1 outubro de 2009/Vermelho http://www.vermelho.org.br
Já reconhecendo seu isolamento, o presidente golpista de Honduras, Roberto Micheletti, admitiu, pela primeira vez, que a deposição de Manuel Zelaya, em 28 de julho, foi uma tentativa de frear a guinada à esquerda de um presidente eleito com credenciais de centro-direita. Em entrevista ao jornal argentino Clarín, o mandatário de fato disse que Zelaya, eleito em 2005 pelo Partido Liberal(mesmo de Micheletti) “preocupou” autoridades do país ao tomar iniciativas como o aumento do salário mínimo.
O golpista falou claramente que a direita hondurenha derrubou Manuel Zelaya por ele ter se tornado "esquerdista", por sua proximidade com governos progressistas latino-americanos. "Tiramos Zelaya por seu esquerdismo e corrupção. Ele foi presidente, liberal, como eu. Mas se tornou amigo de Daniel Ortega, (Hugo) Chávez, (Rafael) Correa, Evo Morales", declarou Micheletti, referindo-se aos presidentes de Nicarágua, Venezuela, Equador e Bolívia, respectivamente.
Micheletti, ex-presidente do Congresso elevado à Presidência após a deposição de Zelaya, disse que a posição do presidente deposto "preocupou" as autoridades do país, citando que ele "convidou comunistas" para compor seu governo.
Indagado sobre a necessidade de promover reformas e mudanças sociais em um país pobre como Honduras - o que é reivindicado por Zelaya - Micheletti comentou que "pode haver reformas, inclusive constitucionais", mas desde que não afetem três pontos: "território, forma de governo e reeleição".
Para ele, o "único erro" de seu grupo foi a forma como foi feita a deposição. "Nosso único erro foi tirá-lo (do poder) como tiramos. De resto, atuamos conforme a lei. Ele violava a Constituição ao buscar uma Constituinte para uma reeleição. Se o tivéssemos prendido e deixássemos aqui, teríamos mortos", argumentou Micheletti, que desde esta segunda-feira passou a adotar um tom mais conciliador, depois de ter endurecido medidas de segurança e fechado duas emissoras oposicionistas que transmitiam pronunciamentos de Zelaya, abrigado desde a semana passada na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, após voltar clandestinamente ao país.
Micheletti já admite isolamento
Micheletti começou a ver fissuras no apoio da elite hondurenha ao seu governo, em especial após decretar Estado de Sítio no país. Em entrevista para a Efe, ontem, ele assegurou que o decreto que impõe limites às liberdades no país não vai durar 45 dias, como era previsto, e que alguns políticos estão se distanciando dele para "trazer água a seu moinho" nas eleições de 29 de novembro.
"Eu fui posto como presidente e me responsabilizam por tudo", disse, assegurando que se sente tão respaldado pelos partidos políticos quanto no dia do golpe. "Eles são os responsáveis que eu esteja aqui, acaso não foram eles os que votaram no Congresso para que eu pudesse aceder a esta posição?", perguntou. No entanto, Micheletti indicou que esses mesmos partidos políticos "possivelmente não estejam muito de acordo" com ele "porque têm aspirações de atrair todos os eleitores do país".
O presidente de fato tentou justificar o estado de sítio afirmando qur Zelaya estaria chamando à "insurreição e às armas". "Isso pode ser considerado um chamado de sedição em um país. Mas o estado de sítio, não vai durar 45 dias, vão se restituir as garantias o mais em breve possível. Sexta-feira possivelmente chamamos ao Conselho de Ministros e entre todos decidiremos qual é a situação que vamos viver, a decisão será tomada na sexta-feira", anunciou menos de uma semana após ditar o decreto.
Micheletti também declarou que deixará o cargo se as instituições do país determinarem a restituição de Manuel Zelaya. "No momento em que a população, no momento no qual a Corte Suprema, no momento em que a Promotoria, no momento em que o Congresso diga que eu não devo seguir, eu imediatamente saco as fotografias que tenho aí e me vou para minha casa", disse. Ele insistiu que Zelaya tem que apresentar-se nos tribunais para responder por acusações que se lhe acusam de caráter econômico e político. "Se os tribunais o deixam em liberdade eu imediatamente saio daqui para que ele se instale", acrescentou.
Recuo de ameça ao Brasil
O presidente golpista de Honduras também recuou do ultimato que havia imposto ao Brasil para que decidisse o destino do presidente deposto Manuel Zelaya, abrigado na embaixada brasileira em Tegucigalpa desde que voltou a seu país, há mais de uma semana. Micheletti disse que não tomará "medidas adicionais" contra a embaixada brasileira em Tegucigalpa.
O Ministério do Exterior do governo de fato havia dado um prazo de dez dias, no último sábado, para que o Brasil decidisse se concederia asilo a Zelaya ou o entregaria à Justiça, o que irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em uma entrevista à Reuters, Micheletti disse, ontem, que não foi consultado previamente sobre a ameaça de tomar "medidas adicionais" quando o prazo for cumprido.
"Nenhuma medida adicional", disse Micheletti, em um claro recuo. A declaração foi dada em uma sala do palácio presidencial que ele ocupa desde o golpe militar de 28 de junho, e que transformou em estúdio de televisão para atender a avalanche de jornalistas que chegam do mundo todo para cobrir a pior crise em décadas na América Central.
"Não vamos fazer neste país nada que possa romper os tratados internacionais que temos", acrescentou, enquanto um soldado uniformizado e carregando um fuzil AR-15 observava desde o canto da sala. O Brasil disse que não aceitava o ultimato de um "governo golpista" e exigiu que se respeite a imunidade da embaixada.
"Eles podem ficar ali o tempo que quiserem. A única coisa que precisamos é a garantia por parte do Brasil de que não lhe permitam fazer uma campanha política em sua própria sede", afirmou Micheletti. Na quarta-feira Zelaya completou 9 dias na embaixada. (Com agências)
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