has been accused of using poison gas against civilians before. But on that occasion, Carla del Ponte, a U.N. commissioner on Syria, concluded that the rebels, not Assad, were probably responsible.

Some information in this article could not be independently verified. Mint Press News will continue to provide further information and updates . 

Dale Gavlak is a Middle East correspondent for Mint Press News and has reported from Amman, Jordan, writing for the Associated Press, NPR and BBC. An expert in Middle Eastern affairs, Gavlak covers the Levant region, writing on topics including politics, social issues and economic trends. Dale holds a M.A. in Middle Eastern Studies from the University of Chicago. Contact Dale at dgavlak@mintpressnews.com

Yahya Ababneh is a Jordanian freelance journalist and is currently working on a master’s degree in journalism,  He has covered events in Jordan, Lebanon, Saudi Arabia, Russia and Libya. His stories have appeared on Amman Net, Saraya News, Gerasa News and elsewhere.


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