quinta-feira, 20 de maio de 2010

BRASIL E TURQUIA ABREM UM NOVO CAMINHO PARA O IRÃ

20 maio 2010/Carta Maior http://www.cartamaior.com.br

Antes de viajar para o Irã, o presidente Lula disse que acreditava que tinha 99% de chances da abertura para uma conversação bem sucedida com o Irã, embora os EUA tenham oficialmente expressado ceticismo extremo em que alguma coisa pudesse ser acordada. O que o Brasil e a Turquia fizeram foi trazer o Irã de volta aos termos do acordo de outubro 2009, estabelecidos em Genebra, pelo qual o Irã enviaria o grosso de seu urânio enriquecido para a Rússia e a França para reprocessá-lo e então ser usado como combustível em pesquisas médicas do reator nuclear em Teerã. O artigo é de Robert Dreyfuss (The Nation).

Robert Dreyfuss - The Nation

Data: 19/05/2010

O melhor comentário feito até agora sobre o brilhante acordo diplomático operado por Brasil, Turquia e Irã, ontem (17/05), foi do embaixador da Turquia nas Nações Unidas, que disse, em resposta à negativa reação lisonjeira de Washington:

“Eu esperava uma declaração mais encorajadora. Nós não acreditamos em sanções, e eu não acredito que ninguém possa nos desafiar, ao menos certamente não os Estados Unidos. Elas não funcionam”.

A despeito da tática bate e assopra da administração Obama, outros países reagiram positivamente ao dramático desenvolvimento do acordo. O presidente Sarkozy, da França, chamou-o de “um passo positivo”, acrescentando:

“A França examinará o acontecimento com o Grupo dos Seis e está pronta para discutir sem preconceitos todas as implicações da totalidade do dossiê do Irã”.

A China, também, que com muita relutância se soma à idiotia das propostas de sanções dos EUA, agora parece ter se afastado de vez:

“A China observou os relevantes relatórios e expressa seu reconhecimento e boas vindas aos esforços que todas as partes tem feito para buscar positivamente uma solução apropriada à questão nuclear iraniana”.

Antes de viajar para o Irã, o presidente Lula disse que acreditava que tinha 99% de chances da abertura para uma conversação bem sucedida com o Irã, embora os EUA tenham oficialmente expressado ceticismo extremo em que alguma coisa pudesse ser acordada. O que o Brasil e a Turquia fizeram foi trazer o Irã de volta aos termos do acordo de outubro 2009, estabelecidos em Genebra, pelo qual o Irã enviaria o grosso de seu urânio enriquecido para a Rússia e a França para reprocessá-lo e então ser usado como combustível em pesquisas médicas do reator nuclear em Teerã.

Sob o novo acordo, operado por Brasil e Turquia, o Irã enviará metade de seu urânio enriquecido a Turquia. Certo, o Irã tem mais urânio enriquecido hoje do que tinha em outubro, mas o fato mesmo de que o Irã ainda está disposto a enviar para o exterior parte de seu combustível é um sinal de que a diplomacia ainda pode funcionar. Nos EUA, contudo, a reação é brutalmente negativa. É quase como se a administração Obama estivesse mais preocupada com a sua dura batalha para trazer os russos e chineses para a defesa de sanções (inúteis) contra o Irã do que com uma solução real para o problema.

O Washington Post, em seu petulante e bonitinho editorial de hoje (18/05), chamado “barganha má”, diz que o acordo Brasil-Turquia “nada fará para deter o programa nuclear de Teerã”, que pode tirar a administração Obama “dos trilhos”, pressionando-a para a imposição de sanções e que isso representa “um grande golpe diplomático para o regime do Ayatollah Ali Khamenei”. De fato, deve ter sido um golpe diplomático para os Estados Unidos, se Washington não tivesse insistido estupidamente em que os termos do acordo de Outubro eram sacrossantos e não poderiam ser alterados para pôr as coisas de volta aos trilhos, depois de o Irã ter aceitado e em seguida rejeitado-o. Poderia ter sido um golpe diplomático para o presidente Obama, se ele tivesse encorajado o Brasil e a Turquia a irem em frente, em vez de ter seu porta-voz desdenhando o esforço e enviando advertências grosseiras ao Brasil.

O New York Times reportou que a administração Obama está com raiva do acordo, em parte porque Obama encontrou pessoalmente os presidentes do Brasil e da Turquia em Washington, no começo do mês e lhes enviou cartas solicitando vivamente que rejeitassem um acordo com o Irã.

O texto do plano dos 10 pontos diz especificamente que o Irã, como signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear [NPT, em inglês] tem o direito de enriquecer urânio:

“Reafirmamos nosso compromisso com o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e, em acordo com os artigos do TNPAN, reafirmamos o direito de todos os estados-membros, inclusive a República Islãmica do Irã, a desenvolverem pesquisa, produção e uso de energia nuclear (bem como o ciclo do combustível nuclear, incluindo as atividades de enriquecimento) para fins pacíficos, sem discriminação”.

Isso, mais do que qualquer outra coisa, está levando algumas pessoas do [Washington] Post e da Administração Obama à loucura. De fato, a despeito da existência de resoluções solicitando ao Irã que suspenda seu programa de enriquecimento, e de que o presidente Obama tenha há muito tempo atrás declarado que o Irã tinha o direito de enriquecê-lo, desde que sob controle da IAEA, o país não o fez.

O [Washington] Post, na sua cobertura do acordo, (18/05), chama a diplomacia do Brasil e da Turquia de “uma revolta das pequenas potências sobre os direitos e o prestígio da potência nuclear”. Quanto imperialismo!

Já que as sanções não funcionarão e que a ação militar seria uma catástrofe, você poderia pensar que Obama estaria mirando para o progresso diplomático. Você estaria errado. O [Washington] Post reporta que os EUA já têm o esboço de um texto de resolução pronto demandando novas sanções contra o Irã.

Tradução: Katarina Peixoto

Nenhum comentário: