5
setembro 2013, Avante http://www.avante.pt (Portugal)
Carlos Lopes Pereira
Os patriotas
da Guiné-Bissau vão comemorar o 40.º aniversário do nascimento da sua República
com orgulho e empenhados em libertar-se da ditadura militar e retomar os
caminhos do progresso.
Há quatro
décadas, o surgimento do novo estado ocorreu em plena luta armada de libertação
nacional conduzida pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo
Verde (PAIGC) contra o colonialismo português.
Para a
ditadura salazarista-marcelista, em especial para o seu representante na Guiné,
general António Spínola, tratou-se de uma colossal derrota política e militar
que contribuiu decisivamente para o eclodir, meses depois, do 25 de Abril, a
que se seguiu a revolução, o derrubamento do fascismo e a derrocada do sistema
colonial português.
A 24 de
Setembro de 1973, às 8 horas e 55 minutos (TMG), reunida nas áreas libertadas
do Boé, no Leste, a primeira Assembleia Nacional Popular guineense proclamou o
nascimento do Estado da Guiné-Bissau – com uma parte do território ainda
ocupada por forças estrangeiras
– e elegeu Luís Cabral como presidente.
A jovem
República foi imediatamente reconhecida pelos países africanos, pela União
Soviética e outros estados socialistas, pelos Não-Alinhados, agravando o
isolamento diplomático do Portugal fascista.
Os
colonialistas procuraram a todo o custo evitar a emergência do novo país
africano, resultado do avanço das lutas emancipadoras dos povos da Guiné e Cabo
Verde, de Angola e de Moçambique.
Já em
finais de 1970 tinham invadido militarmente e agredido a República da Guiné
(Conakry) com o objectivo de liquidar a direcção do PAIGC e derrubar o regime
do presidente Sekou Touré, que apoiava os combatentes da liberdade. Essa
operação, «Mar Verde», foi organizada por Spínola, chefiada por um dos seus
oficiais de confiança, Alpoim Calvão, e autorizada por Marcelo Caetano.
Mais
tarde, a 20 de Janeiro de 1973, agentes dos colonialistas portugueses
assassinaram Amílcar Cabral, o líder da luta emancipadora na Guiné e em Cabo
Verde, e tentaram dividir e destruir o PAIGC.
Em vão.
Como o próprio Cabral previra dias antes da sua morte, numa mensagem aos
combatentes: «(...) Nenhum crime, nenhuma força, nenhuma manobra ou demagogia
dos criminosos agressores colonialistas portugueses será capaz de parar a
marcha da História, a marcha irreversível do nosso povo africano da Guiné e
Cabo Verde para a independência, a paz e o progresso verdadeiro a que tem
direito».
Os
nacionalistas intensificaram a luta armada, introduziram novas armas –
incluindo o míssil terra-ar soviético «Strella», que pôs fim à impunidade da
aviação colonialista –, infligiram pesadas derrotas militares às tropas
portuguesas, retomaram os planos para o lançamento de acções armadas em Cabo
Verde.
Spínola,
derrotado política e militarmente, abandonou o cargo de governador da Guiné e
retirou-se para a metrópole com os seus projectos neocoloniais.
Rumo à
vitória
Sabe-se,
hoje, que nos primeiros meses de 1974, o governo fascista ainda promoveu o
envio de emissários a Inglaterra para conversar com representantes do PAIGC. Ao
mesmo tempo que pedia aos seus aliados da OTAN e à África do Sul racista o
fornecimento de novas e poderosas armas para tentar salvar o exército colonial
da derrota anunciada...
Mas já
era tarde para travar a roda da História. Pouco tempo depois, a longa e heróica
resistência antifascista portuguesa e o descontentamento provocado pelas
guerras coloniais conduzem ao golpe militar de Abril, seguido pela Revolução
dos Cravos.
Os novos
governantes portugueses estabeleceram negociações com o PAIGC – primeiro em
Londres, depois em Argel – e, a 10 de Setembro de 1974, a antiga potência
colonial reconheceu «de jure» a independência da República da Guiné-Bissau,
nascida menos de um ano antes em plena luta armada.
Quarenta
anos volvidos, os guineenses atravessam tempos também difíceis. Passada a
euforia da conquista da independência e, depois, da paz, o seu país vive hoje
sob uma ditadura de generais narcotraficantes, a economia regride, a corrupção
alastra, as divisões inter-étnicas são acirradas, a soberania nacional
enfraquece. Inserida numa sub-região de forte influência neocolonial francesa,
a Guiné-Bissau independente está em perigo.
Mas os
patriotas guineenses, inspirados na vitoriosa e exemplar luta armada de
libertação nacional liderada por Amílcar Cabral e seus companheiros, saberão
construir de novo a liberdade. E retomar nas mãos os caminhos da sua História,
da independência, de um futuro de desenvolvimento e progresso social.
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