segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A VENEZUELA DEVE PROCURAR APOIO EXTRA CONTINENTAL PARA EQUILIBRAR O PESO DOS EUA NA COLÔMBIA

20 setembro 2009/Resistir Info http://resistir.info/

Por James Petras

Entrevistado por Modaira Rubio [*]

- Qual é a sua posição a respeito do acordo de segurança entre os EUA e a Colômbia que permite às tropas estado-unidenses a utilização de instalações militares desse país?

James Petras: A instalação de bases na Colômbia é uma ameaça múltipla. O aumento de forças repressivas dentro da Colômbia, contra os grupos de oposição e os grupos subversivos, recrudesce o conflito e prejudica países vizinhos como o Equador e a Venezuela.

Com essas bases as forças armadas dos EUA têm acesso rápido para um ataque relâmpago a qualquer país da região.

Por outro lado, a partir dali aumentam as possibilidades de subverter as forças armadas venezuelanas e criar desestabilização.

Essas bases também constituem uma ameaça para o Brasil, particularmente agora que fez essa grande descoberta de petróleo no seu território e pela biodiversidade, a água e os recursos da Amazónia, mas em geral são uma ameaça para todo o Cone Sul.

- Essa é a "nova" política de Obama? A militarização continente?

JP: Essa política é uma extensão da colonização [1] . Obama pensa que o império só pode avançar através da militarização porque perdeu terreno no económico.

O Chile, por exemplo, agora tem mais comércio com outras regiões do mundo do que com a América do Norte.

A influência económica estado-unidense está em declínio e precisa compensá-la com poder militar.

Por isso Chávez faz o que é correcto ao diversificar a economia e os mercados.

- Como avalia o resultado da recente Cimeria Extraordinária da UNASUL em Bariloche? Alguns analistas consideraram que a Declaração Final continha alguma ambiguidade sobre a posição assumida em torno das bases militares na Colômbia. Qual é a sua opinião?

JP: O problema da Unasul é que há algumas divergências nos governos. O Chile e a Argentina, por exemplo, querem manter boas relações com os EUA a qualquer custo, mas ao mesmo tempo há fortes pressões dentro e fora desses países para que condenem as bases. Por isso o documento final não faz referência directa aos EUA. Radica aí a sua ambivalência, mas sabemos que não há outro país que esteja a instalar bases na América Latina.

Os povos recusam a militarização. O golpe contra Honduras este ano e a tentativa contra Evo em Setembro do ano passado são exemplos do que pode acontecer, o que se pode gestar nestas bases.

O presidente Lula pediu um documento assinado no qual os EUA assinalem que só vão intervir na Colômbia. Mas sabemos que mesmo que se assine um tal documento não vai garantir nada.

Uma vez dentro de um país, os EUA assumem a soberania sobre como aplicar a sua própria política. Onde os EUA têm bases, fazem praticamente tudo o que lhes dá na gana porque têm imunidade.

No Japão, militares estado-unidenses violaram meninas e a justiça japonesa não pôde fazer nada. A seguir a justiça estado-unidense demora sempre estes julgamentos e minimiza as condenações e as penas.

Depois de o lobo estar dentro não há controle sobre quantas ovelhas vai comer.

- O que podemos fazer como país perante esta ameaça?

JP: A Venezuela deve procurar apoio extra-continental, acordos de segurança com os países que puder na Europa, na Ásia, para fazer um balanço e equilibrar o peso que os EUA têm na Colômbia.

É positivo o recente acordo militar entre o Brasil e a França, por exemplo.

A Venezuela deve aumentar a sua capacidade militar mas o mais importante é diversificar o mercado para a venda de petróleo. É necessário deixar de depender tanto do mercado estado-unidense porque em qualquer momento de crise os Estados Unidos podem cortar a compra de petróleo e isso afectaria muito a economia venezuelana.

Há urgência em serem mais auto-suficientes. É positiva a assinatura de acordos com outros países para que a Venezuela possa ter as suas próprias armas. Lula conseguiu com os franceses transferência de tecnologia na fabricação de aviões de guerra.

A Venezuela deve comprar mais armas, mas além disso deve procurar receber tecnologia para elaborar as suas próprias armas porque, se os EUA organizarem um bloqueio ou um embargo, poderá substituir com produção nacional o que importa.

- Considera inevitável a confrontação bélica da Venezuela com a Colômbia e os EUA?

JP: Há que rever a história contemporânea. Há penetrações da fronteira venezuelana por grupos paramilitares. Já aconteceu o ataque ao Equador. Há seguimento de pessoas por agentes do DAS. Se se puser isto num contexto, vêm-se as agressões contra a Venezuela por parte de um país que já tem essas bases.

Há que preparar-se para este perigo. Há que fazer ver aos "falcões" do Pentágono que terá um alto custo para eles atacar a Venezuela. Eles medem o impacto. Quantos soldados nos custa? Quanto dinheiro? Porque as baixas de soldados têm muito impacto na opinião pública estado-unidense. Por isso não invadem Cuba, porque calculam uns cem mil soldados mortos e feridos, um custo muito elevado para eles. Um cálculo como esse tem que ser feito na Venezuela. Quando invadiram Granada, o Panamá e a República Dominicana deram-se conta de que teriam poucas baixas e pouca resistência, por isso o fizeram. Não é o caso de Cuba. Essa é a forma de impedir o conflito.


[*] Jornalista do Correo del Orinoco , jornal fundado por Simón Bolívar e publicado entre 1818 e 1822, agora relançado.

[1] Ver La colonización en Colombia es un proyecto político-militar del Imperio para América Latina

O original encontra-se em http://www.lahaine.org/index.php?blog=3&p=40135

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