terça-feira, 6 de outubro de 2009

HONDURAS, UMA BATALHA LATINO-AMERICANA

A entrada do presidente Manuel Zelaya na Embaixada brasileira em Tegucigalpa, representou um cheque-mate nas pretensões dos ditadores de plantão

30 setembro 2009/Brasil de Fato EDITORIAL http://www.brasildefato.com.br

A entrada do presidente Manuel Zelaya na Embaixada brasileira em Tegucigalpa, representou um cheque-mate nas pretensões dos ditadores de plantão. Além disso, recolocou na ordem do dia, a luta de classes local, na imprensa e na correlação de forças da América Latina.

Como já comentamos nesse espaço, no editorial da edição 339 sob título “O império contra-ataca”, a batalha de Honduras foi uma iniciativa da velha guarda do imperialismo estadunidense, representado pelos interesses do capital internacional e do complexo industrial-militar que opera dentro do pentágono e nas estruturas do Estado imperial, independente da eleição do Obama.

A conjuntura política da América Latina vem se alterando, e nesse momento, está mais evidente que estão em jogo e em disputa três projetos para o continente. O primeiro, segue sendo a recomposição de forças servis aos interesses das empresas transnacionais dos Estados Unidos e a seus interesses de controlar fontes energéticas para manter o abastecimento da economia norte-americana. É o projeto clássico de dominação imperialista, que nos transformou em pátio traseiro, na expressão deles. Perderam na Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e na eleição de governos progressistas. Agora tentam colocar uma barreira à Aliança Bolivariana de Integração dos Povos das Américas (Alba). Por isso, era preciso derrotar o governo Zelaya (que havia aderido a Alba) por ser o elo mais fraco na Meso-América. Ampliaram as bases na Colômbia, intensificaram os acordos dos Tratados de Livre Comércio (TLCs) com outros países, e tentam convencer o Paraguai a manter uma base militar de inteligência. Poucos soldados, mas muitos equipamentos no centro geográfico do continente. Esse projeto tem nos governos do México, da Colômbia e do Peru, seus ponta-lanças no continente.

Há um segundo projeto que está sendo articulado pelos interesses das empresas brasileiras, argentinas e mexicanas, que atuam no continente. A proposta é muito parecida com as antigas formulações da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), e defendem uma integração capitalista entre as grandes empresas do continente, em parceria com as do Norte. Ou seja, buscaríamos maior autonomia e investimentos sob controle das burguesias locais, sem confrontar com o império, mas mantendo uma certa autonomia e parceria. Seria potencializar o desenvolvimento do capitalismo na região.

A disputa de Honduras tem sua presença também, pelo que representaria o potencial dos agro-combustíveis da região.

Há um terceiro projeto, representado pelos governos progressistas que articulam a Alba, que tem uma postura claramente anti-imperialista, anti-Estados Unidos. A proposta da Alba ultrapassa as articulações governamentais e comerciais. Pretende ser um espaço de integração regional entre governos, Estados, infra-estrutura energética, integração econômica e integração popular. O projeto da Alba já tem adesão de diversos governos, liderados por Chávez (Venezuela, Equador, Nicarágua, Cuba, Bolívia, Honduras e dois países-ilhas do Caribe). Tem adesão também de praticamente todos os movimentos sociais que atuam em todos os países, desde o Canadá até o Chile.

O desfecho da batalha de Honduras, nas suas formas e correlação de forças é a disputa dos três projetos. Seu resultado fortalecerá um dos três projetos que estão em disputa na América Latina.

Em nível internacional, o apoio mais decisivo do governo brasileiro fez com que a balança da disputa pendesse para o projeto dois. Ou seja, a recomposição de Zelaya no governo, nesse momento contribuiria para um enorme prestígio do governo brasileiro na região.

Em nível interno, a correlação de forças que parecia consolidada pelos golpistas se alterou fundamentalmente com o regresso de Zelaya e recolocou os atores sociais em movimento em grandes manifestações populares, que são as únicas que agora podem de fato derrotar os golpistas. Há também um salto qualitativo nas propostas políticas. Se antes a proposta era apenas reempossar Zelaya, seguir o calendário eleitoral, com anistia ampla e irrestrita aos golpistas (que é o Acordo de San José - Costa Rica), agora, as forças populares recolocam que o problema não é Zelaya, o problema é a oligarquia econômica e política. E, portanto, além de reempossar Zelaya e prender os golpistas, é necessário reajustar o calendário eleitoral e sobretudo convocar uma Assembléia Constituinte, que represente um novo pacto social entre as forças em disputa. Dessa constituinte certamente haveria um salto na consolidação dos direitos sociais, da soberania do país em relação aos recursos naturais (que seguem espoliados por empresas estrangeiras) e na instalação de um processo político mais democrático.

A batalha de Honduras segue, sem prognósticos de seus resultados, mas estamos diante de um novo cenário em que as forças populares voltaram a cena política e os resultados agora dependem mais delas do que da OEA.

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