segunda-feira, 20 de maio de 2013

Moçambique/Cooperação com China não é recolonização --- Guebuza



19 maio 2013, Radio Moçambique http://www.rm.co.mz

O presidente moçambicano, Armando Guebuza, refutou hoje as alegações de certos círculos ocidentais de que China tenciona recolonizar os países africanos para ter acesso aos seus vastos recursos, vincando que “este país amigo de Moçambique” já provou que a sua intenção é ajudá-los e cooperar com eles na base de ganhos mútuos.

Falando em conferência de imprensa, que marcou o fim da visita de trabalho de sete dias à China, que descreveu como “muito boa e um sucesso total”, Guebuza explicou que o relacionamento entre a China e África iniciou nos tempos em que os seus povos lutavam contra a colonização.

Guebuza recordou que já nessa altura, o Ocidente acusava a China de estar a apoiar os movimentos de libertação, incluindo a Frelimo em Moçambique, como pretexto para exportar o seu comunismo.

Ele recordou que mesmo Eduardo Mondlane, o fundador da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) que liderou a luta do povo moçambicano pela independência, explicava aos seus compatriotas que neste tipo de alegações era imperioso optar pela posição que melhor servisse os seus interesses.

Mesmo Nelson Mandela disse a alguns lideres ocidentais, depois de se tornar presidente na África do Sul, que nunca tomaria por inimigo alguém apenas porque é inimigo deles.
“Os vossos inimigos não são necessariamente meus inimigos”, dizia Mandela, quando alguns países do Ocidente exigiam que rompesse relações com alguns estadistas como Fidel Castro e Muhammar Khadafi, alegando que eram déspotas ou ditadores.

Vincava que continuaria a manter um relacionamento com estes estadistas porque sempre estiveram do seu lado nos momentos mais difíceis da sua vida e dos seus compatriotas, contrariamente a alguns países do Ocidente que estavam do lado do regime que o mantinha encarcerado.

Guebuza, que respondia à uma questão colocada pela AIM sobre as tais alegações, mostrou-se tranquilo, denotando que não vê risco nenhum da alegada recolonização.
Explica que estas alegações são feitas por pessoas que tratam os dirigentes africanos como se fossem criancas que não sabem o que é bom para elas.

“Ora, quando alguém já é adulto, sabe o que quer e como quer, pelo que essas alegações não fazem sentido”, disse Guebuza, para de seguida acrescentar que quando a China apoiava a luta dos moçambicanos contra os seus colonizadores, o Ocidente alegava então que Beijing estava a exportar o seu comunismo.

Aliás, alguns líderes ocidentais, defensores da teoria de recolonização de África por Beijing, eles próprios deslocam-se frequentemente à China para implorar apoio de biliões de dólares e tentar mobilizar investimentos para os seus próprios países, a semelhança daquilo que Beijing está a fazer para os africanos.

Para a ironia do destino, ainda num passado recente, muitos lideres ocidentais evitavam a todo o custo tratar esta mesma China com decência, e muito menos com seu próprio nome, e preferiam chavões como “A China Vermelha”’ ou “A China Comunista”. Hoje, os mesmos pedem o seu apoio para ultrapassar a grave crise financeira que se abateu sobre os seus países e que ameaça a sua estabilidade política e social, como ruir os seus próprios edifícios democráticos, porque, segundo Mandela, “não há democracia quando o povo está de barrigas vazias”.

Peritos ocidentais dizem que China está a ajudar África a prosperar
Muitos peritos, incluindo o Professor norte-americano Morten Jervern, concluíram que graças à ajuda chinesa em particular, e da Ásia em geral, África deverá atingir em 2050 um PIB igual ao EUA e da Europa combinado.

Apontam Moçambique Gana e Nigéria como sendo alguns países que irão contribuir para que isso aconteça.

Tal como voltou a defender Guebuza nesta conferência de imprensa, o professor Jerven é também contra as estatísticas que colocam certos países na cauda das listas de certas avaliações económicas, como Moçambique e Gana.

Jerven diz, no seu estudo que as metodologias usadas são ultrapassados porque ignoram os progressos económicos registados em determinados países.
Refere que economicamente, “o continente deu um grande salto” comparativamente maior ao pelas estatísticas dos seus respectivos países.

Defende esta sua tese no seu livro intitulado “Poor Numbers: how we are misled by African development statistics and what to do about it”, vincando que a metodologia usada não mostra a realidade.

Ele sustenta que nos próximos 40 anos, “África será a máquina económica do Mundo’’, não só porque a Europa está em crise irreversível, e os EUA em declínio, mas, acima de tudo, porque África tem imensuráveis recursos, como Moçambique que está sentado em muitos deles’’.

Este facto é aliado a sua população que está sempre a crescer, ao invés dos países ocidentais, que está a envelhecer.

Diálogo com a Renamo terá um desfecho a favor do povo porque o contrário seria uma outra tragédia
Questionado se o diálogo com a Renamo poderá ter um desfecho que evite a eclosão de uma nova guerra, Guebuza foi categórico, vincando que não vê nada que justifique “um recuo que nos leve para trás do que éramos há 20 anos, depois nos termos reconciliado”, isto é, ‘’depois de todo este esforço de anos em que o povo soube muito bem reconciliar-se, e manter a todo o custo a paz de que desfrutamos’’.

“Recuarmos para 20 anos atrás, seria uma grande tragédia e um novo trauma para o povo’’, disse Guebuza em tom convicto, frisando que não espera uma nova guerra em Moçambique.

Vincou que “isso seria um grande erro”, deixando entender que não vê nada que seja insolúvel, desde que haja bom senso de ambas as partes e, acima de tudo, apego pelo bem-estar dos moçambicanos que já saborearam a paz e o que de bom e útil ela é capaz de proporcionar a todos.

Guebuza diz que críticas ao governo é algo natural
A AIM também quis saber as críticas proferidas por alguns cidadãos alegando que Moçambique está muito mal. Estas críticas contrastam com os elogios feitos pelos estrangeiros de que o Pais está no bom caminho, dado que é um dos 10 países do mundo e um dos sete africanos, que registaram nos últimos 10 anos um elevado crescimento.

Em resposta Guebuza disse que “isso é muito normal”. Fez ver que para quem está no poder é normal ser criticado por uns e aplaudido por outros.

Ele ironizou que estas críticas surgem mesmo quando o que se está a fazer é bom ou é susceptível de vir a beneficiar as pessoas que proferiram essas mesmas críticas.
Como exemplo cita a construção da ponte que ligará a cidade de Maputo ao distrito da Katembe.

Os críticos deste projecto argumentam que a melhor solução seria a aquisição de cinco batelões. Outros alegam que a construção da estrada circular de Maputo é um dinheiro mal gasto, porque melhor seria investir na agricultura.

Guebuza fez ver que há criticas que são feitas por pessoas que estão contra porque não querem ver nada ser feito pelo seu governo, ao mesmo tempo que há os que criticam porque ainda não perceberam a razão de ser das coisas, ou porque pensam que nós estamos pior que outros países. (RM/AIM)

Nenhum comentário: