Em entrevista ao programa de notícias dos Estados Unidos Democracy Now,
o jornalista Glenn Greenwald, acredita que "há boas chances que o Supremo
Tribunal Federal dirá que a condenação de Lula da Silva foi um subproduto de
tantas impropriedades que não podemos deixá-la permanecer. No mínimo ele
precisa de um novo julgamento e precisa ser libertado enquanto esse novo
julgamento acontece"
247 - O jornalista Glenn Greenwald, um dos fundadores do The
Intercept, responsável pela publicação das conversas vazadas entre o ex-juiz
Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, da Lava Jato, avalia que a condenação
do ex-presidente Lula não pode mais ser mantida diante dos fatos, que revelaram
uma parceria entre o Judiciário e o Ministério Público na elaboração da
denúncia e no projeto de tirá-lo da disputa presidencial.
Em entrevista ao programa de notícias
dos Estados Unidos Democracy Now, concedida nesta quarta-feira 12, Greenwald
avalia que "há boas chances que o Supremo Tribunal Federal dirá que a
condenação de Lula da Silva foi
um subproduto de tantas impropriedades que não
podemos deixá-la permanecer. No mínimo ele precisa de um novo julgamento e
precisa ser libertado enquanto esse novo julgamento acontece".
Confira alguns trechos, publicados na página do Democracy Now no Facebook,
e assista à entrevista ao final da matéria.
Amy Goodman: Você fez essa série de
reportagens, ela está sacudindo o Brasil nesse momento, pedidos para que Moro
deixe o superministério da Justiça, pedidos para que Lula ser libertado. Quais
são as chances disso acontecer na sua opinião? E por fim, você diz que isso é
maior que o conjunto de informações de Snowden, você tem muito mais informações
do que aquelas que já publicou, o que você vai fazer com elas?
Glenn Greenwald: Nós estamos trabalhando fervorosamente
para publicá-las o mais rápido que pudermos. Obviamente há um intenso desejo de
ver mais informações mas temos a responsabilidade, exatamente como fizemos com
as informações obtidas via Snowden, de ter certeza de que serão bem publicadas,
profissionalmente e acuradamente, porque se fizermos um único erro, ele será
usado para sempre contra nós, minando a credibilidade da reportagem. Mas,
definitivamente, mais reportagens estão a caminho, muito brevemente. Então,
quando você pergunta o que acontecerá com Moro, o que acontecerá com Lula,
muito depende da qualidade das reportagens que fazemos e de quanto mais vamos
mostrar, porque temos muito mais a mostrar. Mas nós acreditamos, somente com
aquilo que nós mostramos, não digo que Sérgio Moro esteja em vias de ser
exonerado, porque ele ainda tem o apoio de Bolsonaro, ele ainda é crucial para
o governo, mas ele certamente sofreu um severo prejuízo e enfraquecimento com
os relatos do fim de semana e nós continuaremos com reportagens que o
prejudicarão e enfraquecerão quando revelarmos mais e não estou seguro de que
ele possa sobreviver a isso. Mas acho que há boas chances que o Superior
Tribunal Federal dirá que a condenação de Lula da Silva foi um subproduto de
tantas impropriedades que não podemos deixá-la permanecer. No mínimo ele
precisa de um novo julgamento e precisa ser libertado enquanto esse novo
julgamento acontece.
"É incrível a disposição de altas
autoridades para mentir sociopaticamente", afirma Glenn Greenwald
Amy Goodman: A Ordem dos Advogados do Brasil
pediu que Moro seja suspenso e que todos os promotores envolvidos no escândalo
sejam dispensados. No entanto, como você apontou, Bolsonaro fez dele um tipo de
superministro da justiça, reunindo as funções de aplicação da lei, vigilância e
investigação, que eram distribuídas entre vários ministérios, todos sob o cargo
do superministro da justiça de Moro, fazendo dele, como você apontou, Glenn
Greenwald, a segunda pessoa mais poderosa do Brasil agora. Então o que
acontece?
Glenn Greenwald: Então, é tão fascinante, Amy,
porque a história me lembra muito da história de Snowden de muitas maneiras. Um
modo, lembra-se, que a história de Snowden essencialmente começou quando
Snowden ouviu James Clapper ir ao Senado e apenas olhar para eles e
simplesmente mentir descaradamente, quando lhe perguntaram: "Você está
coletando dados de milhões de americanos?" Ele disse: "Não, senhor,
não estamos fazendo isso. Não temos tal programa." E foi chocante para
Snowden ver alguém naquela posição tão sociopática, e foi isso que, no final
das contas, levou Snowden a decidir, com a finalidade, "preciso mostrar a
verdade".
Esta é a mesma reação que eu tenho quando ouço o juiz
Moro olhar para as câmeras e dizer: "Eu me irrito com a noção de que eu
tenho qualquer envolvimento em uma acusação", quando eu li todos esses
documentos e conversas de anos que temos - muitos dos quais publicamos e
continuaremos a publicar, mostrando que ele fez exatamente o que
presunçosamente negava, olhando para a câmera com esse sorriso afetado. É incrível,
embora eu ache que não deveria ser, a disposição das pessoas nessas altas
posições de autoridade para mentir sociopaticamente sobre o que eles fazem.
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