Pedro Ivo Carvalho
11 abril 2011 (Jornal de Notícias) - Quase metade dos portugueses cortou nas despesas com o lazer
O cinto aperta: a dificuldade de os portugueses pagarem despesas essenciais como a prestação da casa, renda, água, luz e gás aumentou. E quase metade (40%), conclui a sondagem Universidade Católica/JN/DN/Antena1/RTP, cortou em gastos com o lazer.
É um país adaptado às exigências da contenção orçamental aquele de que se fala. Mas um país que demonstra alguma dualidade comportamental, como adiante se constatará. Parecem, por vezes, dois países.
Vamos aos números: em meio ano (data do último barómetro sobre o tema), a núvem carregada sobre a cabeça de alguns consumidores mudou de cinzento para negro: "sim", é mais doloroso, agora, pagar a renda ou a prestação da casa, "sim", é mais doloroso, agora, dispensar verbas para os encargos com a água, luz, gás e alimentação. "Sim", também os gastos com os filhos e outros dependentes (escola, creches, ATL e lares de idosos) subiram. Mas não foram saltos olímpicos: o maior (aumento de 23 para 28%) aconteceu mesmo entre os que tiveram de recorrer à imaginação para saldar dívidas com a casa, nas mais variadas vertentes.
Satisfeitos com a vida
No capítulo mercearia, Portugal parece estar, definitivamente, rendido aos produtos brancos: 88% dos inquiridos consomem-nos (destes, 47% aumentaram as compras), 73% considera que a qualidade se manteve e 5% acredita que até aumentou.
Da mesa para a via pública, para dizer que os números recentes sobre a capacidade de atractividade de passageiros por parte dos transportes públicos encontram expressão no estudo da Católica: 15% dos inquiridos passou a andar mais de transportes públicos.
Mas, curiosamente (ou não) - e é aqui que começa o retrato do "outro" Portugal -, quase metade dos cidadãos (46%) ainda utiliza o automóvel. E se somarmos a estes os 6% que até passaram a recorrer mais ao veículo próprio ficamos baralhados com os efeitos da crise nos hábitos de alguns. Ainda assim, 21% admite ter diminuído o uso do carro.
Continuamos no mapa cor-de-rosa: 27% dos inquiridos acredita que, daqui a um ano, a sua vida estará melhor (de notar que o trabalho de campo desta sondagem foi elaborado quatro dias antes do anúncio do pedido de ajuda externa de Portugal), 42% acha que tudo continuará na mesma. Um quinto considera que a sua vida vai piorar e apenas 2% se atreve a dizer que vai piorar muito.
E piorará muito certamente se os portugueses se virem privados do ganha-pão, do emprego: 39% acha muito difícil encontrar uma alternativa compatível com o seu nível de vida e 46% considera difícil. Quase na mesma proporção estão os que acreditam que, caso perdessem o emprego, seriam obrigados a encontrar um outro em nada compatível com o seu nível de qualificações.
Em suma: tanta austeridade ditará um país deprimido, insatisfeito? Nem por isso: a globalidade dos inquiridos está satisfeita com a sua vida. E a provar que o FMI não é tudo, no topo das prioridades surgem as relações de amizade, a vida familiar e a área de residência.
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