20 fevereiro 2014, Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)
Por Vanessa Martina Silva, para o Portal Vermelho
Violência tomou
conta das ruas de Caracas nos últimos dias| Foto: Efe
A técnica para derrubar governos de forma “suave” foi idealizada pelo cientista político e fundador da Instituição Albert Einstein, Gene Sharp. Baseados na não violência como ação política, a prática é utilizada há cerca de quinze anos pela CIA para derrubar governos considerados indesejáveis pelos Estados Unidos sem provocar indignação internacional. A práxis já foi empregada na Venezuela, em Honduras, no Paraguai e pode ser também observada nas “revoluções coloridas” no Oriente Médio.
O jornalista e
ativista político francês, Thierry Meyssan, em artigo publicado pela Rede Voltaire,
aponta que “quando o golpe fomentado pela CIA na Venezuela falhou em abril de
2002, o Departamento de Estado também recorreu à Instituição Albert Einstein.
Esta aconselhou os empresários durante a organização do referendo revogatório
contra o presidente Hugo Chávez. Gene Sharp e sua equipe guiaram os líderes da
Súmate durante manifestações de agosto de 2004. Seguindo a técnica que já se
tornou clássica, estes últimos lançaram acusações de fraude eleitoral e
exigiram a saída do presidente. Eles conseguiram levar para as ruas a burguesia
de Caracas, mas o apoio popular ao governo Chávez foi demasiado forte para
permitir que ele fosse derrubado. Assim, os observadores internacionais não
puderam deixar de reconhecer a legalidade da vitória de Hugo Chávez” [1].
A ideia central de Sharp se baseia no princípio de que todo governo se deve à obediência das pessoas e se estas não acatarem as ordens, os líderes não terão poder. A não violência que defende é de uma “guerra investida em outros meios” já que para ele, “a natureza da guerra mudou no século 21. (…) Nós combatemos com armas psicológicas, sociais, econômicas e políticas”. Em seus livros Da ditadura à democracia e A política da ação não violenta estão descritos 198 métodos para derrubar governos por meio de golpes suaves. Para ele a guerra “corpo a corpo” não é eficaz porque implica enormes gastos econômicos.
Na Venezuela o processo se dá de acordo com as seguintes etapas:
1ª etapa: abrandamento:
A ideia central de Sharp se baseia no princípio de que todo governo se deve à obediência das pessoas e se estas não acatarem as ordens, os líderes não terão poder. A não violência que defende é de uma “guerra investida em outros meios” já que para ele, “a natureza da guerra mudou no século 21. (…) Nós combatemos com armas psicológicas, sociais, econômicas e políticas”. Em seus livros Da ditadura à democracia e A política da ação não violenta estão descritos 198 métodos para derrubar governos por meio de golpes suaves. Para ele a guerra “corpo a corpo” não é eficaz porque implica enormes gastos econômicos.
Na Venezuela o processo se dá de acordo com as seguintes etapas:
1ª etapa: abrandamento:
·
Desenvolvimento
de matrizes de opinião centradas em déficits reais ou potenciais; promoção de
fatores de mal-estar, como desabastecimento, criminalidade, manipulação do
dólar, etc.; Denúncias de corrupção, promoção de intrigas e fratura da unidade.
Apesar dos esforços do governo para conter a criminalidade,
combater a corrupção e ajustar a economia – temas em que os governos
chavistas não tiveram tanto êxito – e apesar de Maduro ter convocado a
oposição para o diálogo, a imprensa nacional e internacional veicula somente
informações negativas sobre a gestão Maduro. Empresários e especuladores
nacionais e internacionais seguem manipulando o dólar e denúncias – não
comprovadas – envolvendo a alta cúpula chavista foram disseminadas, o
sistema elétrico do país apresentou graves falhas que levou a diversos
apagões – o governo não descarta a ação de sabotadores. Além disso, há uma campanha patrocinada
diretamente pelo governo dos Estados Unidos que tem ajudado os
opositores violentos com dinheiro e apoio político desde o começo, como
denunciou a jornalista e advogada venezuelano-estadunidense Eva Golinger. Ela
também denunciou o chamado “Plano Estratégico Venezuelano”, formulado pelos EUA em conjunto com o
ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, com o objetivo de debilitar o governo
nas eleições de 8 de dezembro.
2ª etapa: deslegitimação:
2ª etapa: deslegitimação:
·
Manipulação
do anticomunismo; Campanhas publicitárias em defesa da liberdade de imprensa,
direitos humanos e liberdades públicas; Acusações de totalitarismo e pensamento
único.
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) – entidade de
donos de meios de comunicação – lançou diversos comunicados dizendo que na
Venezuela há censura da imprensa e que falta segurança para o livre exercício
do jornalismo, conteúdo amplamente veiculado na imprensa internacional. Apesar
de ter incorporado os programas do chavismo a seu “plano de governo”, Henrique
Capriles em seus discursos eleitorais enfatizava
o fim da ajuda da Venezuela a Cuba, à Bolívia. Em seu discurso durante a
campanha de 2012, foi enfático: “o que o socialismo do século 21 fez por
Caracas? A única coisa que o governo fez pela população foi a construção de
casas”.
3ª etapa: esquentamento da rua:
3ª etapa: esquentamento da rua:
·
Montagem
dos conflitos e fomento da mobilização nas ruas. Elaboração de uma plataforma
de luta que globalize as demandas políticas e sociais. Geração de todo tipo de
protestos, expondo falhas e erros governamentais. Organização de manifestações,
fechamento e tomada de instituições públicas que radicalizam a confrontação.
Este é o atual momento em que vive a Venezuela. A manipulação das
informações do que ocorre no país chegou ao Twitter. Imagens manipuladas, descontextualizadas e falsas estão circulando
por todo o mundo com supostos atos violentos da polícia bolivariana. O líder
opositor Leopoldo Lópezconvocou as pessoas a irem às ruas com a campanha
“A Saída” pedindo textualmente a derrubada de Maduro por meio de um golpe.
Apesar de estar nas ruas, a oposição não tem uma plataforma clara de
reivindicações que não a queda do regime constitucionalmente eleito. Desde o
dia 12 de fevereiro, quatro pessoas já morreram vítimas de violência durante as
manifestações. O governo pediu que os casos sejam investigados e não descarta a
ação de franco-atiradores, também cogita a possibilidade de que a vida dos
opositores corre risco e que algum deles pode sofrer algum atentado para
comover a opinião pública internacional.
4ª etapa: combinação de diversas formas de luta:
4ª etapa: combinação de diversas formas de luta:
·
Organização
de marchas e tomada de instituições emblemáticas, com o objeto de cooptá-las e
convertê-las em plataforma publicitária. Desenvolvimento de operações de guerra
psicológica e ações armadas para justificar medidas repressivas e criar um
clima de ingovernabilidade. Impulsionamento de campanha de rumores entre forças
militares e tratar de desmoralizar os organismos de segurança.
5ª etapa:
fratura institucional:
·
Sobre
a base das ações de rua, tomada de instituições e pronunciamentos militares,
obrigando a renúncia do presidente.[2]
Este é o mesmo processo pelo qual passaram a Geórgia, Sérvia,
Líbia, Paraguai e Honduras e pelo qual estão passando Tailândia e Síria.
Longe do que podem imaginar alguns setores da sociedade brasileira, incentivados por analistas da imprensa tradicional, o interesse dos Estados Unidos pela América Latina é crescente e não descendente. A Venezuela possui uma das maiores reservas de ouro negro do mundo e tem nos Estados Unidos, ainda, seu principal comprador. Além disso, o auxílio que o país bolivariano dá a outras nações do Caribe e da América Andina por meio da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), tem um caráter emancipatório que não interessa aos interesses imperialistas do gigante do norte.
A guerra midiática continua. Como armas, os chavistas têm os dados econômicos dos últimos quinze anos, os benefícios sociais e o empoderamento da população que está organizada e informada em defesa da Revolução Bolivariana. Como cantavam os ativistas brasileiros que nesta quarta-feira (19) se reuniram diante do consulado venezuelano em São Paulo, “Recua, golpista, recua. O poder popular tá na rua”.
Notas:
[1] La Albert Einstein Institution: no violencia según la CIA em http://www.voltairenet.org/article123805.html
[2] Manual de autoajuda para golpes de Estado “brandos” em http://desacato.info/2012/07/manual-de-autoajuda-para-golpes-de-estado-brandos/
Longe do que podem imaginar alguns setores da sociedade brasileira, incentivados por analistas da imprensa tradicional, o interesse dos Estados Unidos pela América Latina é crescente e não descendente. A Venezuela possui uma das maiores reservas de ouro negro do mundo e tem nos Estados Unidos, ainda, seu principal comprador. Além disso, o auxílio que o país bolivariano dá a outras nações do Caribe e da América Andina por meio da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), tem um caráter emancipatório que não interessa aos interesses imperialistas do gigante do norte.
A guerra midiática continua. Como armas, os chavistas têm os dados econômicos dos últimos quinze anos, os benefícios sociais e o empoderamento da população que está organizada e informada em defesa da Revolução Bolivariana. Como cantavam os ativistas brasileiros que nesta quarta-feira (19) se reuniram diante do consulado venezuelano em São Paulo, “Recua, golpista, recua. O poder popular tá na rua”.
Notas:
[1] La Albert Einstein Institution: no violencia según la CIA em http://www.voltairenet.org/article123805.html
[2] Manual de autoajuda para golpes de Estado “brandos” em http://desacato.info/2012/07/manual-de-autoajuda-para-golpes-de-estado-brandos/
Leia também:
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