29 março 2013, Vermelho
http://www.vermelho.org.br (Brasil)
O tema das Malvinas já não é um conflito da Argentina, mas um conflito
regional. Cada um dos organismos que coordenaram junto ao chanceler Héctor
Timerman a apresentação desta semana diante de Ban Ki-moon, secretário geral
das Nações Unidas, tem sua própria matriz.
Por Martín Granovsky, no Página 12
O
Conselho de Estados da América Latina e do Caribe, representado pelo chanceler
cubano Bruno Rodríguez, é o único foro que reúne todos os países localizados ao
sul do Rio Bravo. Não estão os Estados Unidos e Canadá, situados ao norte, mas
aparece Cuba. Aparece a tal ponto, que neste momento ocupa a presidência pro
tempore do Celac. Uma referência atualizada do novo tabuleiro da América latina
foi o funeral de Hugo Chávez, que mostrou juntos o presidente de Cuba, Raúl
Castro, e o do Chile, Sebastião Piñera. Os dois polos ideológicos do Celac.
Surgida como ideia brasileira e relançada depois com impulso
argentino-brasileiro, a Unasul esteve representada frente a Ban Ki-moon por
José Beraúm Araníbar, o vice-chanceler do país que ocupa a presidência pro
tempore, o Peru. Sem questionar o México, a Unasul o colocou em seu lugar
natural, América do Norte. Também dentro da Unasul existem projetos diferentes,
coisa palpável vendo-se, por exemplo, a convivência do Equador de Rafael Correa
e da Colômbia de Juan Manuel Santos. Mas as vantagens da estabilidade
compartilhada e o aumento do comércio intrarregional acabam sendo, como costuma
sustentar o assessor de Néstor Kirchner, Rafael Follonier, uma ideologia que
surge dos objetivos práticos.
A exclusão do México da Unasul tem a ver com a geografia e em parte também com a história. Na Cúpula de Mar del Plata de 2005, que rejeitou todo o projeto de área de livre comércio das Américas, o México de Vicente Fox foi a peça de Washington para dobrar a oposição de cinco países: os do Mercosul (a Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) e a Venezuela.
A Venezuela acaba de ser incorporada ao Mercosul, representado nesta quarta-feira (27) na ONU pelo chanceler uruguaio, Luis Almagro; Mercosul, Unasul e Celac apoiaram a reivindicação argentina pelas Malvinas em sua dimensão regional.
A mensagem é que a ocupação britânica pode ser um problema também para a exploração da gigante Petrobras.
O investigador Fernando del Corro acaba de lembrar, no livro Malvinización y desmentirización, que “a partir de 1993 também foram iniciados os trabalhos para a obtenção de hidrocarbonetos”. Diz Del Corro que, segundo a Revista Geológica Britânica, a área explorável teria aproximadamente 350 km. E acrescenta: “Já mediante estudos sismológicos de 1995 se havia estimado a possibilidade de chegar a extrair 500 mil barris diários”.
Com a apresentação desta quarta (27) a Ban Ki-moon, a Argentina soma uma iniciativa multilateral à demonstração britânica de força do referendum pelo qual 99% dos habitantes das ilhas disseram que desejam permanecer dentro da bandeira britânica. Inclusive, se a Argentina considera que a consulta não tem relevância jurídica – como efetivamente o considera–, o fato existiu.
Contra cada fato, há outro. Diante de um fato britânico, um argentino e regional. Essa é a lógica da ação oficial enquanto ao mesmo tempo a presidenta Cristina Fernández de Kirchner procura instalar sua ideia de que Londres, capaz de negociar com a ditadura argentina, não pode se negar a tratar com uma democracia que está por completar 30 anos e não quer, nem pode, atacar as Malvinas. No meio, claro, esteve a guerra de 1982. Um conflito bélico e, sobretudo um conflito bélico perdido, não concede nem tira títulos jurídicos, mas faz retroceder o relógio umas quantas décadas, para dizer o mínimo.
Como não emerge no cenário uma negociação provável em curto e médio prazo, a Argentina se vê obrigada a reforçar sua política em dois níveis. Por um lado, as gestões com apoio multilateral para que se cumpra a resolução 2065 da ONU que define as Malvinas como uma questão colonial e exorta as partes a discutirem em uma mesa comum. Por outro lado, a alimentação permanente dos vínculos com os aliados regionais. Tal como sabem os leitores, o conflito de interesses com o Brasil pela suspensão indefinida do projeto de exploração de potássio Rio Colorado por parte da Vale é o pior dos últimos dez anos. E quanto ao Uruguai, a esposa do presidente José “Pepe” Mujica e senadora nacional, Lucía Topolanksy, disse na última sexta-feira (22) que as decisões protecionistas argentinas “nos prejudicam muito porque o Uruguai tem uma série de empresas cujo único destino é a Argentina”. Até os governos com maior afinidade com o argentino, como o Brasil e o Uruguai, sentem as queixas pela forma em que cada um administra o impacto da crise global.
Em política sul-americana as convicções existem, mas se a harmonia de interesses às vezes contraditórios lubrifica essas convicções, o resultado final pode ser mais eficaz.
A reunião com Ban Ki-moon é, por este motivo, simultaneamente um êxito e um desafio em terrenos diplomáticos que vão além do embate pelas ilhas.
Tradução: Liborio Júnior na Carta Maior
*Martín Granovsky é colunista do jornal argentino Pagina/12
A exclusão do México da Unasul tem a ver com a geografia e em parte também com a história. Na Cúpula de Mar del Plata de 2005, que rejeitou todo o projeto de área de livre comércio das Américas, o México de Vicente Fox foi a peça de Washington para dobrar a oposição de cinco países: os do Mercosul (a Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai) e a Venezuela.
A Venezuela acaba de ser incorporada ao Mercosul, representado nesta quarta-feira (27) na ONU pelo chanceler uruguaio, Luis Almagro; Mercosul, Unasul e Celac apoiaram a reivindicação argentina pelas Malvinas em sua dimensão regional.
A mensagem é que a ocupação britânica pode ser um problema também para a exploração da gigante Petrobras.
O investigador Fernando del Corro acaba de lembrar, no livro Malvinización y desmentirización, que “a partir de 1993 também foram iniciados os trabalhos para a obtenção de hidrocarbonetos”. Diz Del Corro que, segundo a Revista Geológica Britânica, a área explorável teria aproximadamente 350 km. E acrescenta: “Já mediante estudos sismológicos de 1995 se havia estimado a possibilidade de chegar a extrair 500 mil barris diários”.
Com a apresentação desta quarta (27) a Ban Ki-moon, a Argentina soma uma iniciativa multilateral à demonstração britânica de força do referendum pelo qual 99% dos habitantes das ilhas disseram que desejam permanecer dentro da bandeira britânica. Inclusive, se a Argentina considera que a consulta não tem relevância jurídica – como efetivamente o considera–, o fato existiu.
Contra cada fato, há outro. Diante de um fato britânico, um argentino e regional. Essa é a lógica da ação oficial enquanto ao mesmo tempo a presidenta Cristina Fernández de Kirchner procura instalar sua ideia de que Londres, capaz de negociar com a ditadura argentina, não pode se negar a tratar com uma democracia que está por completar 30 anos e não quer, nem pode, atacar as Malvinas. No meio, claro, esteve a guerra de 1982. Um conflito bélico e, sobretudo um conflito bélico perdido, não concede nem tira títulos jurídicos, mas faz retroceder o relógio umas quantas décadas, para dizer o mínimo.
Como não emerge no cenário uma negociação provável em curto e médio prazo, a Argentina se vê obrigada a reforçar sua política em dois níveis. Por um lado, as gestões com apoio multilateral para que se cumpra a resolução 2065 da ONU que define as Malvinas como uma questão colonial e exorta as partes a discutirem em uma mesa comum. Por outro lado, a alimentação permanente dos vínculos com os aliados regionais. Tal como sabem os leitores, o conflito de interesses com o Brasil pela suspensão indefinida do projeto de exploração de potássio Rio Colorado por parte da Vale é o pior dos últimos dez anos. E quanto ao Uruguai, a esposa do presidente José “Pepe” Mujica e senadora nacional, Lucía Topolanksy, disse na última sexta-feira (22) que as decisões protecionistas argentinas “nos prejudicam muito porque o Uruguai tem uma série de empresas cujo único destino é a Argentina”. Até os governos com maior afinidade com o argentino, como o Brasil e o Uruguai, sentem as queixas pela forma em que cada um administra o impacto da crise global.
Em política sul-americana as convicções existem, mas se a harmonia de interesses às vezes contraditórios lubrifica essas convicções, o resultado final pode ser mais eficaz.
A reunião com Ban Ki-moon é, por este motivo, simultaneamente um êxito e um desafio em terrenos diplomáticos que vão além do embate pelas ilhas.
Tradução: Liborio Júnior na Carta Maior
*Martín Granovsky é colunista do jornal argentino Pagina/12
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