12 abril 2012/Rádio Moçambique http://www.rm.co.mz
Uma conferência sobre as fontes históricas em línguas africanas escritas em árabe e latim terá lugar segunda e terça-feira próximas em Maputo.
O evento, organizado pelo Arquivo Histórico de Moçambique (AHM) e pela Fontes Historicae Africanae (FHA), vai abordar o estudo e a utilização destas fontes da história de África, cuja utilização continua limitada a um pequeno número de pesquisadores africanos e europeus.
Participam nesta conferência pesquisadores nacionais mais outros da África do Sul, Botswana, Níger, Etiópia, Eslováquia, Polónia, Portugal e Turquia. O FHA é um organismo internacional criado em 1964 com o objectivo de preparar e publicar edições e traduções de fontes orais e escritas africanas. Tem trabalhado com textos originais ou colecções de documentos organizados de acordo com temas específicos sobre a história da África Subsahariana.
O AHM e o FHA contam na organização da conferência com a colaboração da Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS) e o Centro de Estudos Africanos (CEA), que tal como o Arquivo Histórico de Moçambique são tutelados pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM).
A utilização das fontes africanas escritas no alfabeto árabe e latim é relativamente recente na historiografia do nosso continente, apesar de elas poderem ser consideradas cruciais para o conhecimento, sobretudo, de períodos da história que foram negligenciados durante eras pelo paradigma eurocêntrico de que o nosso continente estava desprovido de história. Proeminentes filósofos como o alemão Friedrich Hegel ou o britânico David Hume foram acérrimos defensores desta teoria e tiveram seguidores ao longo do tempo, até que a comunidade científica se convenceu de que, afinal, esteve errada aquela concepção.
Os organizadores do encontro sublinham que pesquisas recentes desenvolvidas por historiadores, linguistas, filósofos e antropólogos no nosso continente desvendam a existência de grandes e antigas tradições de escrita no continente. São exemplo as de timbuctu (no Mali), hausa e fulani (Nigéria), swahili (na quase totalidade da África Oriental, incluindo o norte de Moçambique) ou afrikaans (África do Sul). Estas fontes deixaram, como legado um enorme manancial de documentos que testemunham as dinâmicas históricas dos povos africanos documentadas pelos próprios africanos.
Com iniciativas como esta conferência “Fontes de História de África Escritas em Ajami e Alfabeto Latino na África Oriental e Austral” pretende-se encorajar mais pesquisadores a trabalhar sobre a história do nosso continente. O principal destaque destas fontes vai para as ajami, que são aqueles escritos de línguas africanas com base no alfabeto árabe. Esta tradição é tão antiga quanto à presença dos povos árabes no nosso continente, pois este difundiu por cá a sua escrita, que os africanos usaram para registar, nas suas línguas, factos e dinâmicas da sua vida. A historiografia e as correntes de pensamento europeias desdenharam esta verdade e utilidade, difundindo a ideia de, por não ter escrita, a África não tinha história e que o seu passado só podia ser revelado por fontes orais e materiais.
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