quinta-feira, 22 de maio de 2008

Portugal/Português ganha adeptos catalães como língua de trabalho

Barcelona, 21 maio 2008 (Lusa) - A importância econômica do português, como língua de trabalho e como exigência para alguns empregos, desperta um crescente interesse entre moradores da Catalunha, na Espanha.

O interesse por cursos orientados para os usos práticos da língua poderá, segundo representantes portugueses ouvidos pela Agência Lusa em Barcelona, disfarçar a queda significativa de alunos nas universidades.

Centenas de jovens e adultos estão inscritos em cursos de português na Catalunha, demonstrando que há "empregos para quem fale português", afirmou à Lusa o cônsul português em Barcelona, Bernardo Futscher Pereira.

"Há emprego para quem tenha um domínio do português. Daí que seja necessário apostar na promoção da utilidade prática da língua", explicou.

A opinião é partilhada por Helena Tanqueiro, representante do Centro de Língua Portuguesa na Catalunha, instalado na Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), e que está associado à Faculdade de Tradução e Interpretação.

Mais de 250 alunos estão inscritos no curso de licenciatura em tradução e interpretação com português, uma porcentagem significativa entre os cerca de 1.200 estudantes da faculdade.

"Cerca de 84% dos alunos que saem do curso conseguem trabalho na sua área nos primeiros seis meses", afirmou Tanqueiro.

Cursos

Em contraste com este interesse por cursos lingüísticos com empregabilidade, dados oficiais apontam que o português está perdendo adeptos nos cursos superiores de filologia, que, em várias universidades espanholas, têm menos de cinco alunos.

O curso de filologia portuguesa na Universidade da Corunha só tem um aluno. Na Universidade de Barcelona, a disciplina tem apenas quatro estudantes.

No caso da língua portuguesa, centenas de alunos freqüentam cursos de português pensando num mercado de trabalho especifico - como tradução e interpretação - ou em empregos na economia globalizada.

Ainda que o interesse por línguas como o chinês e o árabe esteja roubando alunos de cursos em línguas mais tradicionais, como as européias, as perdas são muito menores no português do que no francês, italiano e alemão, segundo Helena Tanqueiro.

Os cursos pós-laborais oferecidos pelo Instituto Camões têm, neste ano, cerca de uma centena de alunos, porque muitos dos estudantes "precisam do português para os seus empregos".

O grupo é ampliado pelos cerca de 250 alunos por ano que lecionam português na Escola Oficial de Idiomas, "tanto gente jovem como adulta, espanhóis e estrangeiros que residem em Barcelona", explicou representante do Centro de Língua Portuguesa na Catalunha.

Para Helena Tanqueiro, é preciso avançar na promoção de cursos de português orientados para "fins específicos", passando de uma visão quase puramente acadêmica da língua para uma realidade "mais prática", e apostando tanto nos falantes de português como nos estrangeiros.

Projetos

Paralelamente à aposta nos ensinos universitário e superior, as autoridades portuguesas continuam empenhadas no estímulo ao ensino médio, para que o português seja reconhecido como uma língua opcional nos currículos das escolas catalãs.

Se a iniciativa avançar, criaria um novo impulso do português na região, que se traduziria depois em níveis superiores de ensino.

Um projeto pioneiro já é desenvolvido na Escola Secundária Juan Corominas, financiando a oferta do português, escolhido por cerca de 80 alunos como língua optativa.

Ampliar o projeto ao sistema geral requer "pedagogia e persistência" junto das autoridades regionais para quem a incorporação de uma nova língua ao currículo representaria investimentos significativos, disse o cônsul português em Barcelona, Bernardo Futscher Pereira.

"Temos por isso que demonstrar de uma forma conclusiva que faz sentido, porque [a língua] é procurada pelos alunos e pode ajudar em alguns empregos", ressaltou.

Ensino do idioma

Um segundo projeto-piloto poderá começar na localidade de Seu D'Urgell, onde, devido à proximidade a Andorra, há um elevado número de falantes do português, majoritariamente luso-descendentes.

Segundo Helena Tanqueiro, conseguir a adesão das autoridades a projetos deste tipo estimula o combate a algumas percepções erradas. A especialista citou como exemplo a necessidade de saber se, dada a proximidade lingüística entre o espanhol e o português, é necessário aprender as duas línguas.

"Inicialmente pensa-se que não é preciso, mas depois chega-se ao mundo do trabalho e percebe-se as necessidades e a vantagem de dominar o português", disse.

Para avaliar a situação atual do ensino do português, estão sendo realizados vários estudos, como um questionário para que alunos avaliem a importância econômica da língua. O projeto é promovido pelo Instituto Camões.

Na Catalunha, estão sendo recolhidos dados sobre os falantes de português nas escolas de ensino médio - cerca de mil brasileiros e portugueses - e preparados eventos sobre o ensino do português.

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