domingo, 31 de março de 2013

Portugal/TEMPOS INTERESSANTES



28 março 2013/Resistir.info http://www.resistir.info (Portugal) 
Os tempos que vivemos são interessantes para um economista. Isto é dito do mesmo modo como um médico poderia dizer que um tumor é algo "interessante". Os acontecimentos de Chipre ensinam lições. Em primeiro lugar deve-se assinalar o descalabro da Europa dos monopólios:   O confisco de depósitos bancários é algo mais próprio do Terceiro Mundo do que de um país da União Europeia. Terem eles chegado a medidas deste tipo mostra o desespero em que se encontra o capital monopolista e financeiro europeu. Em segundo lugar, deve-se verificar o fracasso dos seus planos. O endividamento é a forma moderna de submeter à servidão países como Chipre, Grécia, Portugal, etc. O objectivo é transformarem-nos em pasto do capital monopolista e financeiro para o saqueio (através de privatizações selvagens) e da extracção permanente de rendas. Isso fracassou porque não tiveram cash suficiente para cobrir a dívida cipriota. E agora surge a jogada de mestre russa, com a oferta da Gazprom de cobrir a dívida cipriota. Ela é digna dos melhores jogadores de xadrez. A UE queria reservar o saqueio de Chipre só para os monopólios da Europa ocidental – não para os russos. A oferta russa veio estragar-lhes os planos. Bruxelas terá de contorcer-se toda a fim de encontrar uma justificação para a recusa. E já vai dando instruções ao seu preposto local na presidência de Chipre para dizer que prefere uma "solução europeia". Aguardemos os próximos capítulos.

21/Mar: Os acontecimentos precipitam-se tão rapidamente que mal dá tempo de acompanhá-los. O congelamento dos depósitos bancários ("corralito", como dizem os argentinos) irá prolongar-se até 3a. feira próxima. O ministro das Finanças de Chipre está em Moscovo a negociar – e para lá segue, às pressas, o próprio presidente da Comissão Europeia, sr. Durão Barroso. A sua corrida para Moscovo dá ideia da importância que a UE concede à "ameaça" da oferta russa. Enquanto isso o BCE apresenta um "ultimatum" a Chipre. As pressões intensificam-se. A crise monetária e financeira transforma-se, aparentemente, numa luta por esferas de influência. O caso torna-se cada vez mais interessante (no sentido mencionado acima). Registe-se que o prestígio dos políticos cipriotas aumentou com o seu repúdio ao acordo da Troika. A comparar com o prestígio daqueles políticos portugueses, gregos, irlandeses, espanhóis e italianos que se submeteram e submetêm-se servilmente às imposições da UE, BCE e FMI.

23/Mar: O drama psico-monetário continua. Agora é Medvedev que ameaça despejar as reservas em euros do banco central da Rússia, subtituindo-as por dólares. Se o BC russo se desfizer de apenas metade das suas reservas de euros, isso significará a ruína da moeda única europeia. Um escritor de ficção não conseguiria imaginar uma estória com tanto suspense e tais desenvolvimentos. É assim que Chipre, cujo PIB representa 0,3% do PIB da UE, ameaça fazer ruir o castelo de cartas do sistema bancário europeu.

26/Mar: Os historiadores do futuro estabelecerão o dia 25 de Março de 2013 como a data do início do fim da União Europeia. O Memorando de Entendimento entre Chipre e o Eurogripo ainda não está escrito. No entanto, daquilo que já se sabe, pode-se ter a certeza de que terá no imediato um efeito devastador sobre a economia cipriota e a um prazo não tão imediato sobre o resto da Europa – a começar pelo seu sistema bancário. Com este "modelo" de intervenção foram abolidas, de uma penada, as veleidades de criar uma "união bancária europeia". Agora a regra é cada um por si – e nesse "cada um" incluem-se os depositantes dos bancos, que são responsabilizados pelos erros de má gestão ou desonestidade dos administradores dos mesmos. Se essa regra tivesse sido aplicada ao BPN português, o Estado não teria lá posto tantos milhares de milhões de euros, bastava ir aos depositantes com mais de 100 mil euros na sua conta. Outro aspecto bizarro é que aparentemente criaram-se dois tipos de euros na UE: um euro cipriota que já não pode ser exportado (devido aos controles de capitais) e o euro propriamente dito. Isto é uma paródia de moeda única europeia. É como se os euros que circulam no Algarve já não pudessem sair de lá...

28/Mar: Aos poucos começam vir à tona alguns aspectos dos bastidores da crise cipriota (v. artigo de Yéti). Contudo, ainda falta muito para se ter o panorama completo da destruição desse país e da destruição das regras que imperavam na UE. Ao mesmo tempo, surge a vítima seguinte da UE: a Eslovénia, cujas autoridades puseram um conselheiro do FMI à testa do seu banco central.

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