Washington, Estados Unidos da América, 12 outubro 2009 – As relações crescentes, a nível político e económico, entre a China e o Brasil estão a sustentar a ascensão do maior país sul-americano enquanto grande potência regional tendo a recessão global reforçado a importância das trocas com Pequim.
No ensaio “Implicações estratégicas da ajuda e investimento chinês na América Latina”, publicado pela Fundação Jamestown na semana passada, o investigador Evan Ellis defende que a afirmação de Brasília é uma das principais consequências da investida feita por Pequim na região ao longo dos últimos anos.
“A China tem estado a contribuir para a ascensão do Brasil enquanto potência regional. O desempenho económico brasileiro tem sido conduzido, em parte, pelas suas indústrias exportadoras de minério de ferro e de soja, para as quais a China é um cliente-chave”, refere o estudo.
Para Ellis, a recessão veio “enfatizar e ampliar” a importância da China para o Brasil, uma vez que as exportações brasileiras para os Estados Unidos caíram de forma acentuada (37,8 por cento no primeiro trimestre do ano) enquanto no mercado chinês a procura pelo “made in Brasil” não quebrou, aumentando pelo contrário 62,7 por cento.
Esta evolução, afirma, foi alcançada graças ao pacote de estímulo chinês que incluía projectos de infra-estruturas num montante de 740 mil milhões de dólares, “mantendo elevados níveis de procura chinesa por matérias-primas como o minério de ferro, comprado a empresas brasileiras, nomeadamente a Vale”.
A consequência, sublinha, foi a China tornar-se, no primeiro semestre do ano, no principal mercado de exportação brasileiro, ultrapassando os Estados Unidos.
“A China também surgiu como financiador-chave numa altura em que o Brasil procura os 174 mil milhões de dólares de que precisa para desenvolver as reservas de petróleo em águas profundas nas bacias de Santos e Campos recentemente descobertas”, sublinha Ellis.
Durante conversações com o Banco de Desenvolvimento da China sobre um empréstimo de 10 mil milhões de dólares, exemplifica Ellis, o presidente da petrolífera brasileira Petrobras, Sérgio Gabrielli, afirmou mesmo não haver “ninguém no governo norte-americano com quem seja possível ter discussões como [as que decorriam] com os chineses”.
”A China é também um parceiro cada vez mais importante na transferência de tecnologia para o Brasil. Os dois países estão a estimular várias importantes parcerias, incluíndo a produção conjunta de aviões a jacto de média dimensão, o programa do Satélite de Pesquisa Terrestre China-Brasil (CBERS) e outros programas de cooperação espacial”, adianta.
Para Ellis, as relações comerciais crescentes com a China estão a fazer também com que Brasília se interesse cada vez mais pelos seus vizinhos e, em particular, na construção de infra-estruturas de ligação de cidades do interior como Manaus a portos no Pacífico como Paita e Ilo (Peru) ou Manta (Equador).
Tudo isto, adianta, leva a um crescente interesse brasileiro “na política comercial e estabilidade política dos seus vizinhos do Pacífico” e em “grandes projectos de infra-estruturas que afectam a racionalidade económica desse comércio, como a expansão do Canal do Panamá”.
A crescente influência chinesa, que também é visível no apoio aos líderes socialistas da Venezuela ou Bolívia, está ainda a “minar o papel de primazia dos Estados Unidos como actor económico e social da região”, defende.
“Isto pode ser visto na reorientação da estrutura comercial da América Latina para além dos Estados Unidos, nos esforços latino-americanos para agradar ou evitar ofender a China e no declínio do poder norte-americano como modelo de referência para o desenvolvimento económico e democracia”, refere o ensaio publicado pela Fundação Jamestown. (macauhub)
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