25 fevereiro 2014, Odiário.info http://www.odiario.info (Portugal)
Enquanto o sangue dos povos africanos é derramado em torrente, as
companhias petrolíferas e mineiras das potências imperialistas preparam-se para
se apropriar das suas riquezas.
Da República Centro-Africana (622.089 m2, habitada por 5 milhões de
pessoas), apenas se sabe que enfrenta um conflito «étnico e religioso» e que
«2,6 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária imediata, e um de
cada cinco centro-africanos se encontram internamente deslocados. Números que
poderão aumentar à medida que o conflito coloca milhões de pessoas em situação
de risco». (1) Mas, nada se diz das implicações das transnacionais francesas e
do próprio estado francês por detrás do conflito que aquele país vive.
Poucos meios internacionais se preocuparam em destacar informações
precisas que nos permitam interpretar o que realmente acontece hoje na
República Centro-Africana. Existem interesses poderosos no mundo a quem convém
que pouco ou nada se divulgue sobre a verdade dos conflitos que se suscitam na
África negra. Para esses interesses e suas transnacionais mediáticas é
necessário que a opinião pública mundial generalize e banalize a realidade que
se apresenta em vários países daquele continente, fundamentalmente as fomes e
os conflitos por disputa territorial entre as diversas comunidades étnicas, de
forma que permita condicionar a opinião para justificar a intervenção militar
da Europa e dos Estados Unidos sob pretextos «humanitários». Enquanto o sangue
dos povos africanos é derramado em torrente, as companhias petrolíferas e
mineiras das potências
preparam-se para se apropriar das suas riquezas.A crise económico-financeira que se vive em toda a União Europeia incita à rapina das potências contra a periferia capitalista. E como as coisas não têm andado bem para a França decadente, tem-se visto a necessidade de assaltar outras terras para amparar a sua crise e manter a sua hegemonia nas suas ex-colónias. Os dados económicos revelaram que o Produto Interno Bruto (PIB) da França vem caindo (2), marcando a mesma tendência nos últimos anos. Enquanto o desemprego já ultrapassa os números oficiais calculados em 11%.
As políticas internas e externas assumidas pelo regime francês para
enfrentar a crise económica acabaram por desmascarar o desprestigiado
ultraliberal com máscara «socialista», o presidente François Hollande, que
prometeu novos cortes na despesa pública superior a 50 mil milhões de euros
(3), e simultaneamente pediu aos militares franceses para se alistarem numa
nova aventura bélica contra outra ex-colónia francesa para «proteger» a
população civil.
Depois de o fazer na Costa do Marfim, Líbia e Mali, a França
decidiu intervir militarmente na República Centro-africana para «levar a paz» a
esse povo. Com efeito, Hollande não duvidou sequer em completar o envio de
1.600 «angelicais» soldados franceses para fazer «a paz» e salvar o povo
centro-africano da suposta guerra étnica e religiosa.
A 6 de Dezembro de 2013, durante a Cimeira África-França no Palácio
do Eliseu, François Hollande declarou à imprensa que a operação militar na
República Centro-Africana, denominada «Sanguiris», é a resposta a uma «situação
catastrófica» que o seu povo vive, o qual pediu a ajuda da França (…) Os
franceses devem estar orgulhosos por intervir em qualquer lugar
desinteressadamente». E como era de esperar, a ONU votou rapidamente a
Resolução 2127, que autorizou a intervenção militar gaulesa.
Desde 1960 o povo centro-africano sofreu 6 golpes de Estado
promovidos por interesses transnacionais que o levaram à anarquia. Os
sucessivos presidentes centro-africanos David Dacko, Bokassa I, André Kolingba,
Ange F. Patasse, François Bozizé, Michel Djotodia, foram responsáveis
conjuntamente com a França pelo desastre. Na opinião do famoso investigador
Olivier A. Ndenkop «a mão da França, potência colonizadora, foi sempre vista ou
anunciada por detrás dos vários golpes de estado” (4).
No seu trabalho mais recente intitulado «As razões ocultas da
intervenção francesa», Ndenkop assegura que a França sempre manteve interesses
na República Centro-Africana. « (a França) Hoje em dia controla a economia
centro-africana. Bolloré tem o monopólio da logística e do transporte fluvial.
Castel reina sobre o mundo do mercado das bebidas e do açúcar. CFAO controla o comércio
de veículos. A partir de 2007, a France Telecom entrou no baile. AREVA está
presente na África Central embora, oficialmente, o gigante nuclear esteja
apenas na fase de exploração. TOTAL reforça a sua hegemonia no armazenamento e
na comercialização de petróleo.»
Ndenkop revela que a 4 de Dezembro de 2013, enquanto as tropas
francesas se preparavam para tomar a direcção de Bangui, o ministro francês da
economia, Pierre Moscovici, estava reunido com ministros, chefes de estado e
com mais de 560 empresários franceses e africanos para tratar de salvar a
posição da França na África.
Mas a pergunta crucial que muitos fazem — Porque procura a França
por meio da guerra o que sempre conseguiu numa paz relativa? Para o
investigador Olivier A. Ndenkop a resposta é: a China, a verdadeira ameaça para
o Eliseu.
Desde que a China fez a sua entrada crucial na África em busca da
matérias-primas, fundamentalmente hidrocarbonetos, uma espécie de feitiço
conjurado pela França fez com que se atiçassem todos os conflitos étnicos e
religiosos nesse e noutros países do continente para derrubar os governos que
se aliaram ao gigante asiático.
A maior parte dos investimentos estrangeiros concentraram-se na
Nigéria, África do Sul, Sudão, Argélia, Zâmbia, Gana, República Democrática do
Congo e Etiópia (5).
Ndenkop afirma que «François Bozizé, que teve o tempo de se fazer
eleger presidente em 2005, não resistiu às propostas da China, que multiplicou
as ajudas e aumentou os seus investimentos em todo o continente com menos
condicionamentos. O que contrasta com a arrogância e o paternalismo dos “sócios
tradicionais” da África».
Em Março de 2013, o deposto presidente François Bozizé revelaria à
Rádio França Internacional o que muitos desconfiavam «Dei o petróleo aos
chineses e isso tornou-se um problema (…) derrubaram-me por culpa do petróleo».
*Analista Internacional
Fontes:
(1)
http://www.fao.org/emergencies/resources/documents/resouces-detail/en/c213104/
(2) http://www.datosmacro.com/pib/francia
(3) http:www.correodelorinoco.gob.ve/multipolaridad/gobierno-frances-reducira-aun-mas-gasto-publico/
(4) http://www.lahaine.org./index.php?p=74287
(5) http://actualidade.rt.com/actualidad/view/99381-africa-sierra-leona-china-aumenta-presencia
(2) http://www.datosmacro.com/pib/francia
(3) http:www.correodelorinoco.gob.ve/multipolaridad/gobierno-frances-reducira-aun-mas-gasto-publico/
(4) http://www.lahaine.org./index.php?p=74287
(5) http://actualidade.rt.com/actualidad/view/99381-africa-sierra-leona-china-aumenta-presencia
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