terça-feira, 31 de maio de 2011

A DESCARADA RAPINA DAS RIQUEZAS LÍBIAS

31 maio 2011/Jornal de Angola

Omar el Sadr|

Numa altura em que a União Africana acertou uma estratégia, ainda que tardia, para tentar mediar a busca de uma solução para o conflito na Líbia, as grandes potências ocidentais, quais aves de rapina, já não conseguem camuflar aquilo que são as suas verdadeiras e genuínas intenções: abocanhar, sem qualquer tipo de pudor, as imensas riquezas petrolíferas do país.
A máscara de "defesa da democracia", com que tentaram esconder os reais objectivos dos assassinos bombardeamentos aéreos, teve que ser retirada face à inesperada resistência da população líbia, ao desacerto da sua estratégia belicista e à eminente entrada em cena da União Africana para tentar dirimir uma situação que se arrasta penosamente e que não tem um fim militar à vista.
Desde sempre e tal como sucedeu com a invasão norte-americana no Iraque, o que estava verdadeiramente na base da intervenção militar era a disputa das imensas riquezas petrolíferas do país e a intransigência do seu líder máximo em aceitar as imposições externas que lhe eram feitas e acompanhadas com promessas de uma mais importante presença e protagonismo no "paraíso ocidental".
Foi assim que, de um momento para o outro, Muammar Kadhafi passou de "grande líder" a um "perigoso ditador". Foi assim, também, que foi decidido afastar do terreno o grande obstáculo para que o petróleo líbio deixasse de ser a razão principal para a aceitação política de quem ousou pensar pela sua própria cabeça e assim desafiar as orientações impostas.
Não é por mero capricho do destino que os bombardeamentos das forças aliadas se centraram, principalmente, nas regiões costeiras de Brega e Ras Lanuf. Nestas duas localidades ficam situadas as duas principais refinarias do país de onde é exportada cerca de metade da produção petrolífera da Líbia. Também o porto de Marsa el-Hariga, perto de Tobruk mereceu especial atenção dos aliados pois é de lá que eram escoados cerca de 300 mil barris de petróleo por dia.
Desde finais de Abril que as forças aliadas criaram as condições para que os rebeldes retomassem as suas exportações, havendo já conhecimento de que uma empresa sedeada na Suiça, a Vitol, depositou 120 milhões de dólares numa conta bancária no Qatar como avanço para futuros fornecimentos.
Neste momento apenas estão fora do âmbito das sanções impostas pela União Europeia, por um lado, e pelos Estados Unidos, pelo outro, companhias controladas pelos rebeldes. Só que, essas companhias necessitam do petróleo proveniente de regiões que o governo ainda controla e que, por via disso, são alvo diário de ferozes ataques aéreos que já terão causado milhares de vítimas civis.
Actualmente o grande objectivo das forças aliadas é possibilitar que os rebeldes ocupem as restantes regiões petrolíferas do país, de onde eram exportados três quartos da produção total. Essas zonas são a cidade natal de Kadhafi, Sirte e Melitah.
Com a economia paralisada por força da guerra, as forças leais a Kadhafi tentam, também elas, encontrar no mercado quem queira comprar aquilo que ainda conseguem produzir. Neste momento uma empresa libanesa está prestes a fechar um acordo para comprar 600 mil barris de petróleo que se encontrava em armazém.
As sanções impostas pela União Europeia e que impedem transacções com as principais companhias líbias, têm impedido a realização de mais negócios que também são dificultados pela destruição dos petroleiros que os aliados disseram ser "navios de guerra".
Neste momento negociantes do mercado negro agitam-se para ter acesso ao escasso, mas precioso, petróleo que a Líbia (tanto da parte do governo como dos rebeldes) ainda consegue produzir.
Por via do apoio internacional que recebem, os rebeldes estão em melhor situação com a Qatar Petrolium (não é por mero acaso, também, que o Qatar sempre apoiou os aliados na sua tentativa de derrubar Kadhafi) disposta a receber o petróleo saído das refinarias de Tobruk e de Benghazi.
Mas a tentativa de asfixiamento da resistência líbia tem outras componentes que envolvem o petróleo. Em Tripoli, por exemplo, longe das refinarias, um litro de gasolina custa o equivalente a 5.85 dólares, enquanto no bastião rebelde de Benghazi esse valor ronda os 13 cêntimos.
Esta tentativa de rapina das riquezas líbias, que está a colocar o país à beira de uma verdadeira chaga social, tem estado na base da recente intensificação dos bombardeamentos e explica, igualmente, a opção pela destruição dos petroleiros como forma de evitar que o governo possa encontrar formas de arrecadação de receitas por via do escoamento das suas reservas.
Por isso, o ocidente, tudo fará para impedir que a União Africana consiga interromper toda esta estratégia de guerra selectiva. Pelo menos, até que Kadhafi morra ou até quando os rebeldes não dominarem toda a produção petrolífera do país.
É que, só assim, o ocidente terá a certeza de ter conseguido encontrar a forma de ter acesso directo às riquezas do país já que ninguém acredita que os rebeldes tenham a autonomia suficiente para negar o que quer que seja aos seus poderosos "benfeitores".

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